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Assoreamento no curso médio do córrego Laranja Doce

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL (páginas 83-107)

Na época das cheias, o córrego transborda, depositando nas margens grande quantidade de sedimentos. Nessas áreas formam-se grandes planícies sedimentares, onde o rio desenvolve curvas, denominados meandros.

O curso inferior do rio correspondente às zonas próximas de sua foz, a inclinação do terreno torna-se quase nula e há muito pouca erosão e transporte. O vale apresenta-se alargado e o córrego corre sobre os sedimentos depositados.

5.1.6.4.3 Morfogênese das vertentes

Segundo Penteado (1978), o relevo se constitui de uma grande variedade de tipos de encostas, desde superfícies retilíneas quase verticais, até vertentes tão suavemente inclinadas que quase se aproximam da horizontalidade. Entretanto a maior parte das vertentes apresenta formas convexo-côncavas com ou sem segmentos retilíneos intercalados.

Christofolletti (1980, p. 27), afirma que os processos morfogenéticos são responsáveis pela esculturação das formas de relevo, representando a ação da dinâmica externa sobre as vertentes. Constituem fenômenos de escala métrica ou decimétrica, e o seu estudo traz informações de ordem teórica, explicando a evolução das vertentes e a esculturação do relevo e no campo prático fornece informações a propósito da melhor aplicabilidade das técnicas de conservação dos solos.

O mesmo autor destaca a utilização do perfil transversal dos vales, como critério de classificação, favorece a distinção de um número quase infinito de tipos, por causa das nuances que surgem.

Para análise do relevo foram elaborados dois perfis topográficos, CD e EF (Ilustração 5.15). Esses perfis demonstram as características do relevo da área de estudo, com talvegues suaves, interflúvios planos e tabulares sem variações abruptas de relevo.

Através da elaboração dos perfis transversais da bacia, constatou-se que os processos de esculturação que atuam sobre as vertentes reduzindo sua

declividade e altitude, se fazem em função da escavação do vale, apresentando o predomínio da erosão linear. Caracterizam-se por vales estreitos, fortemente encaixados, vertentes lisas, sempre cobertas de solo, com declives quase constantes. Pode-se classificar como vertente equilibrada, onde em nenhum ponto do perfil a remoção de material excede o intemperismo, esculpida em material homogêneo e maciço (Ilustração 5.15).

260 280 300 320 340 360 380 400 420 E F C D

Córrego Laranja Doce

Córrego Laranja Doce

Córrego Laranja Lima

Córrego Hum

0 4000 8000 12000 16000 20000 24000

Ilustração 5.15 - Perfis Transversais da microbacia do córrego Laranja Doce. Fonte: Soares Filho, 2006.

De acordo com as amplitudes altimétricas, foram identificados primariamente dois compartimentos que identificam morfologias distintas, caracterizadas por:

a) Colinas suavemente onduladas: com altitudes variando entre 300 a 440 m, caracterizadas por vales em V, abertos e vertentes côncavas, com dissecação fluvial e densidade de drenagem baixa (Foto 5.7);

Foto 5.7 - Vista panorâmica de colinas suaves com altitudes variando entre 300 a 440 m. Fonte: Soares Filho, 2005.

Planícies: com altitudes inferiores a 300 m, caracterizados por vales abertos sobre materiais colúvio-aluvionares, de ocorrências expressivas ao longo dos cursos d’água (Foto 5.8);

Foto 5.8 - Planície aluvial na confluência do Laranja Lima com o Laranja Doce, com altitude inferior a 300 m.

Fonte: Soares Filho, 2004.

A análise do mapa hipsométrico da área da microbacia com a locação de curvas de nível com diferença de cota de 20 m nos permitiu estabelecer

diversos compartimentos com declividade semelhante. A cota máxima de 464 m e a mínima de 283 demonstra a pequena variação altimétrica em toda a área da microbacia.

O uso de coverages com as curvas de nível, pontos cotados e da hidrografia permitiu a elaboração de modelos digitais do terreno (DEM – Digital

Elevation Models).

Estes modelos ressaltam as principais feições morfológicas da área como se pode visualizar nas ilustrações 5.16 e 5.17, permitindo a observação do relevo da área através de vários ângulos de visada.

Ilustração 5.16 - Modelo Digital do Terreno em 2D referente a microbacia do córrego Laranja Doce.

Ilustração 5.17 - Modelo Digital do Terreno em 3D referente a microbacia do córrego Laranja Doce. Fonte: Soares Filho, 2006.

5.1.6.4.4 Quadro morfoestrutural da área de estudo

Através do levantamento das direções de descontinuidades estruturais baseando-se na rede de drenagem tem-se como destaque respectivamente as direções: N-S, E-W, NW-SE e NE-SW (Ilustração 5.18).

Analisando o mapa de descontinuidades, observa-se que a configuração morfoestrutural da área é direcionada principalmente pelo arranjo de lineamentos orientados segundo NE-SW, seguidas respectivamente por NW-SE e N-S, evidenciando desta forma, as características e padrões estabelecidos pelo quadro morfoestrutural da região.

Cabe destacar que uma significativa parcela dos traços gerais da configuração atual da paisagem é devida ao quadro morfotectônico elaborado durante o processo distensivo de abertura do Atlântico Sul, e que certamente exerceu forte influência na elaboração do quadro mais recente. (SANTOS, 1999, p.103).

720 740 760 7540 7560 s22°10` s22°00` 0 3,5 7,0 10,5 km ESCALA

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Ilustração 5.18 - Mapa de Descontinuidades da microbacia do córrego Laranja Doce. Fonte: Fotointerpretação das aerofotos 1:60.000 USAF (DSG/1966)

Elaborado por: Soares Filho & Comunello, 2006.

s23° s21° w56° w54° MATO GROSSO DO SUL PARAGUAI PARANA N - S DIREÇÃO DE DESCONTINUIDADES ESTRUTURAIS BASEADOS NA REDE DE DRENAGEM (JUNTAS OU FALHAS)

E - W NW - SE NE - SW Córr. Córr. Córr . Brilhante São Domingos Laranja CórregoHum Córr. Panambi Córrego Cruz Córr .São João Laranja Azeda Doce Laranja Doce Córr . Córr . Laranja Lima Sardinha Rio Rio

Este mapa é parte integrante da Dissertação de Mestrado intitulada: “

” , E l a b o r a d o sob a orientação do Profº Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto.

Análise Ambiental para a preservação da Microbacia do córrego Laranja Doce, Dourados-MS

5.1.6.4.5 Morfotectônica

Segundo Facincani (2000, p. 35) o termo morfotectônica consiste no estudo de processos geradores de formas, relacionados a qualquer tipo de atividade tectônica.

A determinação do quadro morfotectônico da área baseou-se em análise conjunta de feições da rede de drenagem e de relevo, e da configuração atual dos registros sedimentares cenozóicos, indicativos de atuação tectônica cenozóica e recente.

A atividade tectônica cenozóica conferiu à área forte controle tectônico­ estrutural, o qual vem promovendo, ao longo do tempo, significativa modificação na paisagem principalmente através do rearranjo da rede de drenagem e conseqüentemente das formas de relevo.

A área apresenta uma provável divisão em três blocos morfotectônicos I, II e III, limitados por descontinuidades representadas por juntas e falhas a partir das nascentes para a foz, de direção SW-NE, em direção ao Rio Brilhante (Ilustração 5.19).

Christofoletti (1980) define terraços como antigas planícies de inundação que foram abandonadas. Cita ainda a possibilidade de se formar uma planície de inundação em nível mais baixo, acompanhada de nova fase erosiva sobre o embasamento rochoso do fundo do vale. Esse entalhamento pode ser resultado de movimentos tectônicos, de abaixamento do nível de base ou de modificações no potencial hidráulico do rio, ocasionando a formação dos denominados terraços encaixados.

De acordo com a definição é possível relacionar também a morfotectônica, um antigo terraço suspenso detectado a nordeste no limite da bacia. O mesmo encontra-se nas bordas da escarpa e, muito acima do nível atual de erosão, sugerindo um soerguimento da área, relacionado a qualquer tipo de atividade tectônica.

0 3,5 7,0 10,5 km

ESCALA

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

s23° s21° w56° w54° MATO GROSSO DO SUL PARAGUAI PARANA LEGENDA Tipos de Vertentes Retilínea Côncava Convexa Convexa - Côncava

Zona de fraqueza: juntas e falhas (recentes e reativadas) Escarpa secundária

Patamares com influência litológica e/ ou estrutural

Terraços

“V”- Vales encaixados “U”- Vales abertos

Zona de captura de drenagem

V U Rede de Drenagem Cotas topográficas 200 a 300m Cotas topográficas 300 a 400m Cotas topográficas 400 a 500m Córr. Córr. Córr . Brilhante São Domingos Laranja CórregoHum Córr. Panambi Córrego Cruz Córr .São João Laranja Azeda Doce Laranja Doce Córr . Córr . Laranja Lima Sardinha Rio Rio 22 2 22 55 5 5 5 5 55 5 55 5 55 5 5 55 55 55 5 5 5 5 5 2 2 22 2 22 22 22 22 2 2 2 2 22 2 2 22 22 2 2 2 2 2 22 22 2 22 5 5 5 5 5 5 5 55 5 5 5 5 5 5 5 5 55 55 5 55 22 2 5 5 5 2 2 2 2 22 2 2 2 2 2 22 22 2 2 2 22 2 2 2 2 222 2 2 2 2 22 2 2 2 22 2222 2 2 2 2 2 2 22 2 222 222 2 2 22 2 2 2 2 22 2 2 2 2 2 22 22 2 22 22 2 22 2 2 2 2 22 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 22 22 2 222 5 5 5 5 5 5 2 2 2 2 2 2 2222 2 2 2 2 22 2 22 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 22 2 2 2 2 2 2 222 2 ll ll l llll l l l lll l ll l llll l l l ll ll l l ll l l ll ll l ll l l ll l l ll l l ll ll l ll l l l ll ll ll l l l ll l l l ll lll ll ll ll l l l ll l l l ll ll l l l l l l llll lll l ll l l l ll ll l ll l l l l l l l l l l l l l l l l l l l l ll ll l l l l l llll lll l ll l l l ll ll l ll l l l l l l l l l l l l l l l l l l l l ll l V V V V V V U U U U U U U U U 720 740 760 7540 7560 s22°10` s22°00` BLOCO I BLOCO II BLOCO III

Este mapa é parte integrante da Dissertação de Mestrado intitulada: “

” , E l a b o r a d o sob a orientação do Profº Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto.

Análise Ambiental para a preservação da Microbacia do c ó r r e g o L a r a n j a D o c e , D o u r a d o s - M S

UFMS

Mapa Morfotectônico

DIREÇÃO DE DESCONTINUIDADES ESTRUTURAIS BASEADOS NA REDE DE DRENAGEM (JUNTAS OU FALHAS)

N - S E - W NW - SE NE - SW

Ilustração 5.1 - Mapa9 Morfotectônico da microbacia do córrego Laranja Doce. Fonte: Fotointerpretação das aerofotos 1:60.000 USAF (DSG/1964)

Através da análise das curvas de nível e da utilização da metodologia De Biasi (1992), numa área de 715 km2, foram criadas 06 (seis) classes de declividades dentro da microbacia do córrego Laranja Doce. Entretanto para melhor análise foram agrupadas em 04 (quatro) classes apenas, classe A de 0% a 2%, classe B de 2% a 5%, classe C de 5% a 8%, e classe D de 8% a 12% (Ilustração 5.20)

A classe A – Muito suave – representa a declividade entre 0 a 2%, ocupando principalmente a área média e baixa do curso da bacia, e abrange cerca de 457,63 km2 ou (63%), dos terrenos da bacia do córrego Laranja Doce.

Observa - se que esta classe é a mais significativa na microbacia do Córrego Laranja Doce, sendo considerada uma bacia com declividade predominantemente suave, onde o escoamento superficial é muito lento. O terreno não oferece nenhuma dificuldade ao uso de máquinas agrícolas e não existe erosão hídrica significativa.

A classe B - Suave – apresenta declividade como uma variação entre 2% a 5% que abrangem uma área e 265,19 km2 ou (36%), sendo a segunda classe mais expressiva na bacia do Córrego Laranja Doce, estando mais concentrada no médio e alto curso da microbacia. Nesta área o escoamento superficial é considerado lento ou médio, sendo assim considerada muito boa para a ocupação antrópica.

A classe C - Suave ondulado – apresenta declividade entre 5 a 8%, ocupa uma área 6,84 km2, ou (1%) da microbacia. São áreas identificadas no alto e médio curso da bacia, são áreas de superfícies inclinadas, nas quais o escoamento superficial, na maior parte dos solos, é médio ou rápido. Em alguns casos, a erosão hídrica oferece poucos problemas ou então pode ser controlada com práticas; na maior parte das vezes, porém, práticas complexas de conservação do solo são necessárias, para que solos com essa declividade possam ser cultivados.

A classe D – Ondulada – com declividade entre 8 a 12%, abrange uma área de 0,18 km2, ou menos de 1% da área da bacia do Córrego Laranja Doce. Constata-se que concentração dessa classe está no alto e médio curso da bacia.

Compreende áreas muito inclinadas, onde o escoamento superficial é rápido na maior parte dos solos, sendo considerada a sua área no uso e ocupação com restrições.

Declividade da microbacia do córrego Laranja Doce 00 - 02 02 - 05 05 - 08 08- 12 63% 36% 1% 0%

Gráfico 5.6 - Declividade da Área de Estudo Fonte: Soares Filho, 2006.

0 3,5 7,0 10,5 km

ESCALA

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

s23° s21° w56° w54° MATO GROSSO DO SUL PARAGUAI PARANA LEGENDA Classes de declividade D r e n a g e m 0 a 2 % 2 a 5% mais que 8% 5 a 8%

Ilustração 5.20 - Mapa de Declividade de microbacia do córrego Laranja Doce. Fonte: Elaborado a partir dos dados do Shuttle Radar Topography Mission, SRTM (2005) Elaborado por: Soares Filho & Comunello, 2006.

720 740 760 7540 7560 s22°10` s22°00` Córr. Córr. Córr . Brilhante São Domingos Laranja CórregoHum Córr. Panambi Córrego Cruz Córr .São João Laranja Azeda Doce Laranja Doce Córr . Córr . Laranja Lima Sardinha Rio Rio

Este mapa é parte integrante da Dissertação de Mestrado intitulada: “

” , E l a b o r a d o sob a orientação do Profº Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto.

Análise Ambiental para a preservação da Microbacia do córrego Laranja Doce, Dourados-MS

5.1.7 Aspectos Sócio-Econômicos

5.1.7.1 A urbanização de Dourados e Douradina

O Município de Dourados situado, ao sul do Estado de Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil, pólo econômico regional formado por mais de 30 municípios, distante 221 km da capital, Campo Grande, e das divisas de Guaira no Paraná, 226 km, e do Paraguai (Pedro Juan Caballero), 120 km, ocupando uma área de 4.137,19 km2.

Elevado a categoria de município pelo decreto de nº. 30 de 20 de dezembro de 1935, com uma população estimada em 20.000 habitantes, atualmente conta com 164.949 habitantes, em uma área urbana de 75,76 km2, onde estão fixados mais de 90% de sua população.

Silva (1996) apud Freitas Filho (1999) cita que a ocupação efetiva dessa região por brasileiros concretizou-se com a implantação da Colônia Agrícola de Dourados – CAND. “Criada em 1943, além de fixar 6.200 famílias de colonos, cumpriu também o papel de atrair para a região os interesses do capital privado”.

Os projetos de desenvolvimento econômicos passados e atuais, para esta região do Estado de Mato Grosso do Sul aconteceram de forma a priorizar o atendimento às demandas do comércio exterior.

Em 1970, possuía uma população de 79.260 habitantes dos quais 40% (31.611) viviam na zona urbana e 60% (47.649) na zona rural. Em 1991, segundo o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Dourados já contava com 135.984 habitantes, com um incremento populacional de 118% em apenas 20 anos. Além do intenso crescimento houve também a inversão desta população, ou seja, desse total, 122.856 (90%) passaram a morar na zona urbana e apenas 13.128 habitantes (10%) na zona rural.

O Município de Douradina em 1991 possuía uma população de 4.741 habitantes dos quais 48% (2.254) viviam na zona rural e 52% (2.484) na zona urbana. Enquanto em 2000, contava com uma população de 4.732 habitantes,

desses 43% (2.029) fixavam-se na zona rural e 57% (2.703) residiam na zona urbana do município, de acordo com o censo do IBGE.

Segundo o censo do IBGE, realizado em 2000, o Município de Dourados possui uma população de 164.949 habitantes, sendo que 149.928 residem na zona urbana e 15.021 na zona rural, conservando as mesmas proporções, ou seja, mais de 90% dos habitantes do município são residentes na zona urbana. Os dados referentes a evolução da população total e rural do município de Dourados está destacado no gráfico 5.7.

Evolução da População Total e Rural de Dourados MS, entre 1970 e 2000 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000 160.000 180.000 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

População Total População Rural

Gráfico 5.7 - Evolução da população total e rural de Dourados entre 1970 e 2000

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 - Mato Grosso do Sul.

Elaborado por: Soares Filho, 2005.

5.1.7.2 Aspectos da urbanização do Mato Grosso do Sul e da Micro-Região Geográfica de Dourados

Segundo Terra (2004) a elevada propagação da lavoura mecanizada no Mato Grosso do Sul, em especial na região de Dourados, desencadeou transformações profundas no arranjo da espacialização da população no espaço

regional, afetando tanto o meio rural, quanto o espaço urbano. A expansão do novo sistema agrícola determinou uma profunda inversão demográfica que se manifestou no esvaziamento do campo e a conseqüente urbanização acelerada.

A partir da introdução do novo modelo agrícola atrelado aos respectivos complexos agroindustriais, configurou-se um sistema agrícola cujo funcionamento requer um grande consumo de máquinas e insumos agrícolas industrializados, desencadeando um intenso processo de tecnificação da agricultura e também, desarticulando a estrutura agrária herdada do período anterior, embasada na pequena propriedade familiar. Tais fatores concorreram decisivamente para a eliminação de postos de trabalho no campo.

A maciça transferência da população do campo para a cidade deveu­ se, também, à crescente concentração de investimentos federais, a partir de 1970, no espaço urbano, criando oportunidades de empregos na cidade.

A intensidade do êxodo rural da área de estudo, pode ser dimensionada com o exame da evolução dos contingentes de população rural através dos dados censitários fornecidos pelo IBGE que constam no quadro 5.3:

Evolução da população total, da população rural de Dourados, Douradina e Mato Grosso do Sul, entre 1970 e 2000.

Cidades POPULAÇÃO TOTAL POPULAÇÃO RURAL

1970 1980 1991 2000 1970 1980 1991 2000

Douradina --- --­ 4.741 4.732 --­ --- 2.254 2.029

Dourados 79.260 106.493 135.984 164.949 47.649 21.644 13.128 15.021

Mato Grosso do

Sul **1.600.494 1.369.567 1.780.373 2.078.001 914.719 450.444 365.926 330.895

** Estado de Mato Grosso Nota (---) Dados inexistentes.

Quadro 5.3 - Evolução da população total e rural da microbacia e Mato Grosso do sul entre 1970 e 2000.

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 – Mato Grosso do Sul. Elaborado por: Soares Filho, 2005.

De acordo com o mesmo autor, o Estado de Mato Grosso apresentava, em 1970, uma população total de 1.600.494 habitantes sendo deste total, 914.719 habitantes residentes na zona rural, o que correspondia a 57,15% de todo o contingente demográfico, enquanto 42,85% correspondiam à população urbana. A partir desta década, após a divisão do Estado, efetivada em 1977, essa distribuição foi radicalmente invertida. Desta forma em 1980, a população absoluta

do Estado do Mato Grosso do Sul sofreu um decréscimo de 230.927 habitantes, equivalendo a uma redução de 14,42%, e a população rural sofreu uma redução relativa e absoluta, passando a somar apenas 32,88% do total (Gráfico 5.8).

Evolução da População Total e Rural em Mato Grosso (1970) e Mato Grosso do Sul

entre 1980 e 2000 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

População Total População Rural

Gráfico 5.8 - Evolução da população total e rural em Mato Grosso (1970) e Mato Grosso do Sul entre 1980 e 2000.

Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 - Mato Grosso do Sul.

Elaborado por: Soares Filho, 2005.

Esta nova forma de organização espacial sul-mato-grossense provocou um intenso êxodo de colonos, que se dirigiram para a Região Norte (principalmente Rondônia) ou se transferiram para os centros urbanos mais próximos.

Este processo continuou sua marcha também durante os anos de 1980 a 1990. Dos 1.780.373 habitantes que totalizavam a população do Estado em 1991, 1.414.447 eram residentes urbanos, que correspondiam a 79,44% do total. A população rural continuou sofrendo retraimento, alcançando apenas 365.926 habitantes, isto é, representando pouco mais de 20% do total.

O Censo demográfico de 2000 revelou que a população total de Mato Grosso do Sul manteve sua tendência de crescimento, atingindo uma população

de 2.078.001 habitantes, da mesma forma em que a população rural manteve sua trajetória decrescente, com apenas 330.895 habitantes representa apenas 15,92% da população total.

Situação semelhante se reproduziu no mesmo período, na Micro-região Geográfica de Dourados3, abrangendo os municípios de: Amambaí, Antônio João, Aral Moreira, Caarapó, Douradina, Dourados, Fátima do Sul, Itaporã, Juti, Laguna Caarapã, Maracaju, Nova Alvorada do Sul, Ponta Porã, Rio Brilhante e Vicentina (Ilustração 5.21).

3

As micro-regiões geográficas são definidas como parte das meso-regiões que apresentam especificidades quanto à organização do espaço. Estas especificidades não significam uniformidade de atributos, nem conferem às microrregiões auto-suficiência e tampouco o caráter de serem únicas, em virtude de sua articulação a espaços maiores, quer a meso-região, à unidade da Federação, quer à totalidade nacional. Estas especificidades referem-se à estrutura de produção, agropecuária, industrial, extrativismo mineral, ou pesca. Estas estruturas de produção diferenciadas podem resultar da presença de elementos do quadro natural ou de relações sociais e econômicas particulares. (...) A organização do espaço micro-regional é identificada, também, pela vida de relações no nível local, isto é, pela interação entre as áreas de produção local de beneficiamento e pela distribuição de bem e serviços de consumo freqüente. Assim, a estrutura da produção para a identificação das micro-regiões é considerada em sentido totalizante, constituindo­ se pela produção propriamente dita, distribuição, troca e consumo, incluindo atividades urbanas e rurais. (IBGE, 1989: 02)

Ilustração 5.21 – Micro-região homogênea de Dourados.

Nota: A - Mato Grosso do Sul com destaque para a Micro região Homogênea de Dourados; B – Micro região homogênea de Dourados segundo IBGE.

Dessa forma, a população rural, que em 1970 somava 164.746 habitantes e correspondia a 66,92% do contingente demográfico total, foi reduzida em 1980 para 116.256 habitantes, perfazendo 36,00% da população total da Microrregião. Em 1991, esse contingente da população rural diminuiu para apenas 79.456 habitantes, passando a representar somente 23,34% da população total. Enquanto, em 2000 dos 407.512 habitantes da Microrregião, apenas 75.787 habitantes eram rurais, ou seja, apenas 18,59%.

Analisando o percurso histórico da colonização do Sul do Mato Grosso do Sul, é possível inferir que, a partir da década de 1970, teve início um conjunto de intervenções programadas do governo federal que se estenderam até 1985 e visavam à modernização agrícola do Estado. Essas intervenções provocaram significativas transformações na economia do Sul do Estado, pois foi deslocando o eixo da atividade pecuária para uma agricultura moderna, produzindo profundas modificações nas relações de trabalho e conduzindo a região ao desenvolvimento econômico.

Com base na análise dos dados censitários, apresentados, tem se uma idéia precisa da magnitude modernização da agricultura no Mato Grosso do Sul em especial na Microrregião Geográfica de Dourados, pautada sobre tudo, no binômio trigo-soja que desencadeou profundas transformações no arranjo espacial regional. As mudanças não afetaram apenas o meio rural, mas produziram impacto com igual intensidade no espaço urbano. A expansão do novo sistema agrícola determinou uma surpreendente inversão demográfica que se manifestou na simultaneidade de dois processos complementares: o esvaziamento do campo e a urbanização acelerada.

Ou seja, com a introdução desse novo modelo agrícola, o espaço regional foi dotado de um novo conteúdo de técnica e ciência que ocasionou mudanças nas relações sociais de produção e de trabalho, alterando a paisagem regional, agora altamente tecnificada e integrada ao progresso.

O vigor dessa tecnificação vislumbra-se através do acelerado processo de tratorização da agricultura regional, assim como pelo incremento na quantidade

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