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2 O Direito à Ampla Defesa

5.4 Atual Panorama da Defensoria Pública no Brasil

Acima demonstramos um breve histórico sobre a implantação institucional da Defensoria Pública. Contudo, não se deveria encerrar o capítulo sem antes visualizar o atual panorama dessa Instituição, esclarecendo alguns de seus principais desafios nos próximos anos.

Assim declara Amélia Soares da Rocha:

A Defensoria Pública é um agente de transformação social, instrumento de realização do primado constitucional da igualdade de todos perante a lei, que se esforça para, da melhor forma possível, dada a ausência de sua devida estruturação (existe Estado brasileiro que em absoluta desobediência à Lei Maior ainda não conta, inexplicavelmente com efetiva Defensoria Pública), mostrar que sem a concretização do direito do acesso à justiça aos necessitados, paz social é uma palavra despida de efetividade. E a paz interessa a todos.

O fato é que valorizar a Defensoria Pública é valorizar o povo brasileiro.74 Como já visto anteriormente, a Constituição de 1988 optou por um formato de liames nacionais para a prestação de serviços que conseguissem resguardar o direito à assistência jurídica gratuita para a população mais carente, adotando uma postura público-estatal.

No ano de 2004, a EC n.45 acabou por assegurar às Defensorias Públicas estaduais autonomia funcional e administrativa, dando-lhes tratamento semelhante ao da Magistratura e do Ministério Público.

Na seara internacional, o modelo adotado pelo Brasil tem apresentado reconhecimento, visto que nos anos de 2011 e 2012, a Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) acatou duas resoluções recomendando aos

73 Constituição Federal: Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados

para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público.

74

ROCHA, Amélia Soares da. Defensoria Pública e Transformação Social. Pensar, Fortaleza, v. 10, n. 10, p.1-5, 23 fev. 2014.

países- membros a aceitação de um modelo público de Defensoria com autonomia e independência funcional.

Todavia, apesar dos avanços e considerável reconhecimento, a implementação nos estados toma-se por um processo gradual em nível federal e estadual.A seguir um gráfico que representa a cronologia de criação em nível estadual:

Gráfico 1-Cronologia de criação das Defensorias Públicas no Brasil

Fonte: III Diagnóstico Defensoria Pública no Brasil/MJ e Leis Orgânicas das Defensorias Públicas de Goiás, Paraná e Santa Catarina.

É importante salientar que mesmo após 25 anos de promulgação da Constituição Cidadã ainda há estados nos quais a Defensoria Pública não foi efetivamente implementada, quais sejam: Paraná, Santa Catarina, Goiás e Amapá.

Mesmo com a implantação nos demais estados, indiscutivelmente persiste uma grave disparidade quando se analisa o número de cargos de defensor público.De acordo com dados da Associação Nacional dos Defensores Públicos (ANADEP), no ano de 2013 havia no país um total de 8.489 cargos de defensor público criados, porém apenas 5.054 estavam providos, dessa maneira observa-se que a maior deficiência dessa situação encontra-se na ausência de medidas administrativas voltadas ao recrutamento e seleção de cargos.

Tabela 1. Defensores públicos – cargos existentes e providos

Fonte: ANADEP, 2013

A análise substancial do número de cargos providos por estado deve gerar ainda uma outra preocupação: a distribuição no atendimento de defensores públicos por comarca.De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)75, tomar o território como orientador do planejamento das ações exige, no caso do sistema de justiça brasileiro, adotar a comarca como referência espacial básica, em vez que toda a estrutura organizacional da justiça dos estados tem-na como unidade administrativa e jurisdicional, a qual indica os limites territoriais da competência de um determinado juízo de primeira instância.Como nem sempre a divisão por comarcas coincide com a divisão do território estadual em municípios, é necessário adequar o mapa territorial dos estados à divisão por comarcas para, a partir daí, compor o quadro sociodemográfico dos territórios que importam para a organização judiciária brasileira.

Dessa maneira, de acordo com dados do IPEA, até o ano de 2013 apenas em 28% das comarcas brasileiras a Defensoria Pública está presente.É oportuno ressaltar que Distrito Federal, Roraima e Acre são as unidades federativas nas quais a Defensoria Pública está presente em todas as comarcas, sendo seguidas por Tocantins e Rio de Janeiro, com 95,2% e 92,6% de abrangência respectivamente.

Tabela 2. Comarcas atendidas e não atendidas pela Defensoria Pública

Fonte: ANADEP, 2013.

Quando se toma para análise as respectivas áreas de atuação de defensores públicos, verifica-se, segundo dados do IPEA, que são nessa ordem, as searas priorizadas: criminal, cível, família e execução penal. Persiste ainda uma ausência significativa nas áreas de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como na atuação da fazenda pública.

Deve-se ainda afirmar que a atuação da Defensoria Pública em sede de segunda instância, bem como na apresentação em tribunais superiores ainda é incipiente.

6. O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA GERAL DO ESTADO DO CEARÁ NA PROTEÇÃO DO DIREITO À AMPLA DEFESA NO CONTEXTO DA PRISÃO PROVISÓRIA: O NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA AOS PRESOS PROVISÓRIOS E ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA (NUAPP)

Após a análise sintética de conceitos relativos à prisão provisória, bem como a explanação sobre o tema da ampla defesa, o presente trabalho restou ainda por analisar a roupagem da Defensoria Pública na esfera nacional, além de apresentar elementos que a identificasse com institutos estrangeiros que tratem sobre assuntos similares à proteção jurídica integral aos necessitados.

No presente capítulo buscaremos nos ater ao tema mais específico desse trabalho, apresentando um breve histórico sobre a Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará com o intuito de representar sua função institucional e sua atuação no contexto cearense.

Nessa perspectiva, faremos ainda a apresentação do Núcleo de Assistência ao Preso Provisório e às Vítimas de Violência, tendo em vista seu trabalho mais especializado na seara da proteção aos direitos inerentes ao preso provisório.