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2 A VIDA CULTURAL E LITERÁRIA EM PELOTAS

2.3 Vida literária

2.3.4 Associações literárias e políticas

Pelotas contava com aproximadamente cinqüenta associações e clubes102, no final do século XIX, que se dividiam em abolicionistas,

republicanos, literários, artísticos e carnavalescos. As associações literárias e políticas, de que se tem notícias através dos jornais, receberam apoio da Biblioteca Pública de Pelotas e do Clube Caixeiral. Os intelectuais que faziam parte das associações literárias, em geral, também compunham as associações políticas, tanto os que ficaram conhecidos por atuarem nos periódicos da região, a exemplo de Antônio Joaquim Dias, Fernando Luiz Osório, Bibiano Francisco de Almeida, Saturnino Epaminondas de Arruda, Epaminondas Piratinino de Almeida, José Gomes Corrêa, Francisco de Paula Pires, Mathias Guimarães, Luiz Carlos Massot e Arthur Ulrich quanto os que tiveram seus nomes encobertos pelo tempo, como Arnaldo Carneiro, Fernando Pimentel, Leopoldo Rego, José Ferreira Alves Guimarães, Marçal Pereira de Escobar, Antônio da Silva Moncorvo Jr., Serafim Antônio Alves, Antônio Rodrigues de Souza, Arthur Guilherme da Costa, Hipólito Gonçalves Detroiat, Luiz Felipe de Almeida, João Anastácio Cadaval, Francisco Emílio Laquintinie, Manoel Gonçalves Detroiat, Teodoro de Souza Garcia, Maria Isabel Detroiat, Marcolina Barcellos de Almeida103.

102 Entre essas associações e clubes mencionam-se: Clube Literário Democrata, Associação Abolicionista D. Sebastião, Centro Etiópico, Clube Emancipador, Centro Abolicionista (era dos mesmos sócios do clube Abolicionista), Grêmio dos Guarda-Livros, Caixa de Socorros Marquês de Pombal, Clube Caixeiral, Clube Demóstenes (composto por jovens estudiosos que procuravam consagrar algumas horas às palestras literárias), Grêmio dos Tipógrafos, Clube Nagô, Sociedade Recreio dos Artistas (o jornal A Idéia), Clube Literário Democrata, Clube Literário Apolinário Porto Alegre, Órgão Abolicionista, Órgão Republicano, Sociedade Literária Íris Brasílico.

103 Apesar de terem sido feitas pesquisas no setor de inventários e testamentos do Arquivo Público de Porto Alegre, não foi possível obter dados biográficos desses intelectuais.

As associações eram criadas para sustentar os interesses dos intelectuais e adquiriram, assim como as editoras, a função de instituição, dentro do sistema literário, pois regulavam a leitura e definiam os temas mais apropriados para serem lidos e discutidos pelo público. Nas associações literárias, eram debatidos assuntos relacionados à educação, principalmente, da mulher; temas e estilos literários. As associações abolicionistas e republicanas examinavam assuntos relacionados ao fim da escravidão e da monarquia. Essas sociedades eram mantidas pelos jornais que circulavam na cidade e pelos saraus literários e dramáticos apresentados em prol da causa que defendiam.

Outra atividade promovida pelas sociedades literárias e políticas eram as reuniões para defender e apresentar teses com temas variados, como por exemplo, “Onde está a felicidade?”, “A extinção da escravatura deve ser feita de um só golpe ou por parcelas?”, “Qual o papel da mulher” e “A imortalidade da alma”. Algumas instituições discutiam seus temas nos salões da Biblioteca Pública Pelotas. A apresentação de teses constitui um modelo desenvolvido pelo grupo do Partenon Literário e seguido pelos intelectuais pelotenses. Além disso, tal atividade configura a função de mercado do sistema literário por sua capacidade de vender um produto que, nesse caso, são ideologias partidárias e filosóficas. Também podem assumir essa função as instituições de ensino e as bibliotecas, pois estão diretamente em contato com a formação do público leitor.

As informações mais consistentes sobre as associações literárias e políticas de Pelotas constam de investigações104 realizadas pela pesquisadora

Beatriz Ana Loner a partir da leitura dos periódicos pelotenses da segunda metade do século XIX. De acordo com o material selecionado nas páginas dos jornais, destacam-se três categorias de instituições: abolicionistas, culturais, comerciais e sociais.

104 Essas informações, cedidas pela Profa Dr. Beatriz Ana Loner, fazem parte da sua pesquisa intitulada Trabalhadores e Literatura em Pelotas no Século XIX, que se vincula ao projeto Literatura, Jornal e Cultura: autores pelotenses (1850-1889), da UFPel.

Nas abolicionistas, enquadram-se o Clube Emancipador, o Centro Abolicionista, o Clube Nagô, o Grêmio dos Guarda-Livros105 e a Associação

D. Sebastião Centro Etiópico, que representava a união de dois clubes o Sebastião e o Etiópico. Essas entidades compravam os escravos mediante permuta de bilhetes de loteria premiados, funcionando a negociação da seguinte forma: os donos de escravos compravam bilhetes da “grande loteria da Corte” e, por meio de anúncios em jornal, ofereciam os cativos, apresentando as propostas para a liberdade dos mesmos. Os presidentes dos clubes abolicionistas avaliavam a proposta e divulgavam nos jornais de igual categoria, as propostas aceitas. As pessoas que eram sorteadas levavam o prêmio em dinheiro e entregavam os negros para serem libertados.

Constata-se nessa transação, a função social da imprensa na sociedade pelotense. Jornais como A Pátria, A Voz do Escravo e O Farrapo quando não publicavam esse tipo de anúncio, aproveitavam o tema transpondo-o para a literatura, a fim de sensibilizar os leitores com o sofrimento dos escravos. Dessa forma, utilizavam a literatura como pretexto para colaborar com a causa abolicionista.

As instituições que se destacavam por seu interesse pelas atividades culturais, eram: a Sociedade Recreio dos Artistas – clube de baile e apresentações de cantores e orquestras; o Clube Demóstenes – composto por jovens que ensaiavam palestras literárias; e o Clube Caixeiral – que uniam os interessem das outras duas instituições, promovendo bailes, recitais, saraus, além de ministrar cursos noturnos de escrituração mercantil e idiomas para os sócios.

Com o objetivo de tratar de assuntos comerciais, em 23 de janeiro de 1881, foi organizado por vinte e sete tipógrafos, no Clube Caixeiral, o Grêmio dos Tipógrafos. A entidade recebia apoio dos periódicos Diário de Pelotas e do Jornal do Comércio e da Livraria Americana e, cinco anos depois da fundação, passou a funcionar, na casa de João José Cezar - dono do periódico Progresso Literário de 1865. Nesse período, a instituição passava

105 Conforme notícias dos periódicos, essa instituição era responsável por entregar aos libertos as cartas de alforria.

por uma nova fase, segundo as notícias do Diário de Pelotas, estava mais organizada e, por isso, fundou a Sociedade de Socorros Mútuos a fim de “engrandecer o grêmio tipográfico” considerado uma classe “das mais úteis ao progresso”.106

De natureza social, a Caixa de Socorros Marquês de Pombal foi fundada em 23 de abril de 1882 e inaugurada em 8 de maio do mesmo ano, em homenagem ao centenário de falecimento do Marquês de Pombal. Nessa ocasião, alguns portugueses residentes em Pelotas, tiveram a idéia de fundar uma sociedade de socorros mútuos que tinha por fins principais:

- beneficiar todos os sócios em geral e muito especialmente intervir nos inúmeros casos imprevistos, legalmente provados de miséria, abandono e necessidades, dos portugueses e suas famílias;

- construir, logo que seus recursos permitissem, um asilo urbano, rural ou agrícola, no qual poderiam haver enfermarias;

- dar o direito a todo o sócio de, quando enfermo, ter uma pensão diária de mil réis, médico e remédios à custa da sociedade;

- arcar, em caso de morte, com os gastos para o enterro do sócio com a quantia de trinta a quarenta mil réis;

- destinar, quando fosse preciso, ao associado mudar de terras por motivos de saúde, a quantia de cem mil réis;

- conceder às viúvas dos sócios falecidos uma pensão de doze mil réis mensais.107

A partir dessas informações, percebe-se que era considerável o número de portugueses que vivia em Pelotas, dada a necessidade de criarem uma associação de ajuda mútua. Com relação à influência cultural, pode-se afirmar que, se havia muitos portugueses desenvolvendo atividades em vários setores da cidade, a tradição lusitana também permeava os hábitos e costumes da nova sociedade na qual eles se inseriam e, certamente, a literatura não ficou imune a essa influência.

106 REUNIÃO tipográfica. Diário de Pelotas. Pelotas, 4 jun. 1886. p. 3.