• Nenhum resultado encontrado

2 A VIDA CULTURAL E LITERÁRIA EM PELOTAS

2.3 Vida literária

2.3.6 Ensino

Os intelectuais pelotenses mobilizaram-se a fim de desenvolver a educação dos jovens da cidade e criaram cursos noturnos na Biblioteca Pública Pelotense. Esses cursos tinham por objetivo possibilitar a “instrução primária para menores e adultos pobres, sem recurso.”112 A inauguração dos

cursos noturnos se realizou no dia 1º de fevereiro de 1877, sob o comando de João Affonso Corrêa de Almeida113, Aristides Guidony e Francisco de

Paula Pires. Antes da criação dos cursos noturnos, havia escolas particulares e professores que, contratados pelas famílias abastadas, davam conta da instrução dos alunos pelotenses. Aproveitando o interesse dos professores, os cursos noturnos e gratuitos funcionaram ininterruptamente, na Biblioteca Pública Pelotense, preparando grande número de pessoas que posteriormente encontraram empregos nos mais variados cargos, até mesmo, em posição de destaque na sociedade.

111 Essa Sociedade estava vinculada ao jornal Progresso Literário e tinha por modelo direto a

Sociedade do Partenon Literário, pois alguns de seus representantes também eram membros

e colaboradores da Sociedade Íris Brasílico como: Bernardo Taveira Júnior, Apolinário Porto Alegre, Hilário Ribeiro, Lobo da Costa, Teodoro de Miranda, Vitor Valpírio, Geraldo de Farias Correa, Frederico Sattamini e Luiza Cavalcanti.

112 PIRES, Francisco de Paula. Op. cit. nota n. 72, p. 137.

Através de anúncios de jornais, percebe-se que os professores responsáveis pelas aulas dos pelotenses tinham por base os artigos publicados na Revista Escola, órgão do Instituto Brasileiro do Rio Grande do Sul, coordenado por Apolinário Porto Alegre e Hilário Ribeiro, além das publicações da Escola, revista do Rio de Janeiro, dirigida por A. E. da Costa e Duque Estrada Teixeira. Essa informação demonstra que os intelectuais pelotenses mantinham contato com os grandes centros culturais do Brasil e deles extraíam os modelos para consolidar a cultura e a educação da sua sociedade. Além disso, reforça a idéia de que os cursos noturnos da Biblioteca Pública Pelotense regulavam, assim como fazem os estabelecimentos de ensino, as escolhas de leitura dos alunos, bem como a suas opções ideológicas.

Algumas instituições sociais como o Clube Caixeiral, também ofereciam cursos noturnos, conforme divulgava o Diário de Pelotas:

CLUBE CAIXEIRAL

Esta associação, que tem prosperado de maneira a achar- se hoje solidamente constituída, resolveu abrir cursos noturnos para o ensino de escrituração mercantil,

português, francês, inglês e alemão, facilitando aos seus membros o ensejo de adquirir úteis conhecimentos. Apraz-nos consignar que os esforços dessa mocidade briosa convergem sempre para as causas nobres e civilizadoras.114

O ensino de línguas estrangeiras era bastante comum. As aulas eram ministradas no Clube Caixeiral, na Biblioteca Pública Pelotense, nos colégios e sob a forma de aulas particulares nas casas dos professores Bernardo Taveira Júnior e Carlos von Koseritz.

Eram ensinados os idiomas francês, pois Pelotas naquela época acreditava-se francesa por seguir os modos e costumes daquele país; o inglês, que já dominava o comércio; o espanhol, pela proximidade dos países vizinhos; e o alemão, que possivelmente era ministrado por influência dos

intelectuais alemães que viviam em Pelotas e, por outro lado, pelo desenvolvimento da tendência romântica na literatura, nascida das teorias alemãs. Os alunos praticavam os idiomas lendo, no original, obras importadas de autores estrangeiros, tais como: Hugo, Byron, Shakespeare, Goethe e Shopenhauer.

Os alunos, que se dedicavam aos estudos indo inclusive passar um tempo no Exterior, voltavam capacitados para fazer traduções de textos. Isso explica por que seus nomes não estão incluídos como escritores na literatura local, pois trabalhavam apenas na área da tradução, sem obter destaque. Também havia casos de intelectuais, como Pinheiro Machado e Lobo da Costa, que atuavam como tradutores e intérpretes.

A imprensa local, principalmente os jornais literários, incentivava a educação, convidando os leitores ao estudo, conforme registra o artigo “Duas palavras”115, publicado no periódico Tribuna Literária. O artigo expõe o

objetivo do jornal dizendo que é inovador e tem o intuito de demonstrar a importância da educação literária e científica na vida das pessoas, principalmente dos jovens.

O Invisível, de 27 de fevereiro de 1887, de Florindo Alves de Oliveira e Comp., traz a seguinte consideração a respeito da importância do estudo:

Urge que tenhamos em vista esta proposição filosófica: um povo de analfabetos é simplesmente a aglomeração de certo número de inconscientes. Busquemos a luz! E na frase de um ilustre rio-grandense digamos: “Quanto mais perto das trevas do calvário, mais longe da luzes da razão.” As Bibliotecas são a luz – busquemos a luz.

No intuito de defender a educação, intelectuais ligados à imprensa local realizavam visitas às instituições de ensino, conforme registra o jornal Arauto das Letras, em artigo intitulado “Colégio Amor ao Estudo” em que

relata uma visita feita pela redação do jornal ao estabelecimento dirigido pelo colaborador Cipriano Porto Alegre. O texto elogia a ordem e o capricho do estabelecimento, além da capacitação e experiência de seus professores. A visita tinha por objetivo fazer propaganda do local e da atividade nele desenvolvida.

O final do século XIX despertou a discussão da importância da educação, não só para os homens, mas também para as mulheres. Assim, elas deixaram de ter somente aulas de piano, francês, bordado, etiqueta e prendas domésticas para se dedicarem igualmente ao estudo das ciências.

Surgiam nos jornais argumentos favoráveis e contrários, ainda que em número menor, à idéia, conforme o artigo veiculado pelo Tribuna Literária, intitulado “A educação da mulher”116 que afirma tratar-se de uma

visão revolucionária para a época: a de que a emancipação da mulher seria um tipo de “atestado de progresso”. Essa proposta mostra que a mulher deve pensar, julgar, comparar, analisar as coisas para poder influenciar de forma positiva e sem preconceitos na educação dos filhos. No mesmo ano, França Júnior publicou um artigo117, no jornal Arauto das Letras, defendendo a

importância da mulher na família e na sociedade e que, por isso, era necessário fundar uma escola para ela. Ainda no mesmo número, encontra- se um ensaio de André Rebouças118 afirmando que a mulher é degradada e

desprezada em alguns países onde reinam a ignorância e a miséria e que a prosperidade, o progresso e a felicidade das nações dependem da educação, da instrução e da elevação social da mulher; e outro, de G. Bellegarde119

concluindo que educando a mulher, “o anjo do lar”, haverá um preparo para as gerações futuras.

116 Artigo veiculado em 8 de janeiro de 1882, na cidade de Pelotas.

117 FRANÇA JÚNIOR. Educação da mulher. Arauto das Letras. Rio Grande, 6 ago. 1882. n. 1, p.2.

118 REBOUÇAS, André. Elevai a mulher! Arauto das Letras. Rio Grande, 6 ago. 1882. n. 1, p.2.

119 G. BELLEGARDE. Lugar à mulher! Arauto das Letras. Rio Grande, 6 ago. 1882. n. 1, p.2.

O interesse pela educação da mulher é mais uma idéia difundida pela Sociedade Partenon Literário e adotada pelos intelectuais pelotenses, demonstrando que ambos os sistemas culturais e literários estavam interligados. Podemos afirmar, ainda, que a literatura de Pelotas, desde o momento da sua formação, através da imprensa, teve por base principal as diretrizes do Partenon Literário, no que tange à organização das atividades culturais e literárias desenvolvidas ao longo da segunda metade do século XIX.