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RESISTÊNCIA NA COMUNIDADE ESTUDADA

6.1.6 Assistência Técnica (ATER Agroecologia)

Ainda em relação à produção, onze mulheres e dezesseis homens do Engenho Barra do Dia participam da chamada da ATER-AGROECOLOGIA38 promovida pelo MDA, através do Centro Sabiá em parceria com a CPT, desde 2014. No tocante à participação, foi dada prioridade as comunidades da Mata Sul que a CPT acompanhava. O processo de cadastro dos

3 8 Assistência Técnica e Extensão Rural, contratada via Chamada Pública do MDA, para

desenvolvimento de transição agroecológica a agricultores familiares, bem como para promover sua organização. Disponível para consulta em: http://www.mda.gov.br/sitemda/sabia-ga

mesmos e os que se interessavam eram cadastrados para serem assistidos pela ATER, posterior a isto foram realizadas reuniões junto a Secretária de Agricultura de Palmares e o sindicato para que ficassem cientes da chamada e da participação das comunidades envolvidas.

Nos dois primeiros anos da chamada (2014 – 2015) os beneficiários foram cadastrados e nos anos decorrentes foram iniciadas as visitas iniciais para compreender as demandas dos participantes e traçar o que iria ser feito nos dois anos decorrentes para a transição agroecológica dos participantes. No entanto, a assistência não aconteceu em 2016 por conta do corte de verbas para agricultura familiar decorrente da conjuntura política pós golpe e com a extinção do MDA, só retomando as atividades no início de 2017. Atualmente os assistidos pela chamada participam de algumas oficinas, tem cursos de beneficiamento, visitas individuais nas propriedades e participam de intercâmbios entre comunidades que já praticam a agroecologia.

O processo de transição, a partir da ruptura com o modelo proposto pelo capital, de monocultivo, dependência e utilização de insumos químicos, desrespeito ao meio ambiente, dá-se de maneira gradual, contínua e não-linear a partir da mudança nas formas de manejo dos agroecossistemas. De forma geral apresenta a passagem do atual padrão de desenvolvimento rural convencional, para modelos de agricultura e de manejo rural que privilegiam e incorporam princípios, métodos e tecnologias de base ecológica. (COSTABEBER, 2006)

“A medida que a gente vai fazendo as atividades, os intercâmbios, ao menos no discurso dessas pessoas a gente já observa a transição acontecer. Muitos ficam interessados em novas formas de manejo, em formas de controle de praga não agressivas… Na prática também já dá pra ver algumas mudanças deles. Alguns já fazia agroecologia sem saber que era agroecologia. Já era prática deles mesmos. ” Marilene, Técnica Agrícola que acompanha a comunidade atualmente

“Como você sabe tem que ter variedade de lavoura, depois que eu participei de algumas reuniões.. é´melhor plantar outra coisa e vender na feira.” M.J.

Mesmo participando da chamada uma das reclamações recorrentes entre os agricultores é referente a insuficiência do suporte dado pela assistência técnica, visto que na chamada há apenas uma técnica atuando na comunidade e esta mesma técnica presta assistência a outras comunidades do entorno que também participam da chamada.

desenvolvida. Tem uma pessoa só, entrou direto assistência técnica, mas nem chega indo no sítio por que é distante.” J.F.

“O cará eu perdi, ficou ruim. Pra trabalhar assim tem que ter assistência técnica pra fazer uma análise de solo. Tem assistência técnica aqui, mas a menina é sozinha pra o povo todinho, ai ainda não chegou na minha parcela não. Tem que ver o que a terra precisa, o que precisa botar...” C.C.

“Eu tenho visto por aí andando mais o povo da técnica como os agricultores por aí trabalha. É umas mata bonita, umas coisa diversa, tudo de um jeito mais simples. Aqui mesmo eu tenho vontade de fazer uma sementeira. Tô pra dizer na reunião da associação. Eu vi numa comunidade que tinha sementeira. Era maravilhoso demais. O povo lá tudo ajudava a encher a sementeira e quando precisava pegava, como se faz num banco, sabe? Depois devolvia e assim ia. Queria também fazer um adubo, aqui em Barra do Dia tem muito espaço que dava pra fazer um negócio de adubo, de estrume. Mas precisa chegar mais técnica. Toda vez que chega é só um aí, vê o engenho, mais de 20 pessoas, é muito trabalho pra uma pessoa só acompanhar de perto.” M.R.

Este relato narrado acima, nos lembra a frase usada pelo Movimiento Campesino a Campesino promovido pela Asssociação Nacional de Agricultures Pequenos (ANAP) em Cuba, que diz: “cuando el campesino ve, hace fe”. O movimento foca na facilitação de práticas e troca de experiências diretas entre agricultores, fomentando a transição ou revolução agroecológica. (HOLT-GIMÉNEZ, 2008). Segundo Machado e Machado Filho (2014) a agroecologia é [...] um método, um processo de produção agrícola – animal e vegetal – que resgata os saberes que a revolução verde destruiu ou escondeu, incorporando-lhe os extraordinários progressos científicos e tecnológicos dos últimos 50 anos, configurando um corpo de doutrina que viabiliza a produção de alimentos e produtos limpos, sem venenos, tanto de origem vegetal como animal, e, o que é fundamental, básico, indispensável, em qualquer escala. É pois, uma tecnologia capaz de confrontar o agronegócio, em qualquer escala .

A assistência técnica de caráter agroecológico direcionada aos agricultores e agricultoras acaba também aparecendo como mecanismo de resistência, pois ajuda na promoção de um desenvolvimento rural de base camponesa. O trabalho da ATER é crucial para o melhoramento da produção, para o fortalecimento dos vínculos entre os agricultores e agricultoras e suas redes de comercialização, além da “construção e sistematização de conhecimentos que os leve a incidir conscientemente sobre a realidade, com o objeto de alcançar um modelo de desenvolvimento socialmente equitativo e ambientalmente sustentável.” (CAPORAL, 2005)

oferece suporte a reprodução do modo de vida camponês em detrimento ao modelo de acumulação característico do capitalismo.