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2.3 POLÍTICAS DE ATENÇÃO AO IDOSO

2.3.1 Assistência Domiciliar

A Assistência domiciliar é o atendimento prestado aos idosos com algum nível de dependência no seu domicílio, reforçando os vínculos familiares. É prestada por profissionais da rede pública ou privada (FLORIANI; SCHRAMM, 2004; DUARTE; DIOGO, 2005; BRASIL, 2006e; DIOGO, 2006; LEMOS e MEDEIROS, 2006) e faz parte da proposta do modelo previsto para a Estratégia de Saúde da Família e “potencializa o cuidado integral e humanizado” (CHAVES, 2004, p. 21).

A assistência domiciliar com enfoque gerontológico deve ter em vista a promoção da autonomia e independência da pessoa idosa, estimulando-a para o autocuidado, em especial daqueles mais fragilizados e mesmo os sem perspectiva terapêutica de cura, atendendo às suas necessidades, contribuindo para melhorar sua qualidade de vida (FLORIANI; SCHRAMM, 2004; DUARTE; DIOGO, 2005; BRASIL, 2006e; MINAS GERAIS, 2006).

A utilização do espaço domiciliar ocorre devido à necessidade de atender às demandas como a assistência individualizada, segurança e privacidade, redução das iatrogenias, maior controle da tomada de decisão, maior envolvimento da família e cliente com o planejamento e a execução do cuidado Por conseguinte, essas pessoas, familiares e idosos, deverão estar engajadas no cuidado de maneira ativa e participativa, garantindo a humanização da proposta e a integralidade da assistência (BRASIL, 2002; 2006b; 2006e).

Para Lemos e Medeiros (2006), o atendimento domiciliar não se propõe a prestar o cuidado contínuo ao idoso, mas em acompanhá-lo em seu domicílio, orientar seus familiares, avaliar a qualidade dos cuidados prestados, prescrever tratamentos e auxiliar na organização do ambiente em visitas programadas de acordo com as necessidades dos idosos e dos cuidadores informais.

Torna-se necessário, portanto, que a equipe organize seu processo de trabalho com sistematização da assistência, considerando a participação e permissão da família (DUARTE; DIOGO 2005; MINAS GERAIS, 2006).

Para Santos e Rifiotis (2003), no estudo com cuidadores familiares de idosos dementados, os profissionais devem identificar a dinâmica do cuidado familiar, incluindo os seus momentos de conflito, de disputa de poder, de frustrações pelas necessidades de mudanças em relação à dependência que o idoso poderá desenvolver. Portanto, deverão envolver o maior numero de familiares que fazem parte dessa rede de cuidadores. Para abordar a família como unidade do cuidado, Silva, Galera e Moreno (2007) sugerem a utilização de instrumentos que habilitem o profissional das ESF, como o modelo de avaliação e de intervenção fundamentado no modelo de Calgary, apresentado por Wright e Leahey (2002).

Integrando as propostas de sistematização do cuidado, Chaves (2004) defende o gerenciamento de casos como estratégia que permite otimizar o cuidado, reduzindo sua fragmentação, permitindo a melhora da qualidade de vida do idoso e, consequentemente, reduzindo as hospitalizações com utilização mais efetiva dos recursos disponíveis. Dessa forma, há um aumento da satisfação dos idosos, dos familiares e dos profissionais.

A rede privada facilita o acesso por telefone, sempre que necessário, para informações gerais, orientação específica e visitas domiciliares, evitando com isso o encaminhamento para a rede hospitalar (CHAVES, 2004; MENDES, 2007).

A equipe deverá estabelecer critérios de inclusão e de exclusão na assistência domiciliar e identificar os idosos que necessitam dessa modalidade de atenção. São elegíveis os pacientes com estabilidade clínica; que possuam uma rede de suporte social incluindo o cuidador; com ambiente apropriado; que seja avaliado pelos profissionais para determinação das demandas e tenha suporte financeiro (BRASIL, 2002; 2006e; FLORIANI; SCHRAMM, 2004; DUARTE; DIOGO, 2005).

No entanto, há uma parcela da população idosa que não possui uma rede de apoio informal, ou por disfuncionalidade familiar ou por morarem sozinhos e sem condição financeira para arcar com os custos de manutenção do cuidador da rede privada, portanto, não preenchem os requisitos de uma assistência domiciliar necessitando de outras modalidades de cuidado quando se encontram na condição de frágeis (SOMMERHALDER, 2001; FERREIRA, 2008).

No estudo SABE, emerge a questão do acesso dos idosos aos serviços de saúde, apontando que o SUS não é adaptado do ponto de vista da estrutura física (iluminação, corrimãos, rampas) e do ponto de vista dos recursos humanos, faltando capacitação dos profissionais para o atendimento direcionado às necessidades dos idosos, incluindo a assistência em seus domicílios. A assistência domiciliar foi considerada por Ferreira (2008) como relevante, devido ao comprometimento do acesso desses idosos aos serviços de saúde considerando o tempo gasto para chegar a uma unidade básica (mais de 30 minutos) e a falta de transporte relatada por 52,4% dos idosos com 80 anos e mais (PINHEIRO, 2006; FERREIRA, 2008).

A desproporção entre a população a ser cuidada e o número de profissionais, as barreiras arquitetônicas, a ausência de capacitação para as equipes, a pequena proporção de unidades com protocolos específicos e a baixa oferta de cuidados domiciliares representaram um conjunto de variáveis que contribuíram para a perda da efetividade do cuidado prescrito legalmente para a população idosa. O estudo realizado por Piccini et al. (2006), em municípios da região Sul e Nordeste, encontrou que há uma proporção de idosos com necessidade de cuidados domiciliares e pequena proporção de unidades com protocolos para a efetivação desse cuidado e proporção ainda menor daqueles que os oferecia, mesmo nas unidades de saúde da família.

Floriani e Schramm (2004, p. 7), na revisão bibliográfica que fizeram sobre o atendimento domiciliar, apresentaram questões ligadas à bioética que têm sido negligenciadas no atendimento domiciliar. Enfocaram os problemas inerentes a essa modalidade de assistência, destacando-se os aspectos relacionados ao cuidador e o seu perfil (mulher, idosa, com sobrecarga de trabalho), o abuso de poder que tem sido relatado, o comprometimento de sua saúde; o ônus da família e aumento da carga de cuidados; deslocamento precoce dos pacientes para o domicílio devido aos custos hospitalares; o risco de mudança de local de tratamento ao invés de mudança de filosofia. Apontam ainda a resistência médica para aderir à proposta, considerando “a baixa remuneração, a inconveniência quanto ao deslocamento e ao tempo demandado, a qualidade dos cuidados no domicílio, os aspectos legais relacionados a determinados procedimentos médicos no domicílio e a perda do poder e de controle”. Apresentam também a necessidade de qualificação profissional para aperfeiçoamento desse modelo de atenção.

Portanto, a rede de apoio formal, garantida pela legislação, e responsabilidade do Estado, tem prestado assistência com precariedade, não garantindo acesso nem qualidade na assistência aos idosos que dela necessitam (FERREIRA, 2008).

Os trabalhos de Nitschke (1999); Wright e Leahey (2002); Santos e Rifiotis (2003); Elsen, Marcon e Silva (2004) apresentam propostas, que sendo reconhecidas pelos profissionais de saúde, irão contribuir significativamente para o conhecimento das famílias da área de abrangência da USF e confirmam a idéia de que o contexto familiar apresenta-se ainda como o local do cuidado para todos os estágios de desenvolvimento humano, incluindo a velhice.

Considerando o exposto e o contexto demográfico que o país já apresenta, pleiteia-se o desenvolvimento do cuidado domiciliar para aqueles que dele necessitam e de crescente investimento na competência profissional, permitindo desta forma que a ESF dê conta de responder às demandas de significativo contingente, tanto de idosos com potencial para o desenvolvimento de fragilidade quanto de seus cuidadores familiares.

3 MATERIAL E MÉTODOS

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