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O instrumento Attitudes Towards Disabled Persons (ATDP-O) foi desenvolvido por Yuker e Block, em 1960, e sucessivamente usado e estudado, tendo em 1986 sido publicada uma monografia onde se descrevem os procedimentos de validação e se apresentou o valor normativo de 79,7 como a média resultante de 38 estudos, todos com participantes americanos e sem incapacidade; a garantia da validade de conteúdo, ou seja, em que medida os itens são adequados relativamente aos objectivos esperados, foi efectuada através de uma extensa revisão da literatura e pela análise dos itens por um painel de pessoas comuns; a validade de construção foi estabelecida através de cinquenta correlações da ATDP-O com variáveis demográficas e de personalidade e outras medidas de atitudes em relação às pessoas com incapacidade (validade concorrente). A fidelidade teste- reteste foi de 0,83 para um intervalo de 5 semanas. O alfa (α) de Cronbach foi de 0,76.

Embora esta escala não seja recente, seja criticada pela sua estrutura unidimensional ou ambiguidade factorial e pela sua desigualdade entre o número de itens positivos e negativos, vários autores reforçam que continua a ser a mais conhecida e utilizada para medir as atitudes em relação às pessoas com incapacidade (Antonak, 1980; Palmer, Redinius & Tervo, 2000; Pace, 2003; Rao, 2004). Existem mais duas versões alternativas apresentadas pelos mesmos autores, designadas por ATDP-A e ATDP-B, contendo 30 itens cada.

Segundo Rao (2004), a ATDP-O, que contem 20 itens, é a preferida, precisamente, pelo número mais reduzido de itens e consequentemente, pela maior rapidez na sua cotação, uma vez que as três versões são equivalentes.

A ATDP-O apresenta uma escala tipo Likert de 6 pontos, com respostas variando entre -3 (discordo por inteiro) e +3 (concordo inteiramente). Segundo os autores, não deve ser considerada a pontuação individual de cada item; é a pontuação de todos os itens que fornece informação com significado.

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O primeiro passo para pontuar o instrumento é modificar o sinal dos itens 2, 5, 6, 11 e 12. De seguida, procede-se ao somatório de todos os itens, podendo esta soma variar entre -60 e +60. O passo seguinte é inverter o sinal da soma e, finalmente, para eliminar os valores negativos, adiciona-se um valor constante de 60 ao resultado final, passando este a estar compreendido entre 0 e 120. As pontuações mais altas correspondem a atitudes mais positivas e de aceitação por parte dos respondentes, enquanto que pontuações mais baixas reflectem atitudes negativas e de rejeição.

Apesar de ter sido feita uma tentativa para a validação da ATDP-O em Portugal há alguns anos, essa versão apresentava erros na tradução de conceitos, nomeadamente, “disability” traduzido para “deficiência”, e uma escala de cotação diferente da original (variando entre 1 e 6), consequentemente, assumia que os valores totais poderiam variar entre 20 e 120, e não entre 0 e 120 como indicado por Yuker e Block (1986). Esta foi a principal razão para pensarmos num novo estudo para validar esta escala.

Para além destas correcções, foram feitas ligeiras modificações para reflectir preferências semânticas mais recentes, com enfoque na pessoa, de acordo com as orientações da Associação Americana de Psicologia (1992) assim como, manter as opções de resposta iguais às da versão original.

Instruções sobre o preenchimento da escala estão escritas no topo da única página que constitui o instrumento. Estas podem ser lidas pelo investigador ao respondente, mas nunca nenhum dos itens deve ser discutido individualmente. As questões sobre itens específicos devem ser respondidas sugerindo que o respondente deve interpretá-lo da forma que achar mais apropriado. Deve ser enfatizado que todos os itens devem ser respondidos e que não existe uma resposta neutra, ou seja, não existe a opção 0.

Este trabalho de adaptação e validação da ATDP-O teve como finalidade encontrar uma versão portuguesa que garantisse a validade e a fidelidade, sem erros morfológicos, sintácticos e semânticos na escala, para que pudesse ser aplicada numa amostra de pessoas utilizadoras de cadeira de rodas.

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Para além destes requisitos, foi também nossa intenção aproximar o lay out da versão portuguesa ao da versão original, mantendo as instruções e orientações para o preenchimento do questionário.

As propriedades psicométricas desta versão foram testadas através de procedimentos metodológicos idênticos aos dos estudos da versão original (Yuker & Block, 1986). O coeficiente alfa (α) de Cronbach foi utilizado para averiguar a consistência interna (i.e., fidelidade). A validade de construção foi testada através da relação da escala com variáveis sócio-demográficas como o género, a idade, o contacto prévio com pessoas com incapacidade, a área do curso (saúde vs. não saúde) e ainda, nos cursos da área da saúde, abordagem ou não de conteúdos relacionados com o processo de incapacidade.

Amostra de conveniência (não-probabilística), composta por 411 estudantes do ensino superior, de cursos da área da saúde e outros, com idade M=21,25; DP=4,56, variando entre os 18 e os 56 anos. Desta amostra, 71% eram do sexo feminino (n=292), 48,7% admitiu não ter tido contacto próximo (familiares ou amigos) com pessoas com incapacidade. Quanto aos cursos, 27,5% (n=113) pertenciam a cursos não ligados à saúde; os restantes 72,5% incluíam alunos dos cursos de Análises Clínicas e Saúde Pública, Farmácia, Radiologia, Cardiopneumologia, Saúde Ambiental, Audiologia e Fisioterapia (Quadro 2). Embora 298 alunos frequentassem cursos ligados à saúde, apenas os alunos dos cursos de Audiologia e Fisioterapia abordam nos seus planos de estudos matérias relacionadas com o processo de incapacidade.

A avaliação da fidelidade mostrou adequada, uma vez que o valor do alfa (α) de Cronbach foi de 0,77 (0,76 na versão original). A pontuação média para a totalidade da amostra portuguesa foi de 68,5 (valor normativo de 79,7).

Os resultados revelam uma relação estatisticamente significativa entre a idade e os valores da escala (r=0,14, p<0,01).

Quanto ao género, confirma-se uma diferença estatisticamente significativa entre as médias dos homens e das mulheres, com as mulheres a pontuarem, em média, 70,61

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e os homens, 63,13 [t(409)=5,14, p<0,001]. Também são estatisticamente significativas as diferenças entre as médias da pontuação total da versão portuguesa da ATDP-O dos respondentes que têm contacto com pessoas com incapacidade e os que não têm contacto, 69,06 e 65,20, respectivamente [t(349)= -2,69, p<0,01]. As médias das pontuações dos participantes que frequentam cursos não ligados à saúde, com as dos participante a frequentar cursos de saúde, também apresentam uma diferença estatisticamente significativa; os segundos pontuam mais alto (69,72) do que os primeiros (65,39) [t(409)= -3,06, p<0,01].

De entre o grupo de participantes a frequentar cursos de saúde, foram identificados dois subgrupos baseados no seguinte critério: alunos a frequentar cursos da área da saúde cujos planos de estudo abordam com algum detalhe o processo de incapacidade (Audiologia e Fisioterapia) e alunos a frequentar cursos da área da saúde cujos planos de estudo não abordam em detalhe o processo de incapacidade (Análises Clínicas e Saúde Pública, Cardiopneumologia, Farmácia, Radiologia e Saúde Ambiental); os primeiros pontuam mais alto (71,90) do que os segundos (67,57), sendo essa diferença estatisticamente significativa [t(296)= -2,88, p<0,01].

A versão portuguesa pareceu ainda apresentar várias dimensões, característica também identificada noutros estudos (Antonak, 1980; Rao, 2004), apresentando uma distribuição dos itens por cinco componentes, cujo valor da variância explicada é de 48,87%. Contudo, porque assumimos reproduzir os procedimentos seguidos pelos autores originais, não apresentaremos os detalhes da análise factorial realizada, uma vez que os resultados apontam para uma estrutura semelhante à americana.

A escala Atitudes em Relação às Pessoas com Incapacidade (versão portuguesa da ATDP-O), é um instrumento breve, sem pré-requisitos para o seu preenchimento por parte dos respondentes, sendo incluído no nosso estudo para averiguar as atitudes dos utilizadores de cadeira de rodas em relação à incapacidade (Martins & Pais Ribeiro, 2007a), revelando um α Cronbach de 0,78 na amostra de utilizadores de cadeira de rodas.

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Escala do Impacto Psicossocial das Tecnologias de Apoio (versão portuguesa