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5 DISCUSSÃO

5.1 EXPERIÊNCIAS NO CUIDADO DOMICILIAR

Os sujeitos da pesquisa delimitaram seu papel de cuidadores formais com as ações específicas de assistência, de orientações, de apoio e de ser referência para esses idosos e seus familiares no cuidado domiciliar. Apontando sua experiência nesse cuidado, observa-se o sentido que os profissionais dão à necessidade de educação dos familiares. Referem-se às orientações em relação às suas necessidades básicas e de tratamento não especificando o idoso, pois o mesmo tratamento é dado aos pacientes de outra faixa etária que também necessitem do cuidado domiciliar conforme apontado pelos profissionais:

[...] então nós temos que chamar a pessoa orientada, uma pessoa que tem leitura pra ta administrando os medicamentos, pra dar o medicamento certinho para os pacientes e pra fazer o curativo (E 6)

[...] a gente tenta enfocar mais em relação aos cuidados específicos aos acamados mesmo, o colchão, virar a posição, alimentação, às vezes é o próprio cuidado do ambiente, a gente percebe que o ambiente não está adequado, que não está ventilado e que não ta higiênico (M 44)

[...] Orientações necessárias pra ta combatendo e resolvendo ali o problema, a ação de doença dele [...] dá um banho, afere a pressão, um curativo, e como ta fazendo a alimentação adequada para aquele paciente, tudo isso a gente orienta (AE 56)

O cuidado domiciliar significa mais que orientar sobre higiene, alimentação, realização de atividades ocupacionais e de lazer ou então sobre o uso de medicamentos. Implica em compreender o contexto social, econômico e cultural dessas famílias, que envolve as modificações desses hábitos e seus significados perante a dinâmica familiar. Lembrando Boff (2001), cuidar é se comprometer com o outro, se responsabilizar.

Os idosos frágeis apresentam necessidades que abrangem os aspectos físicos e funcionais, psicossociais, econômicos, ambientais, além de tratamento e reabilitação, conforme já apontado na proposta de abordagem multidimensional na clínica geriátrica e gerontológica (LOURENÇO, 2006; TELLES, 2006).

Destarte, os idosos frágeis e seus cuidadores familiares que estão incluídos no cuidado domiciliar, necessitam de ações específicas dos profissionais, além da ajuda material e instrumental normalmente fornecida pela sua rede de apoio social informal. Para a efetividade

do apoio formal, o plano de cuidados deverá atender às necessidades da pessoa idosa e garantir o atendimento integral, incluindo desta forma, a reabilitação, com acompanhamento sistemático até a sua alta.

No estudo atual, a reabilitação teve um baixo peso nas experiências relatadas pelos profissionais. Segundo o estudo realizado no projeto Bambuí, MG, as cuidadoras confirmam que sentem esta necessidade quando se queixaram de que não tiveram acesso à reabilitação pelo serviço público (GIACOMIN; USHOA; LIMA-COSTA, 2005).

Destaca-se que os profissionais apontaram a eventualidade do cuidado domiciliar, conforme os discursos apresentados:

[...] acaba que em uma semana visita um, em outra visita outro (M 33)

[...] ás vezes eu passo três, quatro quartas-feiras sem ver ninguém sabendo que existe (M 39)

A eventualidade do cuidado implica em baixa densidade do vínculo, que é um componente essencial na ESF e, por conseguinte, compromete o princípio da integralidade. Esses dois conceitos podem ser vistos na organização do serviço e na renovação das práticas que valorizam o cuidado e que consideram o usuário, aqui representado pela pessoa do idoso, como sujeito a ser atendido e respeitado em suas demandas e necessidades (GOMES; PINHEIRO, 2005).

Esta questão foi abordada por Chaves (2004) e Sommerhalder (2001) na percepção dos cuidadores familiares sobre o apoio formal. Na pesquisa realizada pelas autoras, os cuidadores familiares demonstraram o desejo de receber o apoio formal de maneira contínua e sistemática e não eventualmente como ocorreu.

Nas experiências vivenciadas nessa modalidade do cuidado, destaca-se a relação feita pelos profissionais quanto ao grau de dependência do idoso e a necessidade do cuidado domiciliar. Esse cuidado está direcionado aos idosos com mobilidade física comprometida, que não conseguem comparecer à Unidade, estando comumente acamados conforme apontado por eles:

[...] o primeiro contato que a gente teve foi com os idosos acamados, a nossa preocupação era visitar esses idosos acamados, até com o pedido da família mesmo (E 1)

Os cuidados que a gente tem primeiro, pra gente... quando vai saber se a pessoa precisa de visita, a gente vai faz a triagem, se for acamado a gente vai e olha, leva a enfermeira, a enfermeira passa os cuidados que a gente deve ter, quando é curativo [...] (TE 60)

[...] Os idosos que são acamados, dependentes dos familiares, esses a gente tem uma atenção maior com eles fazendo uma visita mais regular, e ao passo que os demais a gente faz a cada seis meses a visita, esses acamados de dois meses a três meses no máximo a gente está realizando a visita pra ele e verificando como é que está a situação de saúde de cada um deles (M 40)

Para a inclusão do usuário na modalidade de assistência domiciliar, este deverá apresentar grau de dependência para a realização das AVD, necessitando de apoio para quase todas e ainda caminhar com muita dificuldade, ajudado por pelo menos uma pessoa (BRASIL, 2006e; 2007; MINAS GERAIS, 2006). O critério se justifica, permitindo a organização do cuidado para aqueles que necessitam. No entanto, os usuários desta região metropolitana se apresentam numa condição de acamados quando recebem o cuidado domiciliar, portanto, num grau de dependência mais avançado.

Considerando as especificidades dos idosos que apresentam sinais e sintomas de fragilidade, pode-se inferir que a assistência domiciliar tem ocorrido de forma tardia, pois quando se considera a perda da independência para a realização das ações, o grau de comprometimento desses idosos pode já estar adiantado (ROCKWOOD et al., 2005; LOURENÇO, 2006).

Com o avançar da idade, as pessoas mais idosas diminuem os vínculos sociais e tendem à restrição ao domicílio, estando dependentes da equipe para as ações de promoção da saúde e prevenção dos agravos, com detecção precoce de alterações para que as intervenções também sejam precoces. As pessoas idosas frágeis que mais se beneficiam dessas intervenções são as que ainda não são dependentes ou as que apresentam dependência inicial e estão em risco de progredir (FERRUCCI et al., 2004).

Na organização do trabalho da equipe percebe-se o acompanhamento para controle das patologias crônico-degenerativas e para o tratamento de doenças agudas, ficando evidente nos discursos apresentados:

[...].dependendo da doença que ele tem, por exemplo, se tiver um câncer, um diabetes, a gente conversa, orienta, direcionado pra patologia (E 24)

[...] o idoso hoje a gente vê ele mais no contexto da doença mesmo, quando ele vem e procura a gente com um motivo de doença (M 30)

[...] porque o médico, também faz a visita domiciliar dele para o paciente em si, mas não especificamente porque ele é idoso, muitas vezes por causa da doença, não vou visitar o Fulano porque ele é idoso não, é por que tem a doença [...] atendemos ele de acordo com o que ele tem, então nós vamos a domicílio, atendemos, fazemos a triagem, anamnese, tudo escrito e tem que ser lançado no prontuário eletrônico, arquivado (E 6)

Desta forma, os discursos identificam uma incoerência na percepção dos sujeitos em relação à proposta da estratégia de saúde da família. Da maneira como apresentam sua experiência, constata-se semelhança com o modelo assistencial das UBS tradicionais, centrado na doença e na intervenção médica (PINHEIRO, 2006).

Trazendo o raciocínio da gerontologia e geriatria e as recomendações previstas na Política de Assistência ao Idoso, o modelo do cuidado está pautado na avaliação da funcionalidade, considerando a capacidade de autocuidado, a saúde física e mental, as condições socioeconômicas e ainda o seu suporte social. Portanto, para garantir a autonomia e independência do idoso, a abordagem de consenso é que deverá ser ampla e o foco não seja somente na doença, mas sim na visão integral da pessoa idosa, tendo a estratégia de saúde da família ou a UBS como porta de entrada no SUS (BRASIL, 2006b; TELLES, 2006; MOTTA; AGUIAR, 2007; VERAS et al., 2007).

O apoio ao cuidador como unidade de significação é exemplificado nas seguintes falas:

[...] cuidar desse cuidador, de dar apoio pra que ele tenha capacidade de cuidar de forma humana sendo apoiado pelos profissionais de saúde naquilo que necessitarem (E 4)

[...] dificuldade de informação do cuidador, então a gente passa mais, o que a gente pode fazer o melhor possível passando essas informações, porque ele vai ficar mais tempo ali (TE 68)

Conforme referenciado pelos profissionais, o apoio aos cuidadores constitui-se numa ação desenvolvida para dar suporte aos familiares que cuidam, sendo necessário do ponto de vista material, emocional e de informações.

No aspecto material inclui recursos financeiros, como os estabelecidos pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) (BRASIL, 1993). Há também questões ligadas à moradia, transporte para os serviços especializados e acesso aos serviços de saúde. As informações que necessitam se referem a como realizar os cuidados, incluindo a adaptação do ambiente ao idoso. O suporte emocional permitirá desenvolver uma rede de cuidados que ligue a família aos serviços de apoio e meios que garantam qualidade de vida aos cuidadores que assumem mais diretamente este papel (CALDAS, 2003).

Resgatando o que foi apresentado pelos profissionais na experiência do cuidado domiciliar, constatou-se que o maior enfoque é na ação educativa, principalmente aos cuidadores, e esse cuidado ocorrendo eventualmente e direcionado para aqueles que apresentam um grau de dependência avançado. O foco está no acompanhamento das patologias agudas ou crônicas, apresentadas pelos idosos e não houve relato de ações de promoção da saúde para o núcleo familiar e nem de prevenção da dependência, que é um dos componentes da síndrome de fragilidade. A independência e a manutenção da autonomia é reconhecida como um bem na velhice que necessita ser enfatizada pelos profissionais, no cuidado domiciliar.

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