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Cibearte, tendências para a virtualização do mundo e a interatividade

CAPÍTULO I – REDE, INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA

1.4. Cibercultura

1.4.3. Cibearte, tendências para a virtualização do mundo e a interatividade

Muitas foram as transformações ocorridas na arte a partir do surgimento das novas tecnologias. Parâmetros de representação, reprodução e relação com a arte foram modificados desde o desenvolvimento da internet. A flexibilidade do código binário permitiu a produção de clones de uma imagem tecnológica de maneira infinita, e a representação da realidade pelo ciberespaço também sofreu significativas mudanças a partir do advento da realidade virtual. Porém, como o foco principal deste estudo é analisar as relações de participação e interatividade que a arte no ciberespaço proporciona, estudaremos essa última mudança de forma mais detalhada neste tópico.

As possibilidades oferecidas por novos aparatos tecnológicos (cinema, fotografia, televisão e vídeo) chamaram a atenção dos artistas a partir da década de 1970. A arte

contemporânea irá então se basear na combinação, na reapropriação e na mistura de elementos e privilegiará as formas fragmentadas e lúdicas. A partir dos anos 1970 os artistas criaram uma “arte aberta, rizomática e interativa, em que o autor e o público se misturam” (LEMOS, 2007, p. 177). Dessa forma, as novas tecnologias – como os computadores e as redes de telecomunicação – foram adventos úteis para as expressões artísticas na pós- modernidade. “A ênfase da arte eletrônica incide, agora, na circulação de informação e na comunicação, herdeira direta da performance e dos happenings dos anos 60” (ibidem, p. 177).

Como já foi visto, a rede é o cerne para a contextualização das produções em arte pós- moderna. E é na rede digital, a internet, que a arte digital ou eletrônica encontra um ambiente ideal, no qual pode exercer seu objetivo de comunicação. “A idéia de rede, aliada à possibilidade de recombinações sucessivas de informações e a uma comunicação interativa, torna-se o motor principal da ciberarte” (COUEY apud LEMOS, 2007, p. 178). Assim, a predominância da interatividade, dos samplimgs (colagens) de informação, do discurso não linear, dos hipertextos, dos fractais etc. povoará as produções de arte na era das novas tecnologias. Para Lemos,

A arte eletrônica vai construiruma nova fomra simbólica, através da qual os artistas utilizam novas tecnologias numa postura ao mesmo tempo crítica e lúdica, com intuito de multiplicar suas possibilidades estéticas. Ela vai explorar a numerização, [...] a espectrabilidade [...], o ciberespaço, a instantaneidade [...], e a interatividade, quebrando as fronteiras entre produtor, consumidor e editor. (LEMOS, 2007, p.182) Ainda segundo Lemos,

a arte em rede virtualiza o ciberespaço. O potencial do ciberespaço para abrigar artes eletrônicas é enorme. Seu caráter aberto, interativo e não hierarquizado permite que seja um espaço por excelência da arte, um espaço imaginário num tempo imediato, o tempo real. Dessa forma, conexão, interação, simultaneidade, participação plural e interativa, constituem um espaço híbrido fundamental da ciberarte hoje. (ibidem, p.184)

Uma vez que a arte é sempre conhecida como o espelho de seu tempo, a arte eletrônica encontrará na desmaterialização proporcionada pela linguagem digital campo fértil para a produção de um novo modelo artístico. Essa produção caracterizar-se-á pela comunicação, interatividade e circulação da informação por intermédio das redes. “A arte entra no processo

global de virtualização do mundo. Compreender a arte desse final de século é compreender o imaginário da cibercultura” (LEMOS, 2007, p. 178).

O artista da comunicação Fred Forest, (apud PLAZA, 2000, p. 12) defende que a desmaterialização da cultura provoca o nascimento de um potencial criativo, de inteligências coletivas. Outros pontos também relevantes são a exploração de espaços-tempo totalmente novos e um inchaço nos potenciais de imaginação e de sensibilidade. Segundo Forest, a “simulação”, o “tempo real” e a “interatividade” são palavras essenciais para que se possa entender as artes nos tempos das novas tecnologias. É necessário, através do surgimento dessas novas vertentes, que a história da arte seja revista, pois todos os antigos preceitos de economia simbólica, circulação de bens artísticos contemporâneos, bem como modos de fabricação, são atingidos pelo novo contexto. Na era das novas tecnologias da informação, “o artista e sua obra interativa só existem pela participação efetiva do público, o que torna a noção de ‘autor’, conseqüentemente mais problemática. O estado de coisas nos conduz à necessidade de ‘redefinir’ também o conceito de artista” (PLAZA, 2000, p. 12).

Ainda considerando o potencial interativo das novas tecnologias, Roy Ascott (apud PLAZA, p. 14) considera que a interação promove uma extensa gama de novas experiências que usam meios diferentes (experiências individuais, performances, em fluxo de dados), juntamente com estruturas distintas, redes ou ambientes cibernéticos inteligentes e suscetíveis à adaptação. Dessa forma, o espectador age sobre o fluxo de dados, muda sua estrutura, transita na rede e interage com o ambiente, atuando de forma transformadora e criativa.

Porém, para Rush (apud SANTAELLA, 2003, p. 175), é necessário atentar para o fato de que a interatividade proposta pelos meios digitais e que caracteriza a ciberarte não se resume apenas a criar um ambiente de “interação, de incorporação, colaboração ou imersão para o usuário-receptor”. É preciso que se perceba a complexidade das diversidades tecnológicas e semióticas, que crescem e hibridizam os meios, de forma a gerar produção de “arte que hoje comprime ao máximo a capacidade de informação e processamento em um espaço mínimo”. Como na obra Aleph, de Borges, publicada em 1971, “em pontos densos de tempos e espaços que oscilam entre o visível e o invisível, o material e o imaterial, o presente e o ausente, a matéria e sua virtualidade, a carne e seus espectros”(apud SANTAELLA, 2003, p. 175).

Quanto ao processo de virtualização do mundo, Lemos apoiado em Lévy, atenta para a questão de que todo o mundo está envolto em um processo de virtualização que se caracteriza pela valorização dos bens informacionais e do conhecimento, bem como pela virtualização e desterritorialização. Para Lévy, a virtualização não é um acontecimento novo, esse autor defende ainda a idéia de que toda a humanidade se constituiu por meio de virtualizações (dialéticas, gramaticais e retóricas) (LÉVY apud LEMOS, 2007, p. 178), e com a arte não é diferente:

A arte é uma virtualização da virtualização (Lévy), encontrando-se no meio dos processos de virtualização da linguagem, da técnica e da ética, buscando, ao mesmo tempo, escapar do aqui e do agora (virtualizando) e propor soluções concretas às suas questões (atualizando). [...] toda arte é virtualização de uma virtualização, já que ela procura trazer ao sensível problematizações do real e alargar os limites do possível. No contexto da arte eletrônica contemporânea, este processo atinge uma radicalização sem precedentes. (LEMOS, 2007, p. 179)

Segundo Costa (1997, p. 65), na contemporaneidade, através de sua prática, o artista possui o privilégio de agregar elementos técnicos, digitais, humanos etc. Dessa forma, aumenta-se a produção de arte que se solidifica por meio de sistemas de fluxos sociais e, automaticamente, os mitos de inspiração artística e contemplação são postos à bancarrota. Para Costa, se houve mudanças na produção em arte é porque os meios que produzem subjetividade também sofreram mudanças. Para esse autor, a arte não é simples continuidade e extensora do indivíduo e sim sua virtualização. “Neste sentido, a estética é também

virtualizante, pois imprime a transcodificação permanente ao real. Ela é um processo de semiotização do verbal que está plenamente presente na produção global” (ibidem, p. 65)

CAPÍTULO II – BOURRIAUD E AS TENDÊNCIAS