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Capítulo 1 A Históri a do “Partido Operário Comunista” (POC)

1. Organização Interna

1.1. Secretariados Regionais

1.2.2. Assistente de célula

responsabilidade, mas depois de faltar a três pontos seguidos, perdi-o, não sendo possível recuperá-lo até hoje. Isso trouxe várias consequências: não recebimento de documentos e o não envio de dinheiro para o partido. A impossibilidade de mantermos contato com outras células e a impossibilidade de termos acesso ao setor de imprensa. Em conseqüência do descrito a vida na célula é bastante prejudicada – praticamente não existe como integrante de um partido marxista-leninista.105

Sensação de asfixia. Esta á a imagem que este pungente relato transmite. A eficiência da repressão que, ao cortar os laços orgânicos entre os membros, extinguia lentamente o organismo partidário.

1.2.2. Assistente de célula

O Assistente de Célula era o membro do Setor Interno que fazia a ligação entre a Direção Estadual e as células. Era uma comunicação em mão dupla, coletando informações da rotina das células e levando-as para a direção, e no sentido inverso, municiando-as de documentos e materiais do partido. Tinha a responsabilidade pelo envio de material político das suas células para a Secretaria Regional até o dia primeiro de cada mês. Esse material compreendia, além de informes sobre as condições políticas locais, recortes de jornais da região que eram utilizados pela Secretaria Regional e pela Direção Nacional para a elaboração, respectivamente, do “Caderno Regional de Debates”, e do “Informativo Nacional”, podendo inclusive subsidiar com informações o jornal “Política Operária”.

O “Caderno Regional de Debates” era o boletim regional informando às células as decisões da Secretaria local. Também propunha temas para debates e redefinia táticas políticas. Eventualmente, poderia ser utilizado por militantes de base para registrar suas experiências ou criticar a linha do partido. Percebe-

se que as Secretarias Estaduais procuravam observar uma periodicidade mensal, só escasseando as edições no decorrer de 1971, certamente, devido à repressão política. O “Informativo Nacional”, emitido pela direção nacional, tinha as mesmas funções do “Caderno Regional”. Ambos eram entregues às células pelo seu Assistente.

1.2.3. Organizações Para-Partidárias (OPP’s)

Apoiando as células, o planejamento estratégico do POC previa a construção de uma a rede de “Organizações Para-Partidárias”, chamadas de “OPPs”. Estas organizações, no sentido estrito, jamais chegaram a ser criadas e as funções de apoio às células eram feitas pelos simpatizantes do partido, que rapidamente herdaram a denominação de “OPPs”. Estes importantes colaboradores eram recrutados, dentre os simpatizantes mais assíduos, sendo, inclusive, estágio obrigatório para o ingresso na militância propriamente dita. As OPP‟s eram de vital importância para o partido, apoiando-o nas rotinas operacionais. Eram, pois, pessoas que tinham condições de oferecer algum tipo de auxílio, como a guarda de objetos e documentos, contribuições financeiras, hospedagem de militantes e até mesmo refeições para os clandestinos. Recebiam, pois, das Secretarias Regionais, tarefas que não exigiam contatos políticos prévios ou mais aprofundados, mas diretamente relacionadas à execução de ações do partido. Por essa razão, podemos situá- los em um estágio intermediário entre o simpatizante e o militante.

Foi possível depreender pelos depoimentos dos militantes do POC, e nos documentos internos, a extrema importância dessa teia de auxiliares diretos no atendimento às necessidades imediatas. Deles dependiam todo o trabalho dos

militantes. Otacílio Cecchini, por exemplo, quando estudante de Filosofia na USP em 1968, deixou de ser “simples” simpatizante do partido para tornar-se importante OPP. Suas tarefas consistiam, primeiramente, no apoio ao Setor Estudantil, integrando, conforme suas palavras, “uma rede de auxílio, por exemplo, para o Congresso de Ibiúna, suporte, auxílio.” Em 1969 foi deslocado para Osasco, com o propósito de colaborar com as células operárias do município na formação teórica dos operários.106

Sinclair Cecchini, irmão de Otacílio, por sua vez, informou que, no seu caso, o processo de passagem de OPP para militante deva ter durado uns três meses. Esta passagem coincidiu, no segundo semestre de 1968, com a composição de uma célula do POC no curso de Geografia da USP.107

Todo quadro do partido tinha, necessariamente, que passar por esse processo de formação política que consistia no curso preparatório, o “Formação Básica” e na atuação como OPP. Contudo, não necessariamente um OPP se tornaria quadro, pois, não havia interesse da direção de “inflar” o partido com quadros além do necessário para a vida das células, E, por outro lado, os opps eram extremamente úteis ao partido, sem terem maiores conhecimentos acerca das suas rotinas. Citemos novamente o caso de Otacílio Cecchini, OPP do partido desde 1969 e assim se manteve propositalmente, pois, era professor de História em cursinho e madureza em Osasco e, com essa atividade profissional, não-clandestina, mantinha contatos com operários da região. Conforme suas próprias palavras,

106 Depoimento ao autor em 19/3/2015. 107 Depoimento ao autor em 20/3/2015.

Eu sei que fiquei só com esse tipo, que era suficiente para o partido, porque ele precisava muito desse tipo de apoio nesse período de 68-69. Chega o AI-5 e esse tipo de apoio era muito importante.108

Além dos OPPs, o POC contava com importante rede de simpatizantes, composta, sobretudo, por pessoas de alguma forma ligadas ao ambiente universitário. Isso permitia que o partido não tivesse a necessidade de alugar muitos imóveis que lhe servissem de aparelhos, uma vez que os simpatizantes cediam suas residências para as reuniões do partido e abrigavam os militantes clandestinos e deslocados. Leane Ferreira de Almeida, por exemplo, nos contou que, nos onze meses que ficou em São Paulo após seu deslocamento de Porto Alegre, foi abrigada em 15 casas diferentes. Diante desse dado, não nos surpreende o número de indiciados nos processos do BNM sob a acusação de “homiziar subversivos”.109