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De modo geral emergiram diversos assuntos nas publicações, o que por usa vez dificulta o entrelaçamento dos conteúdos. Os assuntos mais recorrentes nas publicações são: 1) Gênero e sexualidade, mídia e conteúdo musical na escola; 2) América Latina, gênero e música; 3) Construção da subjetividade nos contextos musicais não-formais9; 4) Identidades de gênero na aula de música na escola; 5) Estratégias de emancipação feminista por meio da música; 6) Reiteração e superação do patriarcado no contexto musical; 7) Juventude, música e feminismo; 8) Multiculturalismo e diversidade na aula de música; 9) Epistemologias feministas e composição musical; 10) Regionalidade, gênero e música na escola; 11) Gêneros musicais e papéis de gênero; 12) Violência sexual e gêneros musicais; 13) Etnomusicologia e gênero.

O número de assuntos é quase similar ao número de publicações, contudo, cabe observar que tais assuntos permeiam uma ou mais de uma publicação, então, muitos assuntos aparecem de modo mais estendido entre as publicações e outros mais sucintos.

Esses treze assuntos foram organizados em três temáticas definidas a partir de suas interconexões, conforme o Quadro 5, a seguir.

Quadro 5 – Temáticas e assuntos dos treze textos analisados

Temática Assuntos

1º Conteúdos musicais

Gênero e sexualidade, mídia e conteúdos musical na escola Construção da subjetividade nos contextos musicais não-formais Identidades de gênero na aula de música na escola

Gênero musicais e papeis de gênero 2º Territorialidades Regionalidade, gênero e música na escola

Etnomusicologia e gênero

8 Estas subdivisões temáticas, em especial, constituem os Capítulos 3, 4 e 5 desta dissertação.

9 Por ensino de música “não-formal” definimos aquele que não acontece especificamente no ambiente escolar propriamente dito, ou conservatorial ou de escola de música especificamente, contudo, tal definição não nega a possibilidade deste ensino de música estar ainda pautado na “forma escolar”, ou seja, ser desenvolvido na perspectiva de que o ensino-aprendizagem musical, mesmo distante da escola, apresenta pedagogias, didáticas, metodologias e sistematizações que são comuns aos ambientes escolares. Tal definição é fruto do diálogo proposto por nós entre Guy Vincent, Bernard Lahire e Daniel Thin (2001) e Maura Penna (2005).

América Latina, gênero e música

3º Estratégias feministas

Estratégias de emancipação feminista por meio da música Juventude, música e feminismo

Reiteração e superação do patriarcado no contexto musical Epistemologias feminista e composição musical

Violência sexual e gêneros musicais

Multiculturalismo e diversidade na aula de música Fonte: elaboração própria, a partir dos dados coletados para esta pesquisa.

Cabe observar que as três temáticas estão relacionados entre si e, em comum, todos os assuntos tratam de educação musical, gênero e sexualidade, foco desta pesquisa. Esta divisão tem por intuito explicitar e focalizar os conteúdos das publicações que, para além de suas consubstancialidades, apresentam especificidades que podem ser agrupadas. A temática (1°)

Conteúdos musicais se circunscreve nas demandas relacionadas à educação musical,

especificamente escolar, em seu viés formal, não-formal e informal, isso a partir de diálogos com Penna (2015) A temática (2°) Territorialidades focaliza naquilo que diz respeito às especificidades locais, ou seja, de reflexão sobre regionalidade, etnicidade e territorialidade políticas, nos sentidos geopolíticos de organização do conteúdo científico. A temática (3°)

Estratégias feministas, foca na organização de reflexões a partir de sua explicitação e

reconhecimento enquanto estratégia de empoderamento e superação das desigualdades e hierarquias decorrentes do gênero e sexualidade.

Para explicitar tais convergências, consubstancialidade e especificidades destes conteúdos, a reflexão sobre estas três temáticas serão pormenorizadas nos três capítulos seguintes.

3 CONTEÚDOS MUSICAIS

A partir das leituras e análises dos resumos e das publicações, algumas temáticas emergiram, uma vez que elas aparecem, ora de modo mais próprio em uma das publicações, em específico, ora se repetindo em diversas publicações.

Neste capítulo, haverá um enfoque temático no que diz respeito ao “conteúdo musical”, porém, de certo modo, algumas das demais temáticas, próprias dos outros capítulos, já aparecerão por aqui.

Por conteúdo musical não fazemos aqui uma divisão específica entre o conteúdo supostamente formal (notas, duração, altura, notação musical...) e conteúdos sociológico ou histórico, uma vez que compreendemos tal divisão obscurece as ações culturais que produzem os diversos gêneros musicais em suas especificidades e certas consubstancialidades. Tal demanda de propagação dos conhecimentos musical emerge dos reconhecimentos das diversas fontes de produção de saberes musicais, algumas mais próprias dos espaços escolares, outras advindas de modos de aprender e de fazer música que se reduzidas à forma canônica ou tradicional (à música erudita) culminam num silenciamento da pluralidade musical.

Dialogando com Kraemer (2000), interessa-nos, portanto, os problemas da apropriação e transmissão da música, tomando dela o sentido de elementos que a constitui em um fazer pedagógico musical, assim como dos efeitos educacionais da música do desenvolvimento da personalidade das relações por meio da música, da participação e produção cultural nas experiências sensitivas.

A isto acrescentamos que, a “música”, na perspectiva defendida aqui, não é uma unidade cuja transmissão pode ser mensurada a um modelo escolar, ou a uma égide formal, mas reconhecemos que, ao assumir as pluralidades dos gêneros musicais, por concomitância, assumimos as diversas formas de se produzir música e nisto, os princípios mais ou menos escolarizados de transmiti-los.

Então, não tomamos por stricto sensu o conteúdo musical, como algo que diz respeito meramente a acessar uma forma musical já eruditizada, mas sim, compreendemos que por “música” e “conteúdo musical” emergem disputas, relações de poder, buscas por sentidos, ressignificação e certa estabilidade, que por vezes emana dos fazeres musicais dos quais se aprendem diante da ação, ou seja, da execução musical, da escuta, do sentimento que tal audição produz, das vestimentas próprias de um gênero musical, da sacralidade que algumas trazem em si, etc.

O conteúdo musical aqui é entendido nas relações de produção e transmissão de conhecimentos musicais. Não cabendo discriminar ou hierarquizar que um conteúdo é mais ou menos musical, em termos hegemônicos, em função de ser mais ou menos feminino, mais ou menos descritivo, mais ou menos desprendido de uma identidade política, mais ou menos escrito, mais ou menos oral, culto ou popular, mais ou menos generalista ou específico.

O conteúdo musical é cultura, ou seja, é ação que se valora por meio produtivo. Não é uma instância que emerge de um aparato puro. Ao contrário, a legitimidade, a pureza, a depreciação, aquilo que é tomado como importante e aquilo que é tomado como abjeto dentro dos fazeres musicais, são eles mesmos instâncias sociais, por vezes, aceitas. É dos emaranhados das relações sociais, históricas e políticas que as ações musicais constituem e que é conteúdo musical.