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CAPÍTULO 4 Quando a Formação de Professoras Experientes Faz a Diferença: as

4.1 A Construção da Profissão

4.1.5 Ser Professora: uma profissão às vezes ingrata

Nesta parte do estudo buscamos encontrar pistas acerca das motivações e imagens que as professoras construíram sobre a profissão docente. Indagamos sobre as questões que envolvem as motivações de ingresso na profissão, a permanência na profissão, a percepção que têm da profissão, os motivos de satisfação e insatisfação com o trabalho docente. Procuramos as opiniões que as professoras formadoras e alunas possuem a respeito do

processo formativo da Prática de Ensino e Estágio Supervisionado de Ensino, bem como os saberes adquiridos e produzidos durante este processo e quais destes forneceram elementos que permitiram aprofundar a questão.

A pesquisa permitiu identificar que as razões que motivaram o ingresso na profissão são variadas e às vezes recheadas de complicações. Algumas vezes certos fatores se combinam gerando uma certa complexidade e que estão bastante claras nos depoimentos. As motivações encontradas nos discursos foram classificadas de acordo com os seguintes critérios: vocação, influências familiares, influências de amigos, necessidade de sobrevivência, necessidade de aquisição de conhecimentos.

Tabela 5 - Razões de Ingresso na Profissão Docente Teresina. Brasil. 2005. Motivação Professora Formadora

(%) Professora-Aluna(%) Vocação 54 52 Influências Familiares 22 21 Influências de amigos 10 11 Necessidade de sobrevivência 8 9 Necessidade de aquisição de conhecimentos 6 9 Total 100 100

Os motivos que levaram as professoras a ingressarem na docência têm sido objeto de vários estudos. A vocação5 tem sido freqüentemente apontada como principal justificativa para a decisão de ingresso no Magistério. De acordo com Esteve (1999, p. 7) “já houve um tempo em que se considerava o magistério, ou mais especificamente o trabalho docente, um sacerdócio a que os abnegados profissionais da educação deviam se dedicar quase estoicamente”. Os dados mostram com um peso maior esta realidade, tendo em vista que 54%

5 Consideramos vocação como um processo que é construído socialmente, que se consolida ao longo da formação profissional inicial e continuada.

das professoras formadoras e 52% das professoras-alunas, afirmaram estar na profissão por vocação para o ensino, como mostram depoimentos explícitos neste sentido.

Desde criança sempre sonhei ser professora. Desde cedo brincava de ser professora, era a minha vocação. (PROFESSORA L).

Eu brincava muito de ser professora com meus irmãos e amigos. Hoje sei que escolhi ser professora por vocação. (PROFESSORA C).

Como se pode perceber as professoras relembram o sonho de infância em relação ao magistério, ressaltando a perspectiva da vocação, relacionada ao exercício profissional. Neste caso, a ênfase na vocação expressa aspectos subjetivos e objetivos que ultrapassam a realização profissional. A vocação em relação ao magistério envolve certos estereótipos como, por exemplo, a afetividade, dedicação e paciência. Embora sejam universais, são socialmente atribuídos como características especificamente femininas, sobretudo quanto ao trabalho doméstico. Assim, mulher-vocação-magistério são aceitas como realidades que estão intrinsecamente relacionadas à mulher como algo natural, tendo em vista o cuidado que deve ter com o lar, filhos e esposo e à educação dos jovens. O termo vocação segundo Belotti, 1975, p.(110):

[...] subtende um chamamento de natureza quase mítica, a que é duro subtraí-se, desejo de ser útil à sociedade, desinteresse quase total pelo aspecto econômico da atividade, altruísmo e espírito de sacrifício. [...] Curiosamente, este termo é utilizado só quanto às profissões que se ocupam da pessoa humana e de suas facetas consideradas com ou sem razão, mais desagradável; infância, velhice, enfermidade física, anormalidade.

Pode-se dizer, então, que desde a infância, algumas aptidões são encontradas nos jovens pela família. Desse modo tudo é dito e tudo é determinado à criança, no momento em que a palavra aptidão lhe permite conceitualizar as múltiplas experiências em função das quais se joga com seu futuro de dona-de-casa, professor ou cirurgião.

A influência familiar aparece como sendo a segunda motivação que influenciou a escolha da profissão: 22% das formadoras e 21% das alunas apontaram como peso de diferentes pessoas da família nesta opção, como se pode observar nos depoimentos que se seguem e falam de pais e tios.

Nasci numa família de professores, meu pai, minha mãe e uma tia. Eles contribuíram muito para a minha escolha profissional. (PROFESSORA M). Minha tia influenciou bastante na minha escolha por ser professora. (PROFESSORA N).

Meu pai era professor universitário e queria que eu fosse professora. Para fazer a sua vontade, escolhi ser professora. (PROFESSORA G).

A influência de familiares tem sido apontada em vários estudos que tratam da formação de professores. Nunes (2001, p. 131–142) afirma que a biografia tem sido grande peso nesta escolha, sendo incluído também a família, sobre o processo de socialização do professor.

Outra razão que às vezes não é tão visível de maneira significativa tem sido a influência de amigos. 10% das professoras formadoras e 11% das professoras-alunas apontam a influência de amigos para a escolha de ser professora. Os depoimentos registram que a docência era o meio mais fácil, para obter uma remuneração.

Profissão de baixo investimento e acesso muito fácil. (PROFESSORA B). Ingressei no magistério por um salário. Eu não podia ingressar em outra profissão e esta era a mais fácil.. (PROFESSORA J).

O magistério é uma profissão de fácil ingresso, difícil é exercê-la. (PROFESSORA O).

De acordo com Weber (1996, p. 71) a escolha da formação para o magistério “é vista principalmente de duas maneiras: como busca de realização pessoal ou como imposição. Resultante da situação socioeconômica ou desempenho nos exames vestibulares”. Alguns

depoimentos da pesquisa confirmam a influência de tais fatores, como se pode identificar nos seguintes discursos:

Desde o início eu sabia que não queria ser professora. Queria ser médica, mas para quem é de família pobre, tem de seguir a profissão de professor. (PROFESSORA F).

A seleção do vestibular é muito forte, difícil para quem é de família pobre sai sempre perdendo. É obrigado a escolher ser professora. (PROFESSORA N).

A necessidade de sobrevivência é um fator que tem certa relevância para as professoras. No entanto, este aspecto expressa distintas maneiras de reagir à realidade, o(a) professor(a) pode assumir certos comportamentos que variam entre uma postura de conformismo e o de gostar do trabalho que realiza. A atitude de conformismo se expressa em depoimentos como estes:

Não escolhi de jeito nenhum, de jeito nenhum, ser professora. Nunca me imaginei sendo professora. Mas, diante das dificuldades foi o jeito ser professora. Sou professora por acomodação. (PROFESSORA J).

Sou professora por comodismo. (PROFESSORA L).

Gostaria de ser advogada. Fiquei acomodada no magistério.(PROFESSORA M).

Na outra direção, o magistério aparece como motivo de satisfação:

Reconhecimento dos alunos e ex-alunos (PROFESSORA A). Relevância do aprendizado dos alunos (PROFESSORA B).

Perceber o crescimento e autonomia profissional das professoras. (PROFESSORA F).

Independência para trabalhar e troca de experiência. (PROFESSORA H). Planejar e operacionalizar com sucesso. (PROFESSORA N).

Reconhecimento do meu trabalho pelos pais dos alunos. (PROFESSORA P). Perceber a aprendizagem dos alunos (PROFESSORA Q).

A necessidade de adquirir novos conhecimentos foi um aspecto que chamou nossa atenção: 8% das professoras formadoras e 9% das professoras-alunas apontaram este fator como sendo importante para a decisão de escolha da profissão. Para as professoras o desejo de adquirir novos conhecimentos está relacionado ao desejo de renovação de suas práticas pedagógicas. Nos depoimentos a seguir retratamos esta realidade:

Gosta da profissão pela possibilidade de adquirir novos conhecimentos.(PROFESSORA G).

Possibilidade de voltar a estudar (PROFESSORA L).

Talvez em razão do processo de adaptação em alguns casos o magistério passa a ser uma profissão definitiva na vida das professoras.

Ingressei no magistério por uma questão de destino. Prestei vestibular para Economia e não passei. Passei em Pedagogia. Quando comecei a estudar tive algumas resistências, mas algumas professoras me abriram os olhos. Acabei gostando e fiquei na profissão até agora. Acho que é definitivo. (PROFESSORA H).

Para algumas professoras, a profissão docente é transitória como se pode observar nos discursos a seguir.

Pretendo mudar de profissão. Estou no magistério por uma questão de tempo. Logo que eu concluir o curso de Direito, deixarei de ser professora. (PROFESSORA N).

Não gosto do magistério. Estou na profissão por causa do salário. Pretendo fazer outro curso. Pretendo ser médica, porque me identifico com a profissão. (PROFESSORA I).

Algumas respostas não se enquadraram nas razões mais comuns para as razões de ingresso no magistério, que apresentam outros contornos para o tema. Encontramos depoimentos das professoras que reconhecem a complexidade do tema:

Gosto de ser professora porque não sou muito controlada. Faço o que quero. Tenho horários bem flexíveis. Faço o trabalho que gosto No entanto, por uma questão financeira gostaria de ser Dentista. (PROFESSORA C).

Ser professora, era a única profissão que eu poderia assumir, porque era pobre. Hoje, em dia, admiro a profissão. Mas a minha visão mudou, tento compreender a complexidade do magistério. (PROFESSORA H).

Inicialmente foi a profissão quem me escolheu, por uma atitude meio impensada. Depois tomei gosto e estou apaixonada pela profissão. É uma profissão bastante complexa.(PROFESSORA M).

No item a seguir estamos analisando algumas atitudes das docentes em relação à docência.