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2 REVISTA DA LITERATURA

3. Os estudos de coorte têm algumas desvantagens:

2.15 ATESTADO DE ACOMPANHAMENTO MÉDICO

A legislação trabalhista não disciplina quanto ao abono de faltas em virtude de atestado de acompanhamento médico, aquele que é fornecido à mãe ou ao pai que acompanha o filho ao médico, ou mesmo para acompanhamento de qualquer outro familiar, tampouco se manifesta quanto à obrigatoriedade das empresas em recepcioná-lo. Na falta de previsão legal, alguns sindicatos em negociação coletiva fazem inserir nas convenções coletivas das respectivas categorias cláusulas prevendo que o acompanhamento de filho ao médico, que é a ocorrência mais comum, a qual deverá ser considerada como falta abonada, mediante a apresentação de atestado médico de acompanhante. Assim, não havendo registro legal para o fornecimento de atestado para responsáveis legais por um paciente, fica a cargo da empresa a aceitação, por mera liberalidade, exceto nos casos preconizados por meio de acordo prévio, convenção ou dissídio da categoria. A CID- 10 da Classificação Internacional de Doenças a ser utilizada pelo médico é Z 76.3 - Pessoa em boa saúde acompanhando pessoa doente (UNIMED, 2006).

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67 Cumpre ressaltar, por sua vez, o mencionado no Precedente Normativo em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho (TST) nº 95, fortalecendo ainda mais essa vertente, uma vez que apoia a concessão do abono de falta para levar filho ao médico, assegurando o direito à ausência remunerada de um dia por semestre ao empregado para levar ao médico filho menor ou dependente previdenciário de até 6 anos de idade, mediante comprovação no prazo de 48 horas (BRASIL, 1998).

Não obstante, há jurisprudência que respalda o abono de faltas quando da apresentação de atestado de acompanhamento pelo empregado, havendo precedentes judiciais que favorecem o trabalhador, ao proibir o desconto das faltas que tinham essa motivação. Como exemplo pode-se citar o posicionamento da 20ª Vara do Trabalho da Justiça do Trabalho de Brasília acerca do afastamento de empregada para acompanhamento de pessoa da família no caso de doença, sob o enfoque do direito à vida combinado com o princípio da dignidade humana. Nessa situação foram aplicados princípios constitucionais para não descontar faltas (BRASIL, 2009a):

Conquanto a CLT não contenha previsão acerca da licença remunerada do trabalhador na hipótese de doença de pessoa da família, a imprescindível presença da mãe e/ou pai ao lado do filho doente encontra eco no ordenamento jurídico pátrio. Tal conclusão se coaduna com o direito à vida e com o princípio da dignidade humana, alçados ao nível constitucional. Desse modo, o direito à saúde, intimamente ligado a referidos princípios (...) fazendo parte do núcleo sindicável dos direitos sociais, sua outorga não poderá ser afastada mesmo com a aplicação da ponderação, ou seja, não há o que se ponderar sobre a entrega das prestações materiais sobre a saúde. Admite-se no máximo discricionariedade sobre os meios de sua efetivação. “Diante disso, não se duvida que a proteção da saúde é o direito individual à prevenção da doença, a seu tratamento e à recuperação do doente, traduzindo-se no acesso aos serviços e ações destinadas à recuperação do enfermo” (Luiz Armando Viola). De outro turno, o artigo 6º da Lei Maior assegura a proteção à maternidade e à infância. Não se olvida, ainda, que a mesma Norma Fundamental protege a criança ainda no ventre materno. Dessa maneira, não haveria como deixar de estender essa tutela à criança após o parto, mormente quando ela se encontra em tratamento de saúde. Desse modo, diante do quadro apresentado nos autos, a causa do afastamento da reclamante de seu labor tornou-se relevante, permitindo-se estimar que a apresentação dos atestados de acompanhamento seria bastante para justificar as faltas anotadas. Logo, os descontos efetuados na remuneração da obreira a título de licença para acompanhamento de seu filho são irregulares. 2. Recurso parcialmente conhecido e provido em parte.

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Ainda, muito recentemente, mais precisamente em 08 de outubro de 2014, foi sancionada e promulgada uma Lei Municipal, de autoria do Executivo, que regulamenta nesta esfera o abono de faltas para o acompanhamento de familiares doentes, demonstrando pioneirismo legislativo nesta seara. O Município em questão trata-se do mesmo do presente estudo, ou seja, Santa Cruz do Rio Pardo, que parece ter entendido e absorvido a necessidade de tal regulamentação, necessidade esta esclarecida e levada ao seu conhecimento por meio do feedback que o estudo preliminar retrospectivo da Prevalência do Absenteísmo apresentou à Administração (CAPELARI, 2013). Assim, pelo pioneirismo, vanguarda e importância do tema, copia-se na íntegra tal documento legal, para que possa inspirar e servir de exemplo para iniciativas semelhantes em outras instâncias executivas e legislativas, quiçá em âmbito Nacional. Portanto, assim dispõe a Lei Complementar Municipal no. 539, de 08 de outubro de 2014, que “Regulamenta o abono de faltas ao serviço público quando necessárias ao acompanhamento de crianças, adolescentes e idosos durante consultas e internações médicas e dá outras providências” (BRASIL, 2014a):

Artigo 1º. Ficam consideradas justificadas as faltas ao serviço do servidor público municipal quando houver necessidade de que efetue acompanhamento e permanência de genitor, filho ou menor de que detenha a guarda, sob internação médica ou tratamento domiciliar de saúde.

Artigo 2º. O servidor terá direito à justificação da falta mediante apresentação de declaração médica ou atestado médico que informe sobre a necessidade de acompanhamento e permanência durante a internação ou sobre a imprescindibilidade de seu acompanhamento presencial durante tratamento domiciliar de saúde, de filho de até 18 (dezoito) anos de idade, de menor sob guarda ou de genitor com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Parágrafo único. A justificação de que trata o caput poderá ser feita pelo prazo de até 5 (cinco) dias a cada internação ou cada período de acompanhamento domiciliar.

Artigo 3º. Ficam considerados justificados os atrasos de servidor ao serviço quando visem ao acompanhamento em consulta médica de genitor, filho de até 18 (dezoito) anos ou menor de que detenha a guarda, mediante a apresentação de declaração médica ou atestado médico informando sobre o horário de permanência do servidor.

Artigo 4º. A justificação de falta abonada, nos termos dos artigos anteriores, será garantida ao servidor que a requerer em até 10 (dez) dias após sua ocorrência.

Artigo 5º. Esta Lei Complementar entra em vigor a partir de 1º. de janeiro de 2015.

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69 2.16 AUXÍLIO-DOENÇA

A fundamentação legal para o Auxílio-Doença encontra guarida na Lei 8.213/1991 (BRASIL, 1991) com fulcro no Artigo 59º:

O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.

Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

O Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo DECRETO Nº 3.048 de 06 de maio de 1999, prevê no seu artigo 25º a prestação expressa em benefício ao segurado do auxílio-doença (BRASIL, 1999a). Desta forma, no Artigo 71:

O auxílio-doença será devido ao segurado que, após cumprida, quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos.

Ainda:

Art.72. O auxílio-doença consiste numa renda mensal calculada na forma do inciso I do caput do art. 39 e será devido: I - a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade para o segurado empregado, exceto o doméstico;(...)

E mais:

Art.78. O auxílio-doença cessa pela recuperação da capacidade para o trabalho, pela transformação em aposentadoria por invalidez ou auxílio- acidente de qualquer natureza, neste caso se resultar sequela que implique redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

No entanto, muito recentemente, em 30 de dezembro de 2014, a Presidência da República do Brasil adotou a Medida Provisória (MP) no. 664 (BRASIL, 2014b), com força de lei, que altera o período de afastamento a cargo do empregador em caso de doença ou acidente de trabalho para os contratos de trabalho em vigor. Assim, em noventa dias da publicação da MP, passa vigorar a regra de ampliação do período de interrupção do contrato de trabalho de 15 dias para 30 dias, com salários pagos pelo empregador. Trata-se de medida que onera as empresas com o acréscimo de mais 15 dias sob sua responsabilidade em caso de afastamento por doença ou acidente, conforme disposto no novo parágrafo 3º do artigo 60 da Lei 8.213/1991 (BRASIL, 1991):

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Durante os primeiros trinta dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença ou de acidente de trabalho ou de qualquer natureza, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral.

Esta alteração tem relevância direta para os cofres da Previdência Social porque, supostamente, sendo maior o período de espera para que o segurado se habilite para o benefício do auxílio-doença, menor será o número de benefícios gerados, pois dá ao segurado empregado a oportunidade de recuperação, antes de onerar os cofres da previdência social, cujo benefício calculado de acordo com o salário de benefício previdenciário, produz inevitável redução de ganho. Destaque- se a importância do serviço médico da empresa ou em convênio ao qual se atribui a responsabilidade de exame médico e do abono das faltas. A perícia médica do INSS somente deverá ser provocada após 30 dias de afastamento do empregado, pois, enquanto isso, a recuperação da capacidade laboral do empregado estará a cargo do serviço médico da empresa. Obviamente, dado ao caráter provisório da medida, há que se esperar a sua aprovação na íntegra, ou com ressalvas, ou mesmo sua rejeição, pelo Congresso Nacional, para que tenha como certo e sedimentado tal regulamento, a despeito de sua previsão de vigor retro citada. Evidentemente, tal regulamentação, editada posteriormente a execução do presente estudo, não foi conceitualmente aqui aplicada.