• Nenhum resultado encontrado

Associações sociais através das mídias locativas

CAPÍTULO II – BOURRIAUD E AS TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

2.3. Outras vertentes de engajamento social na arte contemporânea

2.3.6. Associações sociais através das mídias locativas

O desenvolvimento das tecnologias móveis, bem como o barateamento e a difusão de aparelhos celulares, smart phones e PDAs – que possuem tecnologia de GPS, acesso à internet, rádio e câmeras –, significaram uma nova e crescente opção para os artistas. Através dessas tecnologias, as novas mídias móveis, como o celular, podem ser utilizadas como meio para a difusão, implementação e ferramenta de criação artística.

Segundo Paul, as tecnologias móveis transformaram-se em novas plataformas para produção cultural, além de proverem interfaces nas quais os usuários podem formar comunidades sociais e participar de projetos públicos em rede. Um dos exemplos desse tipo de ação através de redes móveis é o termo smart mob, criado por Howard Rheingold, em 2002, no seu livro Smart mobs: the next social revolution. Esse livro descreve as estruturas sociais formadas pelas tecnologias digitais sem fio (PAUL, 2008, p. 216). Outro termo também utilizado para esse tipo de estrutura é o flash mob, que segue as premissas do smart

mob. Com ações apolíticas, o objetivo do flash mob é unir pessoas por meio de mensagens instantâneas por celular.

Para Paul, as ações em mídia móvel são relevantes muito mais por seu conceito e tema do que por sua tecnologia. Esse conceito vem sendo explorado pelos artistas que aproveitam a possibilidade de estabelecimento de redes eletrônicas proporcionada pelas mídias móveis. Paul chama atenção para o fato de que o estabelecimento dessas redes, através das mídias móveis como o celular, faz as pessoas repensarem e tentarem entender o que é identificado como espaço público. Para a escritora, essas redes proporcionaram a abertura de novos espaços para intervenção artística e trouxeram uma nova concepção a respeito da chamada “arte pública”. As intervenções artísticas em espaços não institucionais – como o movimento

10 Outras ações semelhantes aos projetos supracitados podem ser encontradas em On Translation (2006), de Antonio Mutandas, e em Agonistics: A language Game (2005), de Warren Sack. Ambos exploram as linguagens e os vocabulários típicos utilizados nos diversos tipos de sites (culturais, econômicos, militares etc.) encontrados na internet.

graffitti, as performances e as ações participativas, como as do grupo Fluxus – encontram nas mídias móveis um novo espaço para a hospedagem de suas ações (PAUL, 2008, p. 216).

Paul atenta ainda para o fato de que a promoção de um espaço público através das mídias móveis permite a associação de ações artísticas em rede que, ao contrário da arte pública tradicional, têm o poder de unir indivíduos de forma translocal (ao conectar pessoas de várias regiões). Além disso, os trabalhos de arte com as mídias móveis possibilitam a associação de pessoas em espaços virtuais fixos, nos quais os usuários podem argumentar ou contribuir por meio de informações que podem ser buscadas e/ou depositadas (PAUL, 2009, p. 2126).

Segundo Paul, as mídias móveis transformaram-se em um campo fértil para ações artísticas que intentam intensificar espaços (físicos ou virtuais), com informações e com a criação de plataformas participativas de produção. Além disso, possibilitam o engajamento de críticas a respeito do impacto que as tecnologias móveis proporcionam na cultura (PAUL, 2008, p. 216).

As ações com mídia móvel são diversas. Existem as que trabalham com paisagens, que são mapeadas por PDAs que recolhem dados de espaços públicos e posteriormente os disponibilizam na internet. As informações recolhidas variam de dados físicos a emocionais, como no trabalho PDal (2003), de Marina Zurkow, Scott Paterson e Julian Bleecker. O projeto recolheu dados de experiências pessoais em Times Square, Nova Iorque, e em Twin Cities, Minnesota. A proposta intentou mapear, como nos gráficos emocionais de conceito psicogeográfico (desenvolvido pelos Situacionistas de 1950), dados de pessoas, em uma determinada região, que estão apaixonadas ou desiludidas. Outros exemplos de trabalhos que exploram o mapeamento de paisagens podem ser encontrados nos projetos D-tower (1998- 2004), de Q. S. Serafijn e Lars Spuybroeks, Wifi. ArtCache (2003), de Julian Bleecker’s, Core

Sample (2007), entre outros.

Outros artistas utilizam o celular para criar ou modificar imagens. As informações e os dados que são enviados pelos usuários (por meio de ligações ou mensagens de texto) são transformados em informações visuais que constroem ou modificam imagens criadas pelos artistas. Exemplos dessas ações podem ser encontrados nos projetos Sky Ear (2004), de Usman Haque, Amodal Suspension (2003), de Lozano-Hemmer, entre outros.

Os celulares também podem ser usados como importante ferramenta participativa que possibilita a interação de usuários que utilizam a interface dos aparelhos para participar de obras, como no projeto Sometimes Always and Sometimes Never (2006), de Giselle Beiguelman. A obra consistiu de fotos do espaço de exposição tiradas pelos usuários. Na galeria, as imagens fornecidas aparecem em tempo real e podem ser modificadas pelo teclado e pelo mouse disponíveis no espaço. As edições podem ser feitas por meio de filtros coloridos, da mudança de ordem das imagens. As ações dos usuários em ambos os projetos criam um vídeo de(generativo), que é constantemente composto e recomposto.

Além das ações de colaboração social, como é o caso do projeto de Giselle Bieguelman, existem outros projetos que utilizam as mídias móveis com o intuito de vigiar as ações dos usuários (estabelecendo uma crítica aos atuais sistemas de vigilância). Porém, estas e outras manifestações não serão aqui repertoriadas, pois fogem do cerne da proposta deste trabalho. De qualquer forma, mais projetos e artistas são listados no anexo deste trabalho, para aqueles que estiverem interessados em alargar seu campo de pesquisa.

CAPITULO III - SUPERFLEX & DE GEUZEN – Visão