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2.3 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO, SIMPÁTICO,

2.3.6 Ativação Do Sistema Nervoso Autônomo E Sua Relação Com

Além do D2, existem vários outros índices do Método Não Linear que podem ser encontrados na literatura. Entretanto, este trabalho irá focar em três indicadores do método não linear, sendo estes o SD1, SD2 e CCM. Para compreender a qual tipo de ativação do sistema nervoso autônomo (SNA) estes índices estão relacionados, foi realizado um estudo por Karmakar et al.,(2011), denominado “sensibilidade temporal da variabilidade cardíaca no Poincaré plot para mudanças na atividade parassimpática do sistema nervoso16”.

A pesquisa de Karmakar et al.,(2011) recrutou 5 sujeitos com ritmo cardíaco normal, não fumantes, sem comprometimentos cardiovasculares e que não estavam recebendo nenhum tipo de medicação durante o tempo em que foi realizado o estudo. Todos os procedimentos foram realizados com todos os sujeitos no mesmo

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Correlação negativa – quando o valor de uma aumenta, o da outra diminui (Schubert et al., 2009).

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Título original - Sensitivity of temporal heart rate variability in Poincaré plot

horário, e medidas foram tomadas para evitar variáveis intervenientes. Além disso, não houve controle da respiração e todas as etapas do estudo ocorreram com os sujeitos em repouso. Para a manipulação do SNA, foi primeiro inserido um pequeno tubo rígido intravenoso adaptado em uma seringa nos sujeitos, permitindo que estes repousassem por 20 minutos antes de dar andamento aos procedimentos. Após este período de tempo, os sujeitos foram orientados a se deitarem em decúbito dorsal e repousarem por mais 10 minutos. Novamente, após este período de tempo, foi coletada uma linha de base (LB) da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Esta LB corresponde ao estado da VFC sem que esta tenha sido manipulada por qualquer forma de procedimento, refletindo estado “natural” do organismo naquele determinado momento. Após terem sido aferidos dados referentes a LB, os sujeitos foram inclinados a 70 graus através de uma cama elétrica hospitalar (este tipo de procedimento é reconhecido na literatura por seu efeito simpático). A figura 6 exemplifica a técnica de inclinação da posição de decúbito dorsal para 70 graus.

Figura 6: Teste de inclinação para 70 graus.

Fonte: Adaptado do site da Cleveland Clinic

Para possibilitar que o coração estabilize-se nesta nova posição, foi permitido aos sujeitos repousarem por mais 5 minutos, sendo que ao final destes foram coletados dados da VFC. Após a conclusão desta etapa, injetou-se, por meio do pequeno tubo rígido intravenoso adaptado em uma seringa, sulfato de atropina17 na corrente sanguínea dos sujeitos. Este fármaco é conhecido por seus efeitos depressores da atividade parassimpática. Por último, após uma semana da aplicação do

sulfato de atropina, foi realizada a última parte desse estudo por meio da

aplicação, durante uma noite, de um adesivo de escopolamina18 na parte posterior da orelha. Os resultados para os 5 sujeitos da pesquisa mostraram que os índices da variabilidade da frequência cardíaca no método não linear SD2 e CCM tiveram seus valores alterados após a noite em que os sujeitos receberam o adesivo com escopolamina. Sabendo-se que a escopolamina é estimulante do sistema parassimpático pode-se compreender então que o aumento da atividade parassimpática está associado ao aumento dos referidos indicadores. Além disso, observou-se, como resultado da aplicação de sulfato de atropina e da “técnica de levantamento do sujeito da posição de decúbito-dorsal para inclinado em ângulo de 70 graus”, que ambos os procedimentos provocaram uma diminuição nos valores SD2 e CCM, sendo que SD1 apresentou um aumento de seu valor.

Relacionando-se este evento ao fato de que sulfato de atropina e “levantamento para posição de 70 graus” são, segundo a literatura, situações que estimulam o tono simpático do SNA, compreende-se que o aumento do índice LF está relacionado ao aumento da atividade no sistema nervoso simpático. A tabela 4 mostra o comportamento dos

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Sulfato de atropina – é um fármaco que interfere no processamento da acetilcolina causando uma ação simpática no organismo (Schallert, Ryck & Teitelbaum, 1980).

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Escopolamina – é um fármaco que age no sistema nervoso central e é utilizado para estimulação vagal (Putcha, Cintrón, Tsui, Vanderploeg & Kramer, 1989).

índices mediante as diferentes situações experimentais às quais foram submetidos os sujeitos:

Tabela 4: Esta tabela mostra a média dos índices SD1, SD2 e CCM obtidos a partir do Poincaré Plot.

Feature SD1 (mean +/-)(ms) SD2 (mean +/-)(ms) CCM (mean +/-)(sd)

Atropine 4,45 +/- 2,45* 43,11 +/- 13,79* 3,88E-02 +/- 1,05E-02* Head-up tilt 11,96 +/- 5,47 70,77 +/- 13,98 6,29E-02 +/- 2,08E-02* Baseline 28,74 +/- 9,28 85,94 +/- 11,27 1,50E-01 +/- 2,14E-02* Scopolamine 69,90 +/- 21,25* 103,05 +/- 20,05 2,75E-01 +/- 2,14E-02*

Fonte: Adaptado de Karmakar et al. (2011).

Legenda: Feature – recurso; mean – média; sd – desvio padrão; ms – milesegundos; Head-up tilt – teste de inclinação; Baseline – linha de base; Scopolamine - escopolamina

A partir da exposição dessa última pesquisa, foram contemplados todos os indicadores do Domínio do Tempo, Frequência e Método Não Linear que serão utilizados neste trabalho. A tabela 5 tem como objetivo apresentar um resumo dos estudos associados aos índices apresentados neste trabalho (Domínio do Tempo, Frequência e Método Não Linear) e a relação com a ativação autonômica (simpático ou parassimpático).

Tabela 5: Resumo dos estudos, índices utilizados e associação com ativação simpática ou parassimpática.

Autor(es) do(s) estudo(s)

Amostra Domínio Índice(s) Tipo de ativação

Pagani et al. (1997) 7 H 1 M Frequência LF Simpática Binkley et al. (1993) 13 S Frequência HF Parassimpática Kontopoulos et al. (1997) 17 H 23 M Tempo SDNN RMSSD pNN50 Parassimpática Schubert et al. (2009) 22 H 28 M

Não linear D2 Simpática

Karmakar et al. (2011) 5 S SD1 SD2 CCM Parassimpática

Fonte: Adaptado de Camm et al. (1996).

Legenda: H – homem; M – mulher; S – sexo não definido pelo pesquisador

Este capítulo teve como objetivo situar o leitor em relação ao conceito de variabilidade da frequência cardíaca e de que forma é possível acessá-la por meio de diferentes análises estatísticas (Domínio do Tempo, Frequência e Método Não Linear). Além disto, foi demonstrada por meio de estudos a relação entre os principais indicadores estatísticos e ativação dos ramos simpático e parassimpático do sistema nervoso autônomo (SNA). No próximo capítulo deste trabalho, tem-se por objetivo demonstrar de que forma o sistema nervoso central (SNC) modula a atividade autonômica.

2.4 ATIVIDADE AUTONÔMICA E SISTEMA NERVOSO

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