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Atitude face a situações concretas na instituição

No documento Tese (páginas 112-115)

CAPÍTULO III – Apresentação e interpretação de resultados: O olhar de oito

4. HIV/SIDA nos idosos: percepção e conhecimento

4.3. Atitude face a situações concretas na instituição

Nesta categoria pretendia-se compreender a atitude das profissionais face a situações concretas na instituição ou a eventual atitude em possíveis situações. Identificaram-se duas subcategorias.

Aceitação aberta

Três entrevistadas explicitaram uma aceitação aberta, verificando-se a referência ao princípio da igualdade e da confidencialidade a que todos os indivíduos têm direito82.

“[…] Nós temos que ser iguais para todos […] Não tinha que dizer […] Não tem que ser identificado […]” (E1).

E simultaneamente o “princípio” da segurança e do cumprimento das normas colectivas, como manutenção e garantia da salvaguarda dos direitos individuais. “ […] Acho que temos que lidar com o HIV como se lida com qualquer outra infecto-contagiosa […] se as regras forem cumpridas, em termos de segurança, para todos os utentes, ninguém corre riscos e a pessoa permanece com a sua intimidade salvaguardada” (E7).

Não podemos deixar de remeter este discurso para a consciência moral e para a responsabilidade individual e colectiva. Na perspectiva Kantiana elas não aparecem no ser humano de uma forma independente ao problema do outro, pelo contrário, são duas questões interdependentes e indissociáveis, ou seja, só podemos ter uma boa ou má consciência de um acto ou de um gesto, na medida em que eles se colocam face ao outro. Somos seres em relação e esta qualidade é determinante para o sentido de responsabilidade de cada um de nós para com o outro.

Aceitação com reservas

Noutros casos verificou-se aceitação com reservas, como se pode aferir pelos excertos transcritos, sendo esta posição assumida pela maioria das assistentes sociais (cinco).

“Mesmo que à primeira vista pareça estranho, aceitaria uma pessoa que procurasse os serviços da instituição e que dissesse estar infectada. Eles têm direitos como todos os outros, não é?”(E3).

“[…] Eu enquanto Assistente Social, aceitá-la-ia…, não sei se conhecendo a minha direcção como conheço, isso seria um constrangimento para eles, porque é uma direcção de pessoas idosas, não sei que abertura é que teriam[…]” (E4).

“Se estivesse perante uma situação concreta. Se uma pessoa procurasse a instituição, com certeza que aceitava. Embora por muito assustador que pareça, não é? […]”(E6).

“Penso que aceitaria […] mas para admissão dos utentes, cumpriria os requisitos que contam o regulamento interno”(E8).

82 A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz no Artigo 1º que “ Todos os seres humanos nascem livres e

iguais em dignidade e em direitos…” e no Artigo 3º que “Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança”.

Ainda que as profissionais apresentem alguma abertura face a situações concretas ou a possíveis situações, está implícita ou explicitamente colocada alguma reserva inicial nessa aceitação, independentemente de terem ou não proximidade ou experiência de casos.

“[…] A nossa função não é de modo nenhum excluir, mas integrar. No entanto devo dizer-lhe, e não vou negar que quando soube dos casos na instituição fiquei um bocadinho apreensiva não é? Como calcula, a primeira reacção que temos, instintivamente não é logo de abertura, …é um pouco difícil de explicar…compreende? Mas depois vamos em frente como é óbvio […] ” (E2).

Como referido anteriormente e como síntese das três dimensões abordadas conclui-se, que se o envelhecimento enquanto fenómeno social começou a ser estudado nos anos 60, a sexualidade, por razões de natureza cultural, e dada a delicadeza do tema, por pertencer ao domínio da intimidade, aconteceu mais tardiamente. Também, se em relação ao conceito de idoso, nos deparamos com múltiplas concepções e muitas delas depreciativas, no que se refere à sua sexualidade, essa visão estereotipada e associada a preconceitos e a tabus, ainda é mais acentuada (Elaine Steinke, 1997)83 . Partilhamos da perspectiva deste autor quando salienta que um dos principais factores que continua a influenciar negativamente as representações é o importante desconhecimento acerca da sexualidade na velhice, assim como aspectos culturalmente proibitivos com respeito às relações sexuais entre os idosos. De igual modo, no que concerne ao HIV/SIDA é ainda o parco conhecimento dominante que se constitui como factor bloqueador e potenciador de preconceitos a ela associados, como já referenciado em momentos anteriores.

Consideramos ser muito ténue nestes profissionais, a linha que separa a necessidade do conhecimento efectivo e as crenças construídas à volta desta problemática, para que a abordagem feita tenha como base uma “prática antecipativa” ao problema.

Neste ponto pretendeu-se aceder e interpretar a percepção das assistentes sociais relativamente à SIDA na população idosa em geral e a sua atitude face a situações concretas. Tal como sublinhado no início, embora se tenha partido de uma perspectiva de conhecimento mais geral, para se particularizar, o que concluímos da interpretação das respostas obtidas é que há uma relação muito estreita com a experiência diária, não se identificando nelas uma separação entre o que é macro e micro. Inferindo-se assim, que a preocupação atribuída ao problema é, na sua maioria, por relação à prática e à existência ou não de casos concretos no contexto institucional.

Concluímos que existe uma relação directa entre a percepção e a representação construída acerca do HIV/SIDA por parte das assistentes sociais e a dificuldade associada em responder cabalmente ao problema, quer nos reportemos a casos concretos, quer enquanto possibilidade.

As percepções reveladas constituem-se como indicadores do percurso que há ainda a efectuar pelas profissionais no que se refere: ao conhecimento da sexualidade nos idosos, das suas manifestações e da percepção face à mesma; da percepção face aos comportamentos de risco e do conhecimento que estes profissionais revelam relativamente ao HIV/SIDA na população idosa e da atitude assumida face a situações concretas.

Consideramos que há ainda um caminho a percorrer não só em termos de uma maior postura reflexiva relativamente a este problema, bem como quanto à desvinculação de um conhecimento que ainda tem por base o “senso comum” firmado em preconceitos e em tabus.

No documento Tese (páginas 112-115)