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2 O Direito à Ampla Defesa

6.2 O Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas de Violência

6.2.1 A atuação do Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e àsVítimas de

6.2.1.2 Atendimento Jurídico na Casa de Privação Provisória de Liberdade

Em observação à superlotação e à situação degradante existente nos Estabelecimentos Penais da Região Metropolitana de Fortaleza (CE), o Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas de Violência realizou entre os dias 22 a 25 de janeiro de 2013 o acompanhamento prisional.

No momento do atendimento, foi preenchido um formulário, no qual constava algumas perguntas previamente formuladas: nome completo, filiação, telefone para contato de um familiar, processos criminais em tramitação, tempo de encarceramento e questionamento sobre utilização ou não de drogas.

Fundamental o esclarecimento que foi realizada uma pesquisa prévia da situação processual de todos os presos provisórios a fim de otimizar o atendimento com a prestação correta de informações sobre ações penais em curso.E, caso verificado o excesso de prazo para a conclusão do processo, os pedidos de relaxamento de prisão foram devidamente elaborados, sendo enviados via e-saj a varas respectivas.

Durante os quatro dias da inspeção, foram atendidos quinhentos e quinze presos, restando apenas as ruas E e F do pavilhão III devido à escassez temporária. Contudo, ficaram responsáveis dois Defensores Públicos do Núcleo para realizar o atendimento em data posterior.91

Em relação ao número de pedidos de Relaxamento de Prisão realizados, foram contabilizados sessenta e oito petições por excesso de prazo expedidas imediatamente. Ademais, foram ainda atendidos cento e vinte e três presos condenados, tendo seus nomes sido enviados através de ofício para atendimento devido no Núcleo de Execuções Penais (NUDEP).

Oportuno ressalvar que foi significativa a aceitação dos presos ao atendimento, tendo apenas duzentos e sete aprisionados recusado auxílio jurídico.

Verificou-se, desde logo, a importância de uma atuação mais incisiva da Defensoria Pública dentro do sistema penitenciário cearense, pois, em semelhança a outros Estados da Federação, o Ceará apresenta uma expressiva quantidade de presos provisoriamente em unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza.

Além disso, deve-se mencionar que a Lei nº 12.313/09 passou a regulamentar a atuação da Defensoria Pública no sistema prisional pela primeira vez na história da legislação brasileira. Logo, tal instituição passou a ter significativa responsabilidade nessa seara.

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De acordo com o Relatório fornecido pela Supervisão do Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas de Violência.

7.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Indiscutivelmente, não se pode afirmar existir Justiça, em qualquer acepção atribuída a este termo, quando não persistem meios eficazes de aplicação dos direitos consagrados em textos legais.

Nesse sentido, andou bem o Legislador Constituinte de 1988 ao expressar sua preocupação no atendimento integral aos indivíduos que comprovassem hipossuficiência.Nada mais coerente, tendo em vista que há décadas a sociedade brasileira permanecia a mercê de Constituições que declaravam direitos, mas não apresentavam mecanismos capazes de efetivá-los.

O direito à ampla defesa, relacionado à primeira dimensão dos direitos fundamentais, não tem uma origem recente, já no Digesto Romano era concebida oportunidade ao orador de funcionar como defensor.Contudo, ao longo do tempo, um novo contorno sobre tal mecanismo de defesa foi sendo apresentado, atualmente seu significado está intimamente relacionado ao devido processo legal.

Já quando trata-se de prisão provisória, impossível não mencionar a promulgação da Lei 12.403/11 que, apesar de ainda permanecer com incoerências no tratamento das prisões cautelares, representou uma nova perspectiva legislativa quanto ao assunto, regulamentando, por exemplo, alternativas ao cárcere e afastando, dessa maneira, o infeliz entendimento de que todas as mazelas sociais devem ser tratadas com o encarceramento.

A proteção do direito à ampla defesa no contexto da prisão provisória não poderia restar mais resguardado do que aquele tratamento dispensado pela Defensoria Pública. Tal órgão, instituído constitucionalmente no art.134 da CF/88, atende aos indivíduos hipossuficientes a fim de sanar não apenas a disparidade jurídica processual, mas reconhecer uma dívida social histórica de não cumprimento dos direitos mais elementares.

A Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará foi inaugurada no ano de 1997 e possibilitou aos cearenses uma proteção mais efetiva de direitos tidos por fundamentais, atendendo a essa demanda , o Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas de Violência (NUAPP) apresenta como um de seus princípios normativos promover a assistência jurídica, social e psicológica aos presos provisórios, as vítimas de violência e aos familiares de ambos, comprovada a hipossuficiência.

É indiscutível o reconhecimento social atribuído à Defensoria Pública em âmbito nacional.Contudo, conforme previsão do texto constitucional: a efetivação de uma sociedade livre, justa e solidária necessita de uma integral atuação das diferentes instituições jurídicas apresentadas na CF/88, cuja estruturação é dever estatal.Caso um desses órgãos não funcione de acordo com o modelo previsto, não se obterá um verdadeiro Estado Democrático de Direito.

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