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RESISTÊNCIA NA COMUNIDADE ESTUDADA

6.1.10 Residência Agrária: Educomunicação e Agroecologia

Dada a necessidade da CPT em oferecer uma educação mais contextualizada para os jovens do campo, a partir de uma chamada do MDA/Incra junto ao CNPq e em parceria com o LEPEC/UFPE foi iniciado em 2014 o Residência Agrária com jovens 46 jovens entre 15 e 29 de comunidade camponesas, assentados e quilombolas de Pernambuco, sendo oferecidas bolsas de estudo de R$ 400,00 para os estudantes que haviam concluído o Ensino Médio e de R$ 250,00 para os estudantes que ainda estavam na escola.

contemplar a maior diversidade do campo, através de comunidades que estavam em conflito na Zona da Mata, Agreste e Sertão do estado. As atividades eram pensadas de maneira a integrar as realidades vivenciadas por estes jovens em seus contextos e, a partir da interação, fomentar o engajamento político destes. A metodologia pensada consistia em encontros mensais, chamados de Tempo-Comunidade (foto 16), e bimestrais chamados de Tempo- Escola realizados em pontos estratégicos onde fosse possível reunir jovens de comunidades mais próximas. Além destes encontros, também eram realizados os “Encontrões da Juventude Camponesa” que aconteciam em uma comunidade e todos/as residentes participavam.

Ao conhecerem realidades parecidas com a que vivenciavam na comunidade a juventude de Barra do Dia, passou a compreender o sentido político do grupo jovem e a importância de sua atuação na comunidade. É notório nas falas a importância da participação no projeto e como isso alterou a percepção destes jovens em relação ao conflito que viviam e a realidade no campo. Ao serem perguntados sobre o residência, as falas deixam clara a importância do projeto para a comunidade.

“Muitos mudaram sua cabeça depois do residência. Começaram a entender que o conflito também dizia respeito a eles, era a luta deles pelo que era seu, por autonomia. A gente aprendeu várias formas de resistência e aprendeu que o lugar da gente é no campo, que no campo não é lugar de jovem ter medo de tá. É querer tá (…) antes, a ideia do jovem quando terminasse os estudo era sair da comunidade, arrumar um emprego fora e não viver da agricultura por eles achavam que não tinha futuro, que não dava pra sobreviver.” E.M.S. 18 anos

“O residência não só mudou minha cabeça, como me ensinou a ser responsável e a fazer coisas que eu não pensava que pudesse fazer. Como coordenar um grupo. Eu achei que não tinha essa autonomia de fazer. Me envolvi nas coisas da comunidade.” E.M. 25 anos

“Oa, sendo sincero, no começo eu não tava nem aí. Só ia por que tinha o pessoal diferente, por que era novidade. Não prestava atenção em nada. Ai com o tempo, os professores foram conversando, o pessoal dos outros canto foi contando o que viviam lá e a gente começou a achar tudo parecido e se interessar. Aí comecei a ler mais, a falar nos encontros… mudei demais minha cabeça.” E.S.

“Mudou muito minha cabeça. Antes do residência eu queria sair daqui. Eu pensava

que o engenho não tinha futuro não. Eu queria ir pra Caruaru, minha família

trabalha lá em fabrico, na indústria. Eu não gostava de roça não. Meu pai plantava as coisa… banana, macaxeira e eu ia ajudar por que era obrigado. Agora eu quero

ficar aqui. Nasci aqui e quero morrer aqui. Agora meu pai ficou doente, eu assumi

comunidade, não entendia nada de conflito (…) mas a partir do residência eu comecei a entender o que é conflito, saber como a comunidade funcionava e passei a entender qual era minha função aqui na comunidade. Entendi que devia me envolver mais com a comunidade, me envolver na luta, fazer com que nossa luta fosse vista e reconhecida.” E.M.

“Eu achei bom participar. Mudou e muito minha cabeça. Por exemplo: Terra é

mercadoria ou não?! Pra gente não. Essa visão eu não tinha antes, a gente

começou a ver a terra de outro jeito, a vida da gente aqui de outro jeito. Oxe, antes eu queria ficar aqui não! Hoje eu quero ficar aqui. E incentivei também meus irmãos a ir plantar. Meus quatro irmãos vão também. Agora aqui eu quero encher a parcela

todinha.” E.F. 19 anos

Foto 16 – Tempo-Comunidade realizado em Barra do Dia

Fonte: Anamari

a Medeiros

, 2016.

A fim de que os jovens da comunidade continuem atuando na mesma, a CPT também tem incentivado a participação de alguns jovens da comunidade a participarem do curso Técnico em Agroecologia no SERTA.38 “É um curso que tá complementando o residência, vai ajudar a gente a melhorar nossas parcelas e ajudar os demais moradores nas parcelas deles”. E.M.

3 8 Serviço de Tecnologia Alternativa - oferece ensino formal e informal com agricultores/as, jovens, mulheres, crianças e adolescentes a fim de dar subsídios para a manutenção dos sujeitos no campo. Mais informações em: http://www.serta.org.br

Após a participação no Residência Agrária surgiu como motivação a implementação de uma horta comunitária da juventude, a fim de que os produtos fossem comercializados na feira da economia solidária. No início da mobilização, 21 jovens demonstraram interesse. A associação doou um pedaço de terra da área comunitária e os jovens começaram a preparar o terreno para plantar hortaliças, porém a prefeitura demorou a entregar as sementes e o material necessário para iniciar o plantio e o grupo foi desmobilizado.

“Quando eu comecei a trabalhar na horta jovem, eu virei coordenador. A gente tenta. Agora só tem 10 jovens participando, assim, que disse que tá, né? Mas o pessoal se desmotivou. Não quer participar. A gente plantou coentro lá. Limpou todo mundo e plantou coentro. Aí quem tá indo mais é eu, ela e mais dois.” E.S. 21 anos

Atualmente somente 4 jovens têm tentado dar continuidade a horta (foto 17) com produção de coentro, visto que a Secretária de Agricultura demonstrou interesse em incluir a produção para o PNAE, no entanto, com o período de chuvas fortes a produção teve a quantidade e qualidade comprometidas.

Fonte: Anamaria Medeiros, 2016.

No período em que o residência agrária ainda não havia sindo encerrado o grupo jovem, como era mobilizado nos encontros, estava mais atuante. Se reuniam mensalmente e realizavam atividades de melhoria na comunidade, buscaram documentar a história de Barra do Dia através dos relatos dos moradores mais antigos, participavam mais ativamente das reuniões com os moradores e promoviam atividades que ajudassem na permanência dos jovens na comunidade.

É importante salientar a importância da atuação da juventude na comunidade, pois a partir da sua organização e ações diretas, vão se legitimando enquanto sujeito político na construção e na defesa do território em que vivem, tornam visíveis suas demandas e começam a construir estratégias de enfrentamento ao êxodo rural, antes visto quase que como um determinismo. “A juventude vem se autoafirmando como sujeito político no processo de construção do projeto contra-hegemônico em defesa do território camponês.” (CASTRO, 2009).

bom. Tô ajudando meu pai lá na parcela. Tô plantando verdura, roça… Vai começar a vender agora. Esse mês agora eu ia embora pra Santa Catarina, por que eu fui em 2014, voltei pra cá, já tava certo de voltar pra lá trabalhar na empresa de peixe por que meu irmão tá lá, ai foi quando começou o residência e eu não quero mais ir.

Quero ficar aqui.” E.S. 21 anos.