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CAPÍTULO 4 Quando a Formação de Professoras Experientes Faz a Diferença: as

4.1 A Construção da Profissão

4.1.6 Atitude perante a docência

As atitudes perante a docência, também tiveram um peso significativo. As professoras expressam distintas maneiras de agir diante da realidade, adotando comportamentos que variam entre uma postura de compromisso a um processo de aprendizagem de gostar do trabalho que realizam. Segundo Esteves (1993, p.86) “no exercício de uma profissão, há atividades e tarefas cujo desempenho provoca satisfação nos seus profissionais. Inversamente, haverá outras que desencadeiam insatisfação”. Nosso desejo é o de definir as práticas problemáticas que em que a formação pode ser considerada como uma alternativa de solução.

As professoras apontaram entre as razões que as motivam para continuarem na docência as seguintes: gostar da profissão, gostar de lidar com pessoas (crianças, jovens e adultos), adquirir qualificação profissional e comodismo. Na tabela a seguir mostramos esta realidade.

Tabela 6: Atrativos da Docência. Teresina. Brasil. 2005.

Atrativos Professoras Formadoras

(%) Professoras-Alunas(%)

Gostar da profissão 54 51

Gostar de lidar com pessoas 28 25

Adquirir qualificação 11 12

Comodismo 7 12

Totais 100 100

O gosto pela profissão, aparece no estudo com um peso substantivo. 54% das formadoras e 51% das professoras-alunas afirmaram gostar do magistério. Podemos constatar em alguns fragmentos essa realidade:6

Permaneço no magistério por satisfação pessoal e profissional (PROFESSORA I).

Permaneço como professora por que a profissão me realiza. (PROFESSORA M).

O gosto pela profissão. (PROFESSORA L).

Gosto do que faço na minha profissão, por isso permaneço nela. (PROFESSORA E).

Outro aspecto bastante enfatizado nos discursos das professoras refere-se ao “gostar de lidar com pessoas”. 28% das formadoras e 25% das alunas disseram que gostam de gente. 11% das formadoras e 12% das alunas, afirmaram que não abandonaram o magistério porque necessitam adquirir uma melhor qualificação. 7% das formadoras e 12% das alunas apontaram o comodismo aparece como fator que trai as pessoas a ingressarem na docência e também de permanência nela. É um índice considerado bastante alto, que pode contribuir para a procrastinação no trabalho docente. Nos depoimentos a seguir pode-se perceber este aspecto.

6 Não citamos todos os depoimentos por uma questão de evitar colocar muitas falas no texto, usamos apenas uma pequena amostra dos discursos das professoras.

Ingressei no magistério por comodismo. (PROFESSORA I).

O Magistério é uma profissão mais cômoda, por isso a escolhi (PROFESSORA M).

Entre os aspectos considerados negativos na profissão destacam-se: despreparo profissional, desvalorização da categoria, baixos salários, melhores condições de trabalho. 44% das professoras formadoras e 43% das alunas sugerem que desejam ter uma melhor formação, que seja específica, e forneça condições para um trabalho mais consistente, para poderem lidar melhor com as seguintes temáticas: aprendizagem escolar, a inclusão, agressividade dos alunos, planejamento escolar, adequação do currículo à realidade social dos alunos, drogas, sexualidade, desejam que o processo seletivo para quem pretende ingressar no magistério seja mais rigoroso, no sentido de escolher aqueles(as) que têm uma tendência natural para trabalhar com crianças, ou seja, que goste da profissão, porque se o perfil como pessoa não se adequa à função de docente, como certeza a produtividade vai ser praticamente nula.

Tabela 7 - Razões de Insatisfação com a Profissão Docente. Teresina. Brasil. 2005. Motivos Professoras Formadoras

(%) Professoras-Alunas (%) Despreparo Profissional 44 43 Desvalorização da Categoria 22 26 Baixos Salários 19 24 Melhores Condições de Trabalho 15 12 Total 100 100

Outro aspecto que aparece em segundo lugar é desvalorização da categoria. As imagens sobre a profissão aparecem quando as professoras falam sobre a visão que a

sociedade tem sobre o trabalho docente. Neste aspecto, não se tem dúvida porque os depoimentos expressam de forma nítida a desvalorização social da categoria.

De fato, os depoimentos expressam uma imagem negativa acerca da profissão, 22% das professoras formadoras e 26% das alunas, consideram que esta é vista como desvalorizada. Os dados afirmam aspectos que já foram detectados em outros estudos sobre a imagem social do(a) professor(a) (Gatti, 1997; Cunha, 1997; Esteve, 1999; Codo, 1999; Odelius e Ramos, 1999; Vieira, 2002). A temática, recorrente na literatura, ganha significado na voz das professoras, em adjetivos que revelam uma imagem preconceituosa, suscita pena e algumas expressões que são igualmente depreciativas.

Minha colega, você poderia ter escolhido outra profissão. Esta é uma profissão para quem gosta de sofrer. (PROFESSORA L).

Ser professor é padecer, sem esperança de dias melhores. (PROFESSORA I). Esta é uma profissão que só maluco escolhe. (PROFESSORA J).

Discriminam. Dizem que é uma profissão que só os coitados, que não tem competência para fazer outra coisa, escolhe. (PROFESSORA P).

É uma profissão que tem um estereótipo, é considerada de segunda categoria. (PROFESSORA E).

Em alguns depoimentos parece que as professoras buscam encontrar justificativas para a imagem negativa que a “sociedade” faz da profissão docente.

Para determinadas pessoas ser professor é por falta de opção profissional. Isso é dito porque elas nunca experimentaram a alegria de contribuir para a aprendizagem de uma pessoa. (PROFESSORA J).

É uma profissão pouco valorizada. É padecer no paraíso, não há retorno financeiro, mas me realiza. As autoridades fecham os olhos para as questões ligadas à sobrevivência, formação e condições de trabalho. É um trabalho que é reconhecido por muitas pessoas. (PROFESSORA M).

O salário constitui-se em um dos fatores que aparece com certa freqüência em parte dos discursos e constantemente está relacionado a outros elementos como sendo

responsáveis pela desvalorização da profissão. 19% das professoras formadoras e 24% das professoras/alunas consideraram a desvalorização da categoria em função dos salários. Nos depoimentos seguintes pode-se constatar essa situação.

Quando penso que no final do mês vou receber um contracheque merreca, fico desesperada. Porque não dá para ter crédito no comércio. Certa vez uma vendedora me perguntou se eu não tinha outra fonte de renda. Fiquei envergonhada diante dessa situação. (PROFESSORA L).).

As condições salariais não são das melhores, visto que não somos bem remuneradas. Não somos valorizadas, sofremos cobranças quando não pagamos nossas contas em dia. (PROFESSORA I).

Diante desta realidade, constata-se que o status social do(a) professor(a) sofreu transformações significativas. Nessa perspectiva é bastante esclarecedora a compreensão de Esteve (1999, p.34):

Modificou-se o status social do professor [...] no momento atual, nossa sociedade, tende a estabelecer o status social com base no nível de renda salarial. A idéia de saber, abnegação e vocação caíram por terra na valorização. Para muitos pais, alguém que tenha escolhido ser professor não está associado ao sentido de uma vocação, mas ao álibi de sua incapacidade de fazer algo melhor, ou seja, para dedicar-se a outra coisa em que se ganhe mais dinheiro. (grifo nosso).

Existe uma visão preconceituosa, segundo Weber (1996), em relação a quem escolhe a docência como profissão. Essa atitude preconceituosa de certa maneira reforça a desvalorização pessoal, profissional e social que é bastante visível.

Na visão de Odelius e Ramos (1999) houve uma época na qual ser professor era um privilégio de alguns, visto que uma minoria tinha acesso ao conhecimento e que faziam parte de uma elite letrada, pensante e culta. Embora, o perfil do(a) professor(a) já tenha passado por determinadas transformações, consideram que em parte esta imagem ainda encontra-se presente no modo como o(a) professor(a) se imagina.

Nos depoimentos das professoras 15% das formadoras e 12% das alunas reclamaram por melhores condições de trabalho. Este fator tem sido considerado como elemento de desvalorização da profissão.

A condição de trabalho, às vezes deixa muita a desejar: a falta de material didático, de computador, a omissão dos pais. Em fim, as condições de trabalho, tornam inviável nosso trabalho. (PROFESSORA H).

As condições de trabalho, não são das melhores, visto que não somos bem remuneradas, não somos valorizadas, sofremos muito, nossa auto-estima fica afetada. (PROFESSORA F).

A sobrecarga de trabalho é muito grande. É uma profissão estressante, angustiante, desvalorizada. Um pouco tensa pela situação desgastante da política do “descaso” com a educação.(PROFESSORA M).

Diante destes depoimentos, identifica-se assim, uma certa turbulência presente na vida do(a) professor(a). A este respeito Odelius e Ramos, (1999, p. 341) dizem que “internamente ele(a) sabe que é importante, mas o que lhe chega do exterior lhe diz que não é, lhe diz que o que oferece não vale tanto assim, pelo contrário vale muito menos que o trabalho de outros com o mesmo nível de exigência”.

Sobre esta situação Esteve (1999, p. 47) pronuncia-se afirmando que “o contexto social em que se exerce a docência tem grande influência para a auto-realização do professor no magistério”. Diante de um cenário bastante insatisfatório e não tão favorável quanto aparenta ser, a insatisfação do docente em relação à profissão é uma temática que merece maior atenção. Esta temática torna-se relevante quanto o reconhecimento do trabalho docente, que segundo Codo; Vasquez – Menezes (1999, p. 293) “o trabalho do educador é portador de uma especificidade, precisa ser considerado socialmente importante para ser realizado”.

A motivação ocupa um lugar de destaque em qualquer profissão. Para os autores citados acima “a motivação dos alunos, aplicação de conhecimentos no cotidiano, interesse pela pesquisa e por aprofundamento, coisas fundamentais para o exercício da atividade de educar, dependem diretamente da percepção do trabalho do educador como importante”.

Ora, se um profissional não se sente valorizado, a frustração pessoal e profissional passa a dominar o ser professor(a), caindo a sua produtividade de maneira vertiginosa. De acordo com Esteve (1999, p. 8) “a imagem atual que o professor tem de si está condicionada pela exigência de posturas requeridas pela sociedade”. A seguir apresentamos as marcas e influências significativas na vida e na formação inicial que as formadoras deixaram na vida das professoras.