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Associação dos Guardiões da Agrobiodiversidade de Tenente Portela-

3 O SIGNIFICADO DO “SER” FAMÍLIA GUARDIÃ DE SEMENTES

3.3 As famílias guardiãs de Tenente Portela

3.3.2 Associação dos Guardiões da Agrobiodiversidade de Tenente Portela-

O trabalho com sementes crioulas em Tenente Portela já vinha sendo motivado há vários anos em vistas a promoção da agroecologia. Um impulso fundamental foi à realização de Projeto Guardiões da Agrobiodiversidade em 2009, pela Prefeitura Municipal, através do Departamento Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural (DMADR). E promoveram no ano de 2010 o 1º Seminário Sementes Patrimônio Sócio-cultural. (PANDOLFO, 2014).

Em 2011, através de lei municipal, o projeto é institucionalizado, em um programa que tinha o objetivo de promover a agrobiodiversidade, incrementar a produção de alimentos saudáveis e a segurança e soberania alimentar das famílias de comunidades rurais e indígenas.

Com o incentivo do programa, 20 famílias agricultores e três grupos de indígenas se organizam e decidem por constituir, em 2011, a Associação dos Guardiões da Agrobiodiversidade de Tenente Portela (AGABIO). Nesse mesmo ano foi realizado segundo 2o Seminário Sementes Patrimônio Sócio-cultural.

Buscando uma maior abrangência a AGABIO, juntamente com os parceiros, organizam em 2012 o 1o Encontro Regional das Sementes Crioulas, onde participam 15 municípios, espaço privilegiado de trocas e onde também venderam sementes, além de artesanatos e outros produtos tradicionais.

O projeto conta com a parceria do DMADR, Emater, Conselho de Missão Entre Povos Indígenas (COMIN), Embrapa Clima Temperado, Banrisul Socioambiental, a Cáritas Brasileira e a Fundação Luterana de Diaconia (FLD). As três primeiras instituições estabelecem uma relação direta com a associação, tanto do ponto de vista organizativo, como produtivo. As demais apoiam a Associação através de recursos financeiros, capacitação e disponibilidade de sementes.

O levantamento da agrobiodiversidade dos guardiões realizada em 2012 foi identificado mais de 100 variedades de espécies cultivadas, entre estas: 22 de

milho, dez de feijão, dez de abóboras, oito de mandioca, seis de batata-doce, quatro de melão e duas de soja (PANDOLFO et al., 2014).

As famílias manifestam a importância da Associação e de apoios recebidos, frente as necessidades encontradas no dia a dia. Para a FG6, a “A associação vem para promover o resgate, multiplicação e repassar das sementes”.

Eu me sinto mais valorizado, porque a gente não era lembrado muito menos visto. Depois da associação, o pessoal sabe com que a gente se dedica, produz. A gente nunca que imaginava que podia ter essa importância essa semente crioula. As vezes fico até pensando. Que eu nunca esperava pode prosear de toco com palestrante de Brasília ou de Porto Alegre. (FG6)

A FG5, ela conta uma conversa que teve com representante da prefeitura:

Ele disse: - escuta, se causo vocês agora com a associação de vocês, tivessem um moinho ali, vocês iam gostar? Daí eu disse, mas quem não vai gosta, se tivesse um moinho ali perto? [...] Imagina daí quantos que não iam levar a moagem de milho, mas está louco. Lá falta produto, eu acho.

Na FG5, ela identifica que mantém semente de hortaliça e que aumentado sua diversidade, “alface também, eu sempre tiro a semente e daí o Marcos (técnico DMADR) me trouxe uma semente lá de Ibarama, uma tal de Angelina”.

Através da organização das famílias na AGABIO, foi possível identificar a ampliação da agrobiodiversidade no decorrer dos anos (Tabela 05).

Através de projetos, junto as parcerias as famílias vêm garantindo várias ações, a exemplo de silo secador, diferentes capacitações às famílias e obtenção de calcário e adubo químico e orgânico.

No ano de 2013, a AGABIO realizou uma mostra da agrobiodiversidade, onde cada família levou os produtos e sementes que tinham em seus lotes, a qual foi realizada na Praça do Índio, ponto central da cidade. Esta amostra ficou marcada para todas as famílias, enquanto uma visão compartilhada por todas, das expressões de surpresa que os visitantes manifestavam, em ver variedades antigas ainda sendo produzidas, pelo tamanho dos produtos, pela disputa entre os visitantes em levar os produtos. Também, no evento, houve visitação de crianças das escolas, que expressavam admiração, pelo tamanho da abóbora, pela semente da vassoura.

Tabela 05 - Identificação do número de famílias e variedades crioulas, por comunidade, em três anos, na AGABIO, Tenente Portela, RS.

COMUNIDADES Nº AGRIC. 2009 VARIEDADES 2009 Nº AGRIC. 2011 VARIEDADES 2011 Alto Alegre 03 Cabo Roxo Amarelão Sabugo 07

Cabo roxo, amarelão, sabugo fino, Capuchinho, Branco,

Pintado

Alto C. de Farias 01 Asteca, Caiano 02 Asteca, Caiano

Barro Magro 02 Caiano, Cunha 05 Caiano, Cunha, Oito

Carreiras Vermelho Lajeado Machados 03 Cunha Rajado, Fundacep 35, Oito Carreiras Branco 03

Cunha Rajado, Sabugo Fino, Oito Carreiras Branco, Oito Carreiras

Rajado

KM 08, KM 12 02 Pintado 04 Pintado, Dente de

Cão

Oito de Março 01 Roxo, Cunha, Caiano 00 -*-

Esquina Grápia 02 Pintado, Caiano 03 Pintado, Caiano

Esq. Pech 00 -*- 03 Palha Roxa, Pintado

Linha Becker 00 -*- 04 Pintado, Palaha Roxa

Lajeado Leão 04

Caiano, Palha Roxa, Pintado, Caiano

Branco

06

Caiano, Palha Roxa, Pintado, Caiano Branco, Dente de Cão

I. Filisbino Barreiro 02 Branco, Roxo, Cunha

Rajado, Caiano Comunidade Indígena 03 (grupos) Cateto Branco, Taquara, Caiano, Dente de Cão 05 (grupos)

Cateto Branco, Cateto Vermelho, Dente de Cão, Taquara TOTAL 20 famílias 03 grupos 15 variedades 39 famílias 05 grupos 19 variedades Fonte: Adaptado de Departamento Municipal do Meio Ambiente e Desenv. Rural (2012).

Conforme mostra a tabela 6, as cinco famílias têm em posse 14 variedades de milho crioulo. Assim também, como destaca que duas variedades, o Caiano Amarelo e o Sabuguinho Fino, trazidos de seus antepassados e também de que nove variedades foram adquiridas após a organização da AGABIO, mostrando sua importância para o resgate da agrobiodiversidade de espécies crioulas.

Tabela 06 - Dados das variedades crioulas de milho presentes em cinco famílias guardiãs de sementes crioulas. Tenente Portela (RS), 2014.

FAMÍLIAS

GUARDIÃS VARIEDADES PERMANECEU

RESGATOU/INICIOU ANOS FG5 Pintado - 2 Cabo Roxo - 2 Amarelão - 3 Cunha - 3 Palha Roxa - 2 Caiano Amarelo X - FG6 Caiano Amarelo X - Palha Roxa - 25

Dente de Cão - N.i

Caiano Pintado - N.i

Caiano Branco - 10 Mato Grosso - 4 FG7 Caiano Amarelo X - Vermelho - 10 Pintado - 4 FG8 Ferro - 10 Branco 8 Carrero - M.t Asteca - 20

Caiano Cabo Roxo - 15

FG9

Sabuguinho Fino X -

Pintado - 3

Caianão - 3

TOTAL 14 VARIEDADES 2 12

Fonte: Elaboração da autora (2014).

4 O SISTEMA DE PRODUÇÃO DAS FAMÍLIAS GUARDIÃS: QUE LEVA A