• Nenhum resultado encontrado

Identificação dos comportamentos de risco

No documento Tese (páginas 105-108)

CAPÍTULO III – Apresentação e interpretação de resultados: O olhar de oito

2. A sexualidade nos idosos

3.2. Identificação dos comportamentos de risco

Com esta categoria pretende-se conhecer e identificar os comportamentos de risco dos idosos da instituição.

Quando interpeladas sobre o conhecimento dos comportamentos de risco dos idosos da instituição, três das entrevistadas afirmaram explicitamente a sua existência, apontando como

causa principal a facilidade com que a Internet permite conhecer pessoas e criar relacionamentos.

“[…] Tenho perfeita consciência que sim […] Muitos até pela questão da facilidade desse tipo de relações, via net. […] E vão, e arriscam. Tenho alguns casos aqui que foram para o Brasil, atrás de conhecimentos pela net. Porque é uma pessoa que não conhece […] ” (E1).

Outro dos motivos referidos relaciona-se com a prática de relações extra-conjugais, por parte de alguns idosos que recorrem à prostituição e tal como já foi referido, denotam ausência de atitudes preventivas. O uso do preservativo não faz parte das suas rotinas. Como refere Chaves, (2006:122,123) o idoso negligencia o seu uso e, associado ao isolamento em que muitas vezes se encontra nesta idade, recorre com frequência a prostitutas ou ainda a relações extra- conjugais.

“[…] Pronto, eu comecei-me a aperceber de que realmente havia facadinhas de matrimónio de alguns senhores que iam lá ter relações com prostitutas e depois faziam a vida normal com as respectivas mulheres […] outros viam que o não sei quantos foi apanhado ou que foi visto na zona onde a mulher do outro senhor ia […]”(E2).

“[…] Creio que pela conversa que muitas delas já tiveram comigo, o preservativo nunca foi algo que… fizesse parte daquela relação, nunca […] portanto são pessoas que ainda vivem de acordo com os métodos tradicionais não é? […]Sabe que aqui na zona há alguma prostituição e, temos aqui alguns senhores já com mais idade que ficam deslumbrados com certas coisas(…) têm algum dinheiro e estes idosos acabam por ser uma presa fácil, em certos períodos do mês(…) quando recebem as reforma […]”(E4).

As entrevistadas que referem não ter na instituição idosos com comportamentos sexuais

de risco, justificam esta posição com o facto de ser uma população já envelhecida e que,

consequentemente, não tem condições para a prática de determinados comportamentos.

“ […] Eu tenho uma população com 70 e tais, 80 e tais 90 anos…são pessoas com uma outra vivência diferente […] Neste momento para a minha população não vejo como grupo de risco…já não têm idade para certas coisas […]” (E5).

Esta posição é reveladora da manutenção dos preconceitos e dos estereótipos associados à sexualidade das pessoas idosas, como “são velhos querem lá saber de sexo…” e apela para a necessidade dos profissionais que trabalham com eles diariamente pautarem a sua intervenção mais pela via do conhecimento do que pela via de uma prática baseada e reiterada pelo senso comum. Um dos recursos prioritários inerente a toda e qualquer intervenção é a aceitação e o respeito por algo que é natural e faz parte da vida de todos os seres humanos, independentemente da idade que se tenha e isso, obtém-se pela via do conhecimento e de uma prática reflectida e atenta.

Verifica-se também que os comportamentos de risco são transversais ao género, ao estado civil e à idade, não havendo propriamente uma fronteira que delimite.

“ […] São homens casados, que estão saturados do casamento e procuram outra relação […] viúvos, viúvas que procuram relacionamentos sem conhecer ” (E1).

“O comportamento de risco é transversal ao homem ou mulher e às idades que temos aqui…são os mais jovens, são os mais idosos… temos desde os cinquentas até aos 96, 97 […]” (E2).

Uma das entrevistadas salienta que na sua instituição, os comportamentos de risco estão associados aos homens mais velhos, e às senhoras cuja idade se situa entre os 60 e os 70 anos.

“São homens mais velhos, portanto, não são homens na faixa etária dos 55 ou nem dos 60, mas os mais velhos […] No caso das, das senhoras […] E estou a falar de duas ou três senhoras de 60 e tal anos muito perto dos 70 anos […]” (E4).

Como reflexão sobre este ponto e confrontando a posição assumida pelas entrevistadas, se por um lado certas respostas passam uma ideia positiva acerca da sexualidade do idoso, revelando algum conhecimento sobre esta e sobre os seus comportamentos de risco, por outro está implícita, ao longo dos discursos, uma conotação algo preconceituosa e de desconhecimento sobre a sexualidade. Exemplificando: a mesma assistente social questionada acerca da sexualidade do idoso diz “[…] Acho que é uma coisa normal, natural[…] ” (E3),

relativamente aos comportamentos de risco diz também “[…] Não sei se considero… se eles são um grupo de risco…grupo de risco não sei muito bem…era uma coisa que para mim estava posta de lado…nos idosos não estava a ver muito sinceramente]…]”(E3). Se numa questão se expressa maior compreensão, na questão seguinte já se verifica algum fechamento.

Pela discordância e mesmo contradição em algumas das respostas, sentiu-se dificuldade em interpretar e analisar coerentemente os discursos. No entanto, as dissonâncias identificadas revelaram-se importantes na medida em que permitem concluir que ainda há um longo caminho a percorrer pelos profissionais.

Por outro lado, há interpretações positivas “[…] Hoje cada vez mais temos uma população idosa cada vez mais activa, sexualmente, até mais tarde. Com relações interpessoais das mais diversas ordens, que gosta de estabelecer relações com outras pessoas, porque os idosos não estão mortos, nem pouco mais ou menos […]”( E7).

A sexualidade nasce com o indivíduo é algo dinâmico que o acompanha desde que nasce até que morre. Nem o interesse nem a actividade desaparecem com a idade. Vão-se (re) descobrindo é novas formas de a viver e de a exteriorizar. Os avanços da medicina vieram proporcionar, tanto nas mulheres mais idosas com a terapia de reposição hormonal, como nos homens com o Viagra, a manutenção de uma actividade sexual salutar, e objecto de prazer, nesta fase da vida.

Freud, ao afirmar que o prazer era o objectivo da sexualidade, “liberou-a do seu carácter de obrigação de reprodução como resultado final. Esta tese veio a ser confirmada recentemente com a emergência do conceito de saúde sexual e com a sua dissociação progressiva da ideia de algo meramente do campo reprodutivo. Veio também salientar a autonomização da vida sexual e a sua importância para a realização e bem-estar dos indivíduos ao longo da vida” (Giami, 2003 in Vasconcelos, 2004:414).

Ao longo deste segundo ponto foram analisados alguns aspectos relativos aos comportamentos de risco dos idosos, por relação à sua sexualidade, sob o ponto de vista das assistentes sociais, fica-nos contudo a ideia, por relação ao quadro teórico no capítulo II, da importância dos assistentes sociais investirem na sua qualificação/especialização para que possam responder cabalmente à complexidade dos problemas sociais emergentes e que lhe imprimam um verdadeiro enfoque interdisciplinar.

No documento Tese (páginas 105-108)