• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 Setor Operário: em busca da revolução

6. Considerações Finais

Desde sua fundação o partido procurava dirigir sua atuação junto ao operariado da forma mais adequada possível em relação à conjuntura política nacional. Deste modo, ele objetivava, não apenas a distribuição racional dos “recursos humanos do partido”, mas a efetiva liderança do movimento. Igualmente, esforçava-se, para não incorrer em dois “desvios”: no ativismo – prática empírica sem planejamento prévio –, e no economicismo, isto é, limitar- se às lutas por questões mais imediatas.

Até julho de 1968, mesmo recém-fundado, o partido tentou de tirar proveito das lutas contra o arrocho promovidas pelo movimento operário de forma geral. Após as greves de julho, a luta transmutou-se para o plano político, focalizando sobretudo a denúncia junto à classe do sindicalismo oficial e as arbitrariedades do regime. E, ao mesmo tempo, o POC trabalhou na idéia de organização de uma greve geral em novembro contra o arrocho salarial. Contudo, 1968 foi encarado como um ano de testes para o partido, no sentido de se tornar uma organização de combate da classe operária. No momento da sua fundação, o partido tinha alguns poucos militantes atuando junto ao operariado e, destes, a maioria provinha do setor estudantil, quer dizer, sem maior capacidade de penetração na classe. Por essa razão, o rápido ascenso do movimento operário verificado nos meses iniciais deste ano, encontrou o POC sem a estrutura necessária para tirar maior proveito. Por isso, apesar do esforço em fazer valer suas palavras de ordem para o Setor “formar

comitês de fábrica” e “organizar a greve geral”, elas não tiverem eco junto aos trabalhadores.

Após o AI-5, no decorrer de 1969, consolidou-se a retração dos movimentos de massa. A partir desta nova realidade, o partido deslocou a militância operária para o trabalho nos bairros e na tentativa de recuperação dos comitês de fábrica, sempre de forma muito clandestina. E, simultaneamente, passou a realizar também as chamadas “Ações Exemplares”. Estas, por sua vez, tinham por objetivo o enfretamento da repressão, através de ações de agitação e propaganda, para manter o ânimo do operariado elevado, e que deveriam acontecer em vários pontos da cidade, sempre em locais de concentração operária. Essas ações, efetivamente, não ocorreram, tendo se limitado a panfletagens em porta de fábricas. Ao mesmo tempo, a Direção Nacional insistia para que os militantes não fizessem agitações dentro das fábricas devido ao clima de temor e dos delatores.

Também em 1969 o POC tentou ampliar sua área de atuação, procurando inserir-se nas regiões operárias onda não mantinha células. Para isso, procurou estabelecer contatos com lideranças operárias novas e também as antigas, não-pelegas. Algumas vezes esse trabalho foi feito em aliança com outras organizações da esquerda.

Daniel Aarão Reis Filho detectou na historiografia três hipóteses sobre os “desencontros entre os comunistas e a realidade social. Primeiro, a debilidade política das organizações não conseguiam fixar-se no operariado. Segundo, a indigência teóricas, o que levava as organizações a avaliarem mal a conjuntura social e econômica do país, e daí, a tomar decisões políticas equivocadas. Por fim, em terceiro lugar, as organizações sofriam de um vício

de origem, ou seja, a influência da pequena burguesia, e, por isso, não compreendiam a realidade com os olhos do trabalhador.242 Em resumo, as

causas do “desencontro” com a revolução se localizavam no interior das próprias organizações comunistas, e não na dinâmica da sociedade.

Em outra obra, seguindo as pistas desta nova linha pesquisa, Daniel Aarão iria considerar que o próprio regime seria responsável por uma “gama diferenciada de atitudes que contribuíram para a estabilidade do governo.” E, dentre essas atitudes, ele identificou desde “a simpatia não entusiasta, a neutralidade benévola, a indiferença, ou, no limite, a sensação de absoluta impotência.”243

Concretamente, ele considerou que a série de programas sociais implementada pelos governos militares, a exemplo do PIS, do PASEP, o Projeto Rondon, o Funrural, “podem ter contribuído para a neutralização de oposições.”244 E, ao mesmo tempo, houve também um expressivo crescimento

do número de sindicatos, tanto urbanos quanto rurais, entre 1968 e 1978: dos primeiros, de 2016 para 4009, equivalendo a 65%; dos rurais, de 625 para 1669, representando 200%. Isto poderia servir, em estudos mais pormenorizados, de que a classe trabalhadora não estava desmobilizada, ela somente não respondia ao chamamento da esquerda comunista.245

No entanto, o que se verifica numa visão panorâmica da esquerda comunista no período, era a canalização das suas energias para e sedutora teoria do “foco”. E, na busca desta, ou da congênere “cerco da cidade pelo campo”, desviava-as de uma participação mais efetiva junto aos movimentos

242 Reis Filho, 1990, p. 105. 243 Reis Filho, 2014, p. 84. 244 Ídem, p. 85.

de massa. Por isso, devido à ausência de um trabalho prévio e, mais uma vez, a violência da repressão – aliás, bastante previsível – fez com que o movimento operário refluísse, sem um crescimento mais significativo para nenhuma das organizações.

O POC se viu enredado nesta mesma trama. Ele também não se dava conta do “aburguesamento” do operariado. As “debilidades do proletariado” não eram entendidas, portanto, como resultado da sua própria dinâmica, mas motivados por fatores “estranhos” à classe. Por exemplo, em resposta às frequentes queixas de coordenadores de células operárias sobre a alta rotatividade de militantes, a Direção Nacional avisava que cabia aos coordenadores selecionar e preparar de forma mais meticuloso os militantes, fazendo com passassem, necessariamente, pelo estágio de opp.

Intensos debates internos foram travados; pesquisas para a definição das regiões fabris mais importantes em cada secretaria regional foram efetuadas; análises de conjuntura e do desempenho do próprio partido e de outras organizações da esquerda foram realizadas. Uma documentação rica e intensa revela a mais profunda angústia dos militantes diante das inúmeras dificuldades enfrentadas na suas aproximações do operário. Ele estava lá, próximo às mãos, de carne e osso. Mas, na maioria das vezes não faziam eco ao proselitismo do partido. Também o POC sofria com o isolamento em relação àquele ao qual se considerava legítimo porta-voz.

Capítulo 4 – O Partido Operário Comunista no Movimento