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2 REVISTA DA LITERATURA

3. Os estudos de coorte têm algumas desvantagens:

2.14 FALTAS JUSTIFICADAS OU ABONADAS

As faltas justificadas são situações em que o empregado poderá faltar ao serviço, sem prejuízo do seu salário. Neste caso, o empregador estará obrigado a respeitar a ausência do empregado ao trabalho, desde que esta ausência esteja prevista em lei e o empregado comprove ao empregador o motivo.

Desta forma, como estabelece a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 1943):

Art.473 - O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário:

I - até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social, viva sob sua dependência econômica; Il - até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento;

lIl - por 1 (um) dia, em caso de nascimento de filho, no decorrer da primeira semana;

IV - por 1 (um) dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada;

V - até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos termos da lei respectiva;

VI - no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra c do art. 65 da Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar);

VII - nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior; VIII - pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo.

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O empregador é obrigado a abonar as faltas, que por determinação legal, não podem ocasionar perda da remuneração, desde que formalmente comprovadas e justificadas por atestado médico. O atestado médico, para abono de faltas ao trabalho, tem limitações regulamentadas por lei. O Decreto 27.048/1949 (BRASIL, 1949a) que aprova o regulamento da Lei 605/1949 (BRASIL, 1949b), no artigo12, alínea “f”, §1º e 2º, dispõe sobre as formas de abono de faltas mediante atestado médico:

Art 12. Constituem motivos justificados:

(...) f) a doença do empregado devidamente comprovada, até 15 dias, caso em que a remuneração corresponderá a dois terços da fixada no art. 10. § 1º A doença será comprovada mediante atestado passado por médico da empresa ou por ela designado e pago.

§ 2º Não dispondo a empresa de médico da instituição de previdência a que esteja filiado o empregado, por médico do Serviço Social da Indústria ou do Serviço Social do Comércio, por médico de repartição federal, estadual ou municipal, incumbido de assunto de higiene ou saúde, ou, inexistindo na localidade médicos nas condições acima especificados, por médico do sindicato a que pertença o empregado ou por profissional da escolha deste.

Não obstante os atestados de médicos particulares serem a última opção legal para atestação, conforme o conteúdo de manifestação do Conselho Regional de Medicina (CRM), não deveriam ser recusados, exceto se for reconhecido favorecimento ou falsidade na emissão, assim sugerindo (CREMEC, 1999):

O atestado médico, portanto, não deve a priori ter sua validade recusada porquanto estarão sempre presentes no procedimento do médico que o forneceu a presunção de lisura e perícia técnica, exceto se for reconhecido favorecimento ou falsidade na sua elaboração quando então, além da recusa, é acertado requisitar a instauração do competente inquérito policial e, também, a representação ao Conselho Regional de Medicina para instauração do indispensável procedimento administrativo disciplinar. No entanto, na conclusão do mesmo Parecer consubstanciado, CREMEC Nº 01/1999 (CREMEC, 1999), fica perfeitamente claro:

É prerrogativa exclusiva do médico da empresa, nas empresas que possuírem serviço médico próprio ou conveniado, a emissão do atestado médico para abono de faltas, por motivo doença, cujo afastamento não supere 15 dias. Estando, portanto, ao seu arbítrio aceitar ou não, atestados médicos para abono de faltas, emitidos por outros médicos, mesmos que especialistas, pois estão em desconformidade com a Lei pertinente ao assunto. A recusa da eficácia do atestado nestes moldes, está em conformidade com o texto legal, não implicando tal conduta em contestação sobre o conteúdo, idoneidade ou veracidade do atestado. Consequentemente a quantidade de dias previstos de licença, para afastamento do empregado ao trabalho, no referido atestado, fica, portanto, também, sem efeito para este desiderato específico, cabendo mais esta responsabilidade, ao médico da empresa que assumiu o exame do trabalhador. No caso da empresa não possuir serviço médico próprio ou conveniado, os médicos que podem emitir atestado médico, com eficácia para abono de falta, são os concatenados na sequência disposta na Lei nº 605/49, regulamentada pelo Decreto nº 27.048.

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65 Em súmula, o atestado médico para abono de faltas ao trabalho deve obedecer aos dispositivos legais, mas, quando emitido por médico particular, a priori deveria ser considerado, pelo médico da empresa ou junta médica de serviço público, como verdadeiro pela presunção de lisura e perícia técnica (CREMEC, 1999):

Por fim, manifesta-se este CREMEC, no sentido de que todo atestado médico emitido por médico legalmente habilitado, revestido de lisura e perícia, é válido e possui todas as prerrogativas legais a que se destina, devendo ser sempre levado em consideração pelo médico da empresa, como peça importante para seu raciocínio clínico e suas conclusões, dele discordando somente se fundamentado em sólidas razões científicas ou éticas.

E mais, o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo DECRETO Nº 3.048 de 06 de maio de 1999, determina o decurso de tempo permissível de afastamento do trabalho para esta modalidade de faltas e a quem de direito o ônus das mesmas (BRASIL, 1999a). Assim, estatui:

Art.75. Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário.

§ 1º Cabe à empresa que dispuser de serviço médico próprio ou em convênio, o exame médico e o abono das faltas correspondentes aos primeiros quinze dias de afastamento.

§ 2º Quando a incapacidade ultrapassar quinze dias consecutivos, o segurado será encaminhado à perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social.

§ 3º Se concedido novo benefício decorrente da mesma doença dentro de sessenta dias contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica desobrigada do pagamento relativo aos quinze primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso.

§ 4o Se o segurado empregado, por motivo de doença, afastar-se do

trabalho durante quinze dias, retornando à atividade no décimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro de sessenta dias desse retorno, em decorrência da mesma doença, fará jus ao auxílio doença a partir da data do novo afastamento.

§ 5º Na hipótese do § 4º, se o retorno à atividade tiver ocorrido antes de quinze dias do afastamento, o segurado fará jus ao auxílio-doença a partir do dia seguinte ao que completar aquele período.

Uma questão polêmica diz respeito ao fornecimento de atestado para pessoa da própria família. A conclusão final do Processo-Consulta CFM N° 0380/90 - PC/CFM/Nº 05/1991 (CFM, 1991) dita:

1- O médico, à exceção dos casos de perícia judicial, de tratamento de doença grave ou toxicomania, e de situações outras previstas em legislação especifica, não está impedido de emitir atestado médico - parte integrante do ato ou tratamento médico - a pessoa da própria família.

2- O atestado médico somente será recusado se não estiver em conformidade com a legislação, em face da finalidade a que se destina, ou

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pela verificação de favorecimento ou falsidade. Neste caso o fato devera ser denunciado à autoridade policial e ao Conselho Regional de Medicina.

Nesta mesma linha de pensamento, outra celeuma em situações de atestação é “atestar para si mesmo”. Segundo o PARECER CREMEC nº 02/2013 (CREMEC, 2013), a resposta ao quesito: “Pode o médico emitir atestado para si mesmo?” é:

Não encontramos previsão, especificamente, a respeito da emissão de atestado médico para si mesmo, em qualquer diploma legal. Para atender ao inusitado questionamento, recorremos ao eminente Conselheiro Dr. Genival Veloso de França, que instado a opinar sobre o assunto elaborou para o Conselho Federal de Medicina o Parecer 29/1987, do qual nos servimos, em parte, para desenvolver nossas ideias sobre a matéria. Diz o renomado mestre que “É difícil aceitar o fato de o médico concentrar, num

só tempo, em si próprio, a condição de examinado e examinador, de médico e de paciente, concentrando todas as responsabilidades e todos os privilégios, policiando-se para que um não se sobreponha ao outro”. De fato,

o resultado de um atestado médico nessas circunstâncias será sempre suspeito, tanto pelas razões citadas pelo profissional, como pelos benefícios arguidos ao paciente. Assim, o atestado médico exarado para si mesmo, sempre despertará dúvida, devendo ser evitado em favor do próprio emissor, em prol do caráter insuspeito que deve ser mantido no mister de seu trabalho.