BNH III plano Av Hayel Bon Faker
Foto 5.22 Esgoto lançado in natura no Córrego Laranja Doce, área localizada nos
Fonte: Soares Filho, 2004.
5.2.4 Diversos
Outro fator que a destacar é o valor histórico desta microbacia, foi o local de instalação da primeira Usina Termoelétrica da cidade de Dourados, a Usina Sen. Filinto Muller, na década de 40.
O córrego Laranja Doce, que na época foi represado por fornecer água para abastecer a caldeira da Usina, mantinha o local arejado. Era um local com muitas árvores e pássaros e as crianças aproveitavam para tomar banho de rio aos domingos (FERREIRA, 1998).
Consta no Plano Diretor do Município de Dourados em seu Art. 29 que a Política Urbana deverá atender a diversas Diretrizes, entre elas a Preservação, Proteção e Recuperação do Patrimônio Natural e Construído, Cultural, Histórico, Artístico, Paisagístico e Arqueológico.
Desativada desde 1952 o prédio da Usina Filinto Muller encontra-se praticamente abandonado, restando apenas parte da construção do prédio, enquanto que a fornalha e a chaminé estão menos danificadas. Constatou-se em visita ao local, indícios de depredação - a cerca colocada pela Prefeitura Municipal de Dourados para controlar o acesso ao local foi derrubada, provavelmente por atos de vandalismo. Ainda assim, o local conserva um aspecto paisagístico muito bonito e possui um valor histórico inestimável para a cidade de Dourados (Foto 5.23).
Foto 5.23 - Usina Sen. Filinto Muller - Patrimônio Histórico do Município de Dourados – MS. Fonte: Soares Filho, 2005.
O presente trabalho resultou da análise conjunta dos dados das cartas temáticas elaboradas e do levantamento de campo ocorridos nos anos de 2004/ 2005, na cidade de Dourados – MS. O levantamento e análise dos aspectos geológico-geomorfológicos, pedológicos, fitoecológicos e uso e ocupação dos solos, mostraram de grande valia na categorização dos ambientes identificados nos setores da microbacia analisados.
A integração de técnicas empregadas, como sensoriamento remoto e geoprocessamento para o levantamento do uso e da ocupação dos solos e a análise cartográfica desses produtos mostraram-se bastante eficiente.
Os procedimentos aplicados a microbacia do córrego Laranja Doce permitiram chegar as seguintes conclusões:
- A estrutura geológica desempenha papel importante sobre a ação erosiva dos canais fluviais. As variações litológicas e as linhas de fraqueza estão associadas às freqüentes rupturas de gradiente ao longo dos perfis longitudinais do rio. O substrato geológico mais resistente condiciona a permanência de níveis de base locais de erosão, nos leitos fluviais da área às soleiras desempenham este papel.
- O relevo da área de estudo apresenta-se bastante dissecado, seja em função do clima, pela falta de cobertura vegetal ocasionada pela ação antrópica ou pela ação conjunta desses fatores. Visto que a litologia local, representada pelo basalto, é altamente suscetível aos ataques intempéricos e a falta da cobertura vegetal associada ao clima, favorecem a aceleração desses processos.
- Constituída por basaltos da Formação Serra Geral em relevo com declividade entre 0 e 5%, os solos classificados como Latossolo Vermelho Férrico, possuem baixa susceptibilidade à erosão, são bem drenados com nível d’água abaixo de 4,0 m, e constituem o maior percentual dos solos da microbacia do córrego Laranja Doce.
Localmente podem ocorrer problemas em relação à absorção de efluentes sépticos devido a composição argilosa do solo e também a baixa
percolação. Alagamentos temporários podem ocorrer devido à baixa declividade do terreno, entretanto, são os locais mais recomendáveis para a ocupação humana.
- Em relevo com declividade >5%, em solos classificados como Gleissolos Háplico Ta eutrófico típico, também são terrenos com baixa susceptibilidade à erosão, mal drenados geralmente ocorrem em fundos de vale e áreas úmidas ou alagadiças. O nível d’água pode ser aflorante ou pouco profundo, são terrenos com baixa capacidade de carga, espera-se para esses locais alagamentos, contaminação das águas superficiais e em caso de habitações o transbordamento de fossas sépticas.
Em algumas áreas de Latossolos como de Gleissolos, apesar da baixa susceptibilidade à erosão, apresentam problemas de estabilidade dos solos, merecendo um estudo mais detalhado.
Ressalta-se que, por desempenharem um importante papel na dinâmica hidrológica, deve-se evitar a drenagem artificial dos locais de ocorrência dos Gleissolos. São locais não recomendáveis à concentração urbana, recomendando-se sua utilização como reservas e parques. Na área rural da microbacia, esses locais foram intensamente ocupados com culturas como rizicultura piscicultura e horticultura entre outras.
- A área da bacia ocupada pela agropecuária, estudada no período entre 1964 e 2001, apresentou um incremento de aproximadamente 12,5%, e, muitos impactos já podem ser observados, entre eles destaca-se o aumento dos sedimentos no leito do córrego, a intensa retirada da cobertura vegetal e a utilização constante de agroquímicos.
É necessário que as práticas agropecuárias, na microbacia hidrográfica do córrego Laranja Doce, considerem, a vocação agrícola dos solos, a necessidade e importância de redução de uso do disco, do incentivo ao plantio direto e cultivo mínimo, do aumento das barreiras naturais como as cercas vivas, da manutenção da cobertura vegetal e da proteção dos corpos d’água a fim de promover a sustentabilidade.
- Os valores das áreas úmidas estudadas entre 1964-2001, demonstraram uma redução em torno de 15%, enquanto que a cobertura vegetal, no mesmo período, também apresentou modificações, houve uma redução de aproximadamente 52%, evidenciando a vegetação como o ecossistema mais intensamente utilizado pelo homem, por possuírem solos férteis e úmidos estão sendo substituídas pela agropecuária.
- A área verde constata-se em trechos restritos e isolados e, encontra se totalmente degradada, apresentando a vegetação natural substituída por lavouras e pastagens e a vegetação ciliar pouco significativa.
O tipo de vegetação encontrado atualmente, provavelmente, reflete o processo generalizado de desmatamento no município durante a sua ocupação e sua expansão. A vegetação nativa foi gradativamente sendo retirada, cedendo lugar às espécies introduzidas, esse processo atingiu também os fundos de vale (Foto 6.1).
Foto 6.1 - Plantação de eucaliptos a margem do córrego Laranja Doce.