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CAPÍTULO 1 Percurso Metodológico da Pesquisa

1.3 Da Coleta de Dados

Em razão de esta pesquisa comportar um caráter multimetodológico, utilizamos, simultaneamente e ou consecutivos, os seguintes instrumentos de investigação e de coleta de dados, como já explicado em item anterior: O questionário, a entrevista semi-estruturada de formação (modalidade semi-estruturada), e os Documentos Pessoais (Projetos de Intervenção e diários do Estágio Supervisionado de Ensino) com a finalidade de traçar um perfil profissional e das práticas docentes.

Para o desenvolvimento das tarefas previstas na coleta de dados, dedicamos dois semestres letivos (oito meses, de outubro/2001 a maio/2002) concomitantemente às atividades de revisão bibliográfica, e elaboração dos instrumentos de coleta de dados.

Durante esse espaço de tempo, visitamos as escolas, a UFPI e assistimos 10 (dez aulas de cada professora-aluna e 5 (cinco) de cada professora formadora. Estas instituições se

encaixam dentro dos parâmetros por nós estabelecidos, no que se refere a possuírem experiência e serem bem sucedidos profissionalmente. Nessas instituições, mantivemos, inicialmente, contato-conversa com os gestores(as): nas escolas com os Diretores(as), Coordenadores(as) pedagógicos(as) e na UFPI/CCE com o Diretor do Centro de Ciências da Educação e a Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino, expondo nosso propósito de estudo, as linhas gerais do trabalho e, nesse sentido, sondando sobre a possibilidade de colaboração.

Recebemos um pronto atendimento de todas as escolas e da UFPI-CCE. A propósito, um fato que muito nos estimulou a prosseguir com a pesquisa sendo aceito sem restrições por cada instituição e pelos sujeitos, sendo agendados encontros durante os quais exporíamos nossa proposta de estudo e sondaríamos sobre a disposição, ou não, desse grupo ao concordarem em serem nossos colaboradores.

Em encontros informais com cada professora, após explanação, discussão acerca do trabalho e da tarefa que deveriam desempenhar, no caso, elaboração do projeto de intervenção e diários do Estágio Supervisionado de Ensino bem como a operacionalização da intervenção e aplicação do questionário, realização da entrevista e observação das aulas, todas as professoras alunas e formadoras se mostraram dispostas a enfrentar as atividades.

É importante ressaltar, que as professoras formadoras responderam apenas ao questionário e à entrevista. No caso deste grupo de professoras formadoras observamos cinco aulas, para podermos nos certificar do trabalho desenvolvido em sala de aula, e colher informações para subsidiar a compreensão do processo formativo posto em ação, ou seja, se tinha uma relação direta com o que havia sido posto no Projeto Formativo. Assim, as observações serviram para esclarecer aspectos que não ficaram claros através do questionário, da entrevista e também para sabermos um pouco mais sobre a prática docente de cada professora.

Em relação às professoras-alunas entramos em contato através das aulas na UFPI, posteriormente, realizamos visitas nas escolas. Durante as visitas fizemos a exposição do nosso objeto de estudo, o questionário, o roteiro das entrevistas, elaborou-se os projetos de intervenção e acompanhamos a implementação do referido projeto, também instigamos às professoras a relatarem as atividades desenvolvidas com os alunos durante a implementação do referido projeto, visando compreender o desenvolvimento de suas práticas, ou seja, a aquisição e construção de novos saberes e o desenvolvimento da competência pedagógica.

Para a escrita dos diários não fornecemos nenhum roteiro, porque não desejamos interferir na escolha de temáticas, visto que, o Projeto de Intervenção foi elaborado em função de uma temática ou problema que a professora estava enfrentando em sala e de suas necessidades profissionais.

Concomitante à implementação do Projeto de Intervenção, foram sendo elaborados os diários, contendo idéias, descrições e opiniões consistentes, fruto do processo reflexivo empreendido pelas professoras. As professoras, autoras dos diários da prática, exprimiam-se na condição de formandas e portadoras de profissionalidade. Isto é, registraram suas práticas revelando a influência que o processo formativo exerceu na sedimentação dessa formação, fortalecendo suas crenças e concepções.

Paralelamente ao tempo de implementação dos Projetos de Intervenção e redação dos diários, fazíamos as observações nas salas de aula das professoras-alunas nos turno da manhã e tarde e a cada 15 (quinze) dias assistíamos às aulas das professoras formadoras, na UFPI, além disso, agendamos a aplicação dos questionários. Após estas atividades agendamos as entrevistas semi-estruturadas tanto com as professoras formadoras quanto com as professoras/alunas.

Para efetivação das entrevistas usamos um gravador, fitas magnéticas e os roteiros das entrevistas, contamos também com prévia aquiescência de cada sujeito. Posteriormente,

todas as entrevistas foram transcritas pela pesquisadora e digitadas com a ajuda de um estudante universitário, na condição de colaborador que recebia honorários para realização de tal tarefa. Além disso, o estudante universitário digitou os dossiês de cada aluna e as respostas dos questionários. Todo esse material foi objeto de leituras e releituras apreciativas nas quais destacamos os aspectos importantes, significativos, ou seja, as singularidades que foram surgindo em cada material, com base nos objetivos definidos para o objeto de estudo, aspecto que será detalhado no próximo item.

Para realizar a aplicação dos questionários e realização das entrevistas, pelas características e peculiaridades inerentes a esse tipo de atividade, revelou-se uma tarefa trabalhosa, por conta do tempo disponível dos sujeitos, que estavam bastante atarefados e, além disso, entraram em greve.

O primeiro contato das professoras com os diários da Prática Pedagógica ocorreu num período de 12 horas durante o desenvolvimento da disciplina Prática Educativa II e III, através de um texto nosso, apresentado no Congresso da 1REDOR 2000, envolvendo a utilização de diários A Vida e o Ofício de Professoras do Ensino Fundamental na perspectiva de Desenvolvimento Pessoal e Profissional, sendo também realizado o estudo do Capítulo 2, “El diario como instrumento para detectar problemas y hacer explícitas las concepciones, do livro “El diário Del professor: um recurso para la investigacón en el aula”. (PORLÁN; MARTIN, 1997). O trabalho com diários envolveu a leitura e discussão de alguns relatos, o que permitiu a classificação, por parte das professoras-alunas, de trechos dos relatos que consideramos significativos, relativas ao professor, aos alunos e ao ambiente didático.

A elaboração dos diários foi solicitada, para a disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado de Ensino, quando propomos que as professoras-alunas elaborassem os seus relatos durante o desenvolvimento do Projeto Didático de Intervenção, no segundo

bimestre letivo do ano de 2002. Para esta elaboração sugerimos que observassem algumas instruções, como: transformações verificadas em relação à dinâmica da sala de aula, atitudes e aproveitamentos dos alunos, principais dificuldades conceituais enfrentadas, no desenvolvimento dos conteúdos, pelos alunos e por elas mesmas e sugestões de modificação nas atividades realizadas.

Nos encontros de socialização de experiência das práticas desenvolvidas na escola ocorreram a leitura e discussões coletivas dos diários. Nestes encontros fazíamos questionamentos sobre os aspectos que não ficaram muito claros nas narrativas, ou pedíamos às professoras que comentassem uma determinada atividade ou acontecimento relatado para esclarecimento coletivo. Era um momento aberto à participação das demais professoras, que se encontravam bastante atentas, geralmente questionando sobre aspectos mais descritivos relacionados à metodologia empregada ou à disposição e participação dos alunos.

Durante os encontros de leitura e discussão coletiva dos diários, evitou-se sempre uma postura avaliativa. As questões levantadas às professoras-alunas procuravam esclarecer aspectos da narrativa que não estava compreensível, ou então para evidenciar alguns aspectos diferenciados na prática de sala de aula, em função dos trabalhos desenvolvidos na disciplina.

Para realizar a análise dos diários no sentido de fazer surgir a evolução do trabalho participativo das professoras, definimos alguns passos que foram seguidos.

Na primeira fase, foi feita uma leitura geral e exploratória, sem a preocupação de fazer uma categorização prematura. Dessa maneira, tomamos contato com a forma e o conteúdo da narrativa de cada professora.

Na segunda fase, identificamos as situações presentes na narrativa, como as professoras usavam os recursos didáticos, sua postura pedagógica na sala de aula, os desafios encontrados e seus encaminhamentos. Observamos ainda algumas situações diferenciadas,

evidenciadas através das contribuições do Curso à prática das professoras, assim como a maneira como estas eram trabalhadas.

Na terceira fase, averiguamos a coerência da análise realizada, reafirmando-a a partir do discurso apresentado nos registros. A análise tinha como objetivo captar os saberes construídos pelas professoras no desenvolvimento da prática pedagógica.

Em relação aos diários, dadas suas peculiaridades, principalmente por serem documentos, não estabelecemos a princípio uma data, ficando acertado com as professoras/alunas que devolvessem ao término da implementação do projeto de intervenção, esse material foi devolvido no prazo de três meses.

Esse prazo foi bastante benéfico, pois apesar de as professoras estarem envolvidas com o Processo Formativo na UFPI e com suas turmas nas escolas e com a greve, conseguiram cumprir essa tarefa sem muitos transtornos, nos devolveram um dossiê com a minuta do Projeto de Intervenção, os diários da prática educativa e cada atividade desenvolvida durante a implementação do projeto.

Empregamos todos esses instrumentos de coleta de dados, na certeza de que viabilizariam às professoras/alunas a possibilidade de reverem sua trajetória de vida profissional, desde a formação inicial à continuada, além de registrarem suas práticas e seus saberes, reverem suas crenças sobre o ensinar e o ser professora em decorrência desse processo de desenvolvimento profissional, que vem a ser nosso objeto de estudo.