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Lugar/papel do Serviço Social na prevenção

No documento Tese (páginas 129-133)

CAPÍTULO III – Apresentação e interpretação de resultados: O olhar de oito

6. A Prevenção do HIV/SIDA e dos comportamentos de risco dos idosos:

6.1. Lugar/papel do Serviço Social na prevenção

Nesta categoria pretende-se aceder ao entendimento das assistentes sociais sobre o lugar do Serviço Social na prevenção do HIV/SIDA e dos comportamentos de risco dos idosos.Da análise e interpretação efectuadas aos discursos identificámos quatro visões sobre o lugar/papel do Serviço Social comparativamente a outros profissionais.

Quadro nº 18 – Lugar/ papel do Serviço Social na prevenção

Subcategorias Unidades de registo

Privilégio E2,E4,E6, E7

Preponderância E2, E7

Complementaridade E2,E4,E5,E6, E7,

Secundaridade E3, E8

Privilégio

O papel ou lugar do serviço social na prevenção por relação a outros profissionais foi considerado um lugar de vantagem, de privilégio, no discurso de quatro das entrevistadas.

“ […] É connosco que eles desabafam e é em nós que eles depositam confiança…nós temos ali a matéria- prima à mão todos os dias […] temos uma posição privilegiada […] Os assistentes sociais vêem mais, os utentes e uma pessoa que lhe pode dar algumas indicações, independentemente de ser mais nova ou ser mais velha…é o Assistente Social que tem aquela carga de aconselhar, do que é que devem fazer [..] os outros profissionais não têm essa regalia” (E2).

“[…] Acho que nós assistentes sociais que trabalhamos nos centros de convívio estamos de facto na primeira linha, nós temos aqui a relação privilegiada” (E4).

“[…]Somos nós que estamos efectivamente diariamente com eles …A enfermagem, não desvalorizando, claro que também tem um papel muito importante, mas não tem o contacto diário, a cada minuto […]”( E6).

Daqui se depreende que há uma consciência nítida das assistentes sociais relativamente à sua importância e ao seu papel desencadeada pela proximidade com os destinatários, que a sua intervenção lhes permite. Consideram esta relação de privilégio, como se constata, pela vantagem e possibilidade do contacto diário, enquanto elementos potenciadores de uma abertura em termos da relação que é possível estabelecer, comparativamente a outros profissionais. São efectivamente estas profissionais que estão na “primeira linha” e que podem diagnosticar situações de risco, constituindo-se um dos elementos chave na prevenção primária.

Preponderância

Comparativamente com outros profissionais, “[…] Nós temos um papel realmente fundamental na vida destes idosos dos Centros de Convívio. Não digo inigualável, não vou usar essa palavra tão forte, mas acho que é de supremacia comparativamente aos outros em muitos aspectos […] eles desabafam muito connosco e estão pré-dispostos a cooperar. […]” (E2).

“ […] A prevenção deste tipo de doenças, nunca passará sem uma intervenção do Assistente Social. Nós temos essa sensibilidade, conhecemos a realidade, conhecemos as famílias, de uma forma que,

seguramente, muitas vezes os profissionais de saúde não conhecem […] temos em nossa posse muito mais elementos para poder passar a mensagem de uma forma mais adequada que qualquer outro profissional […] Para já, nós, enquanto técnicos existentes numa instituição temos uma relação de proximidade muito maior com os utentes […] os profissionais de saúde actuam muito em linha recta […] Portanto eu atrever-me-ia a dizer que o assistente social […] não só é capaz de transmitir os conceitos da área da saúde, como também é capaz de apresentá-los e perceber as representações sociais que estão associadas a determinado tipo de comportamentos e imprimir-lhes a dimensão social inerente […]” (E7).

Há nestes dois discursos, particularmente, no último, percepções que colocam a profissão num lugar de supremacia e de hegemonia relativamente às outras que intervêm no mesmo campo. E as profissionais explicam isto não com o sentido de sobrevalorização da profissão, mas antes porque “[…] temos em nossa posse muito mais elementos para poder passar a mensagem de uma forma mais adequada que qualquer outro profissional […]”(E7).

As assistentes sociais estão de facto “na primeira linha” e têm essa “mais valia” da proximidade com os cidadãos.

Complementaridade

Considerando que o processo de envelhecimento não pode ser visto apenas em termos demográficos (alterações na estrutura da idade da população), mas assume também aspectos biológicos, psicológicos e sociais, de igual modo a prevenção de factores de risco associados a esta população, requer uma intervenção multidimensional. Nesta perspectiva, como já referido em momentos anteriores deste trabalho, justifica-se que estejam presentes diferentes contributos profissionais, sendo importante analisar as relações entre si. Em que estas não pautem pela anulação, mas pela complementaridade e convergência de saberes.

Seis entrevistadas indicam e identificam que o papel do Serviço Social na área da prevenção é, por relação a outros profissionais, de complementaridade entre os diferentes saberes.

“ […] O equilíbrio de uma pessoa passa precisamente por essas dimensões, clínica, biológica, psicológica e pela dimensão social. […] Aqui o papel do assistente social, […] faz muito bem o elo, de ligação entre as outras dimensões temos alguns instrumentos de despiste, que se calhar outros não têm. Não são tão notórios, mas que são capazes de nos dizer alguma […]” (E5). “ […] Os assistentes sociais que estão no terreno são muitas vezes o elo entre as pessoas e os outros profissionais e são um ponto de referência […]têm, portanto um papel muito relevante nesta questão da prevenção e são um meio facilitador (…) no entanto considero também que nos complementamos […]” (E6).

Esta complementaridade expressa-se porque os assistentes sociais são detentores de instrumentos de análise que permitem uma primeira avaliação, como o diagnóstico, e após a detecção do problema tornam-se um “meio facilitador” e um elo de ligação com os outros profissionais.

Secundaridade

Duas assistentes sociais consideraram de secundaridade o papel do Serviço Social na prevenção por relação a outros profissionais.

“No meu caso aqui concretamente, eu tenho de facto esse papel da retaguarda, de 2º plano (…) Com mais facilidade talvez o idoso fale mais destas questões com o médico e com o enfermeiro, do que com o assistente social [… ]” (E3).

“O papel do assistente social é importante na prevenção […] Mas isto teoricamente…porque na prática há temas que é melhor serem abordados por outros profissionais do que por nós, faz-me mais sentido […]” (E8).

Encontramos nestes depoimentos alguma analogia e coincidência com a autora Garcia Salord (in Montaño, 2009:138), relativamente à discussão sobre a “especificidade” do Serviço Social quando afirma que “(…) a especificidade do assistente social não recai no facto de ele intervir no terreno das interacções sociais, pois nelas actuam diversas profissões. O assistente social não intervém directamente87 nos fenómenos constituídos como problema, mas indirectamente. Cria sim, condições propícias à intervenção de outros profissionais, ou à implementação de programas de desenvolvimento, de políticas de bem-estar social ou de projectos”.

Como reflexão consideramos que “a base de conhecimentos de todas as profissões está, por um lado em permanente mudança e construção e, por outro, numa interacção constante com outros campos profissionais” Payne (2001:45) e que por esse motivo se requer um (re) pensar, uma (des) construção e uma (re) actualização permanentes da intervenção. Isto, para que deixem de subsistir sentimentos de alguma insegurança, como está presente nestes dois discursos e que colocam a profissão, nestas duas perspectivas, numa posição de secundaridade. Como assumido em momentos anteriores e de acordo com Inês Amaro, o Serviço Social ganhará se souber incorporar no seu campo de saberes, contributos que vêm de outras áreas do conhecimento (Amaro, 2008:66). “[…] Em determinadas questões, creio que nós podemos partilhar com outros técnicos e podemos estabelecer aqui parcerias muito interessantes […] Portanto é um enriquecimento e não uma substituição[…]” (E4).

87 Na perspectiva da autora, intervêm directamente nos problemas os médicos, os advogados, os arquitectos, os

Globalmente, através dos discursos recolhidos, é indiciador que para estas assistentes sociais que o Serviço Social tem um lugar privilegiado, preponderante e de complementaridade na intervenção com a população idosa e na prevenção dos seus comportamentos de risco, relativamente a outras profissões.

Apesar da análise indicar que o maior número de assistentes sociais se revê na função de

complementaridade, a maioria (neste estudo é a totalidade) opta por recorrer a profissionais de

outras áreas ou aos estagiários, sempre que no seu quotidiano têm necessidade de abordar temas como a sexualidade, (auto) secundarizando o seu papel, designadamente por não se reconhecerem neste tipo de competência.

Como mencionámos no início deste ponto pretendíamos compreender a intervenção das assistentes sociais na prevenção dos comportamentos de risco e do HIV/SIDA nos idosos, sem sobrevalorizar ou atribuir um papel de supremacia à profissão, mas reconhecendo que ao nível da prevenção primária pode ser um dos primeiros elementos do processo.

No documento Tese (páginas 129-133)