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Capítulo 1 A Históri a do “Partido Operário Comunista” (POC)

1. Organização Interna

1.1. Secretariados Regionais

1.2.1. Coordenação de Células

As células nas suas rotinas operacionais, e os militantes na sua atuação pessoal estavam subordinados a um “coordenador de célula”. Este, normalmente, era indicado pela Secretaria Regional dentre os militantes mais experientes daquele setor de atuação, e era responsável pela ligação entre as células e a direção estadual.

O coordenador da célula também tinha contato com um militante do setor interno, que era o setor responsável pelas finanças do partido e pela imprensa. Nesses contatos, o coordenador da célula recebia o material impresso e os documentos internos a serem distribuídos pelos militantes e os apoiadores das células, chamados de opp‟s, como veremos a seguir. Ele também era encarregado de repassar as contribuições financeiras arrecadadas pela célula para o partido.

Logo em abril de 1968, imediatamente após a fundação do POC, a Direção Nacional baixou um documento requisitando aos coordenadores que reunisse sua célula, no mínimo, uma vez por semana. A pauta sugerida consistia em:

a) explanação do coordenador sobre os problemas gerais (finanças, segurança, política, etc.);

b) relato de cada militante sobre seu trabalho na semana; c) discussão política;

d) encaminhamentos para a próxima semana.103

103 POC

– BA – “Circular de organização e coordenação”, ”, no. 4, abril de 1968. CEDEM, Fundo

Cada coordenador era, portanto, responsável tanto pelo desenvolvimento do trabalho propriamente dito na sua área de atuação, quanto pelas questões administrativas da célula sob sua responsabilidade. O trabalho político consistia na preparação teórica e prática dos militantes, na distribuição de material impresso do partido, nos cursos para a “massa”, participação em assembléias e outras instâncias do movimento no qual atuava.

A guarda dos documentos do partido era também responsabilidade do Coordenador. Essa documentação consistia no essencial para a formação política dos novos militantes e para as discussões que envolviam a linha do partido, acrescidos dos informes da Secretaria Regional e da Direção Nacional. Por exemplo, no período de ascenso do movimento estudantil, o coordenador das células estudantis tinha a função de organizar, dentre outras várias atividades, o grupo de militantes e opp‟s por ocasião das passeatas e manifestações. Cabia a ele passar as instruções sobre os procedimentos a serem tomados quando da chegada da polícia, os caminhos de acesso e saída do local do evento, e a supervisão do comportamento dos militantes e simpatizantes, evitando que se dispersassem ou fossem presos.

Em termos administrativos, o coordenador deveria, sempre que possível, entregar ao Assistente de Célula, que era o canal de contato com a SR, um relatório escrito das condições dos recursos materiais e humanos e disponíveis. E, a partir desta descrição, o relatório avaliaria o que seria necessário para o melhor desempenho da célula no seu local de atuação, tendo em vista os objetivos do partido. Essa avaliação deveria pormenorizar, necessariamente, de acordo com as diretrizes administrativas ditadas pela Direção Nacional, a atuação dos militantes e opps. Informava-se desde as

rotinas de trabalho político até casos de indisciplina. Era feito um descritivo dos contatos políticos mantidos pela célula, suas condições financeiras, a distribuição dos jornais e um relato da atuação das demais organizações da esquerda.

Até o AI-5 e o acirramento da repressão, o assistente promovia reuniões periódicas com os coordenadores e os militantes das células sob sua assistência. Por medida de segurança, após o AI-5, as reuniões deixaram de ocorrer e os assistentes passaram a se encontrar individualmente com seus coordenadores.

Havia uma diretriz partidária que estabelecia que coordenador deveria reunir-se ao menos duas vezes por semana com a célula. Essas reuniões ocorriam tanto em aparelhos do próprio partido como, e com maior frequência, na casa de simpatizantes. Também, por questões de segurança, as casas eram utilizadas poucas vezes, sendo substituídas por outras não conhecidas. Há ainda o relato de militantes que, pela ausência de um local seguro para a reunião, a promoviam em plena rua.

Com o cerco repressivo, a partir de 1969, há registro de células que ficaram mais de um mês sem se reunir. Nestas situações o militante sofria a paralisação do seu trabalho político e da perda dos contatos orgânicos do partido.104

A prisão de militantes e o abandono da militância, aliada à dificuldade no recrutamento, fazia com que os remanescentes acumulassem atribuições orgânicas. Isso, por sua vez, gerava sérias como as dificuldades relatadas pela célula,

104 POC

– “A vida na célula 3-m”, outubro de 1969. CEDEM, Fundo POLOP, documento 1314- 1316.

A manutenção do contato externo da célula estava sob minha responsabilidade, mas depois de faltar a três pontos seguidos, perdi-o, não sendo possível recuperá-lo até hoje. Isso trouxe várias consequências: não recebimento de documentos e o não envio de dinheiro para o partido. A impossibilidade de mantermos contato com outras células e a impossibilidade de termos acesso ao setor de imprensa. Em conseqüência do descrito a vida na célula é bastante prejudicada – praticamente não existe como integrante de um partido marxista-leninista.105

Sensação de asfixia. Esta á a imagem que este pungente relato transmite. A eficiência da repressão que, ao cortar os laços orgânicos entre os membros, extinguia lentamente o organismo partidário.

1.2.2. Assistente de célula

O Assistente de Célula era o membro do Setor Interno que fazia a ligação entre a Direção Estadual e as células. Era uma comunicação em mão dupla, coletando informações da rotina das células e levando-as para a direção, e no sentido inverso, municiando-as de documentos e materiais do partido. Tinha a responsabilidade pelo envio de material político das suas células para a Secretaria Regional até o dia primeiro de cada mês. Esse material compreendia, além de informes sobre as condições políticas locais, recortes de jornais da região que eram utilizados pela Secretaria Regional e pela Direção Nacional para a elaboração, respectivamente, do “Caderno Regional de Debates”, e do “Informativo Nacional”, podendo inclusive subsidiar com informações o jornal “Política Operária”.

O “Caderno Regional de Debates” era o boletim regional informando às células as decisões da Secretaria local. Também propunha temas para debates e redefinia táticas políticas. Eventualmente, poderia ser utilizado por militantes de base para registrar suas experiências ou criticar a linha do partido. Percebe-