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Experimentações artísticas com redes sociais

CAPÍTULO II – BOURRIAUD E AS TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

2.3. Outras vertentes de engajamento social na arte contemporânea

2.3.5. Experimentações artísticas com redes sociais

2.3.5.1. Redes sociais

Antes de falarmos das experimentações artísticas com redes sociais na internet, convém definir rede social.

Uma rede social pode ser entendida como o agrupamento de dois elementos: as conexões e os atores (instituições, grupos e pessoas). Através dos atores, a rede social é estabelecida por meio de interligações que são proporcionadas pelas relações sociais e por laços. Essas conexões engajam as pessoas por meio de uma interação social (WASSERMAN; FAUST; GEGENNE ; FORSÉ apud RECUERO,;2004, p. 3).

2.3.5.2.Redes sociais na internet

A mídia digital tem como poder intrínseco – seja através de tecnologias móveis ou estáticas – conectar pessoas em redes. Além disso, vimos que as redes têm sido largamente desenvolvidas graças às tecnologias digitais. A troca ou união de arquivos por meio da internet já faz parte do cotidiano da maioria das pessoas que se vêem conectadas através da

7 Devido aos métodos avançados de processamento de dados que as tecnologias digitais oferecem, privacidade, proteção e controle dos meios de informações tornaram-se questões urgentes, que também desempenham um papel cada vez mais importante na criação de arte.

rede mundial de computadores. Surgiram, dessa forma, sites promovidos por indivíduos, organizações sem fins lucrativos e companhias particulares, que tinham o intuito de promover a ligação entre internautas, além possibilitar a troca e a publicação de arquivos multimídia. Em pouco tempo essas páginas, chamadas fotologs, web blogs, wikis,8 tornaram-se a principal forma de publicação individual de conteúdo. Além dos blogs, outro modo de conexão de pessoas, troca e publicação de conteúdo e informação é oferecido pelas chamadas redes sociais ou sites de relacionamento, como o MySpace, You Tube, Flicker, Orkut, entre outros.

Em 2004, no O’Reilly Media, a concepção das páginas de redes sociais deu origem ao termo Web 2.0. A Web 2.0 se baseia na revolução dos negócios na internet, por meio dos efeitos proporcionados pelas redes sociais. O novo conceito foi calcado na possibilidade de filtrar, ocultar e restringir acesso a conteúdos de acordo com a opção de usuários que sites como o Orkut permitia. Essas possibilidades de restrição, também encontradas nas redes de relacionamento como o Flickr, o MySpace ou Facebook, permitiram um crescente número de adeptos fascinados pela relativa privacidade de conteúdo proporcionada pelos filtros.

Segundo Paul, essas espécies de filtro possuem um aspecto problemático. Para a autora, a partir do momento que o usuário tem a possibilidade de restringir o acesso a seus arquivos através dos filtros, o internauta passa a ter extensivos direitos sobre os conteúdos com que ele contribui nas redes sociais. Essas possibilidades de restrição de acesso incitam interessantes discussões a respeito da autoria e da preservação de informações. Além disso, Paul atenta para o fato de que, em vez da Web 2.0 reconfigurar as plataformas e gerar ações efetivamente em rede, o novo conceito provê nada mais do que um grande e “hiperlincado” ambiente de disseminação, que possibilita a fácil restrição de acessos. Alerta Paul,9 “Network commons include plataforms that help creative and cultural communities stay informe and improve policies that shape cultural life. At same time, the commercial construct of Web 2.0 with its social networking tools has created a new, contemporary version of users as ‘content providers’ who fill contextual interfaces of data” (PAUL, 2008, p. 234).

8 Páginas que permitem que vários atores adicionem ou modifiquem conteúdos. 9

As comunidades em rede incluem plataformas que ajudam a criatividade e a cultura, informam e melhoram as políticas que moldam a vida cultural. Ao mesmo tempo, a construção comercial da Web 2.0, com suas

ferramentas de rede social criou uma nova versão contemporânea de usuários tornando-os “ fornecedores de conteúdos” que preenchem as interfaces com dados contextuais.

2.3.5.3. Art + social + networking

Alguns artistas utilizam as redes sociais para produzir propostas artísticas, dentre eles podemos citar Aninna Rüst, Angie Wallers, Golan Levin em associação com Kamam Nigam e Jonathan Feinberg.

Aninna, em seu projeto de 2006 Sinister Social Network, utiliza a popularidade das redes Facebook, My Space e Friendster para explorar seus “paradigmas soturnos”. A artista, em associação com o grupo de pesquisa Computing Culture, de Boston, estabeleceu uma espécie de vigilância nos sites de rede social. Essa vigilância foi promovida por um programa que permitia o acesso a conteúdos e que identificava e analisava comportamentos suspeitos dos usuários dentro das plataformas de comunicação. O objetivo da proposta é apontar para o potencial de geração de intrigas, conspirações e inimizades que as redes sociais na internet podem causar. Os usuários também podiam participar da obra ao se cadastrarem na página e inserirem conversações conspiratórias retiradas dos sites de relacionamento. A proposta também contou com fórum de discussões e participações por telefone.

Outro projeto semelhante ao Sinister é o myfrienemies.com (2007), de Angie Wallers. Nesse projeto, a artista atenta para questões de “amizade” dentro dos ambientes das redes sociais. Na proposta são evidenciados os pontos mais negativos das amizades e das alianças estabelecidas através das páginas de relacionamento. Ao contrário do que prega a maioria das redes sociais nas quais se pretende unir pessoas por meio de suas afinidades, o

myfrienemies.com visa unir usuários através do que eles menos têm em comum. Assim como as páginas usuais de relacionamento, o projeto contém espaços para depoimentos, contatos e classificação de usuários, sempre com intuito de fortalecer as inimizades, os aspectos de repugnância e desafeto entre as pessoas.

Golan Levin, em trabalho conjunto com Nigam e Jonathan Feinberg, utiliza em seu projeto uma das primeiras formas de associação em rede e publicação individual de conteúdo na internet: os blogs. O projeto Dumpster, de 2006, foi criado por Golan Levin, Nigam e Feinberg com base nos blogs que restringem acesso a certas informações para usuários que não fazem parte da rede social do proprietário da página. A proposta consiste num sistema interativo on-line no qual o usuário pode visualizar uma coleção de relatos de brigas românticas entre adolescentes. As descrições foram retiradas de vários blogs norte-americanos

e hoje totalizam 20.000 postagens, que são catalogadas de acordo com as características em comum. 10