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2.4 ATIVIDADE AUTONÔMICA E SISTEMA NERVOSO CENTRAL

2.4.5 Possíveis Riscos Consequentes Da Prática De Meditação

A seguir, são discutidos alguns dos aspectos relacionados às possíveis adversidades provocadas pela prática da meditação

mindfulness e respiração controlada. Para dar subsídio a esta discussão,

pesquisaram-se na literatura estudos que pudessem ilustrar a investigação. Sendo assim, conforme estudo da arte, observou-se que a maior parte dos artigos encontrados apontam para benefícios relacionados à prática da meditação mindfulness e a respiração controlada (Hölzel, Carmody, Evans et al., 2010; Ivanovski & Malhi, 2007; Kabat-Zinn, 1990).

Contudo, foi possível encontrar estudos que apontaram para riscos relacionados à prática da meditação (Kennedy, 1976; Louis & Philip, 2006) e menos comum a respiração (Brown & Gerbarg, 2005); sendo importante ressaltar que são numerosas as formas de

meditação/respiração e que a literatura aponta para várias maneiras e não necessariamente uma modalidade em específico na qual riscos tornam-se mais evidentes (Allen, Chambers & Knight, 2006).

Em um estudo realizado por Yorston (2001), o autor afirma que a meditação tem sido utilizada para o controle de um número significativo de doenças mentais. Contudo, são relatados no respectivo estudo denominado “mania precipitated by meditation: a case report

and literature review” dois casos nos quais os indivíduos experenciaram

episódios maníacos após a prática de técnicas de meditação provenientes da tradição Zen e Yoga.

Outro estudo (Kuijpers, Heijden, Tuinier & Verhoeven, 2007) evidenciou o desenvolvimento por um indivíduo do sexo masculino de psicose aguda e transitória, com sintomatologia polimórfica após a prática de meditação. Os autores do artigo sugerem que a técnica denominada meditação Qi-gong pode se estabelecer como um agente estressor em pacientes com vulnerabilidade psicológica, contribuindo para a ocorrência de evento psicótico.

Para Kennedy (1976), é necessário que a psiquiatria torne-se alerta em relação à ampliação significativa dos grupos envolvidos no “aumento da consciência” por meio da meditação, nos quais sintomas psiquiátricos podem se manifestar. Como exemplo, o autor menciona o caso de um indivíduo do sexo masculino com 24 anos de idade e um bem sucedido homem de negócio de 37 anos que durante a prática de meditação para alteração da consciência experenciaram sintomas de “despersonalização”.

Relacionado também aos riscos associados à prática da meditação, um estudo realizado com 221 alunos universitários que aprenderam a meditar, quando comparado com 860 que nunca haviam meditado, evidenciou que os meditadores exibiram de forma significativa sinais semelhantes aos da epilepsia como: “experiências vibratórias” e “fenômenos paranormais” (Persinger, 1993). Também com relação à epilepsia, um estudo denominado “meditation and

epilepsy: a still hung jury”, realizado por Louis e Philip (2006), tem

como base o caso de uma jovem mulher epiléptica praticante de meditação para discutir a possível relação causal entre a síndrome e a prática, contudo os resultados deste trabalho não alcançaram um desfecho conclusivo.

Ainda segundo Bauer-Wu (2010), indivíduos que estejam iniciando a prática da meditação mindfulness podem experienciar um

aumento transitório de ansiedade decorrente da maior percepção de seus próprios sentimentos e pensamentos. O autor reforça ainda que, para pessoas significativamente envolvidas em seus afazeres profissionais e distrações do dia a dia, pode ser difícil a prática da meditação que envolve a necessidade de se abstrair de vários estímulos externos para focar sobre o processo respiratório.

Com relação aos possíveis riscos decorrentes do exercício da Respiração Controlada no modelo 3:6 (inspiração em 3 segundos por exalação em 6 segundos) (Gilbert, 1999; Pramanik et al., 2009) não foi encontrado na literatura consequências potencialmente adversas. Entretanto, um estudo realizado por Brown e Gerbarg (2005), denominado “sudarshan kriya yogic breathing in the treatment of stress,

anxiety, and depression: part II – clinical applications and guidelines”,

no qual é utilizado um tipo de respiração chamado Bhastrika (palavra proveniente do Sânscrito que significa respiração fole) (Brown & Gerbarg, 2005), observaram-se em alguns participantes sinais de mania e psicose. Contudo, tais sintomas foram identificados em praticantes diagnosticados com Transtorno Bipolar I. Desta forma, em locais nos quais atualmente é ensinada esta técnica, os interessados são submetidos a uma entrevista que busca, dentre outros aspectos, rastrear se o indivíduo apresenta Transtorno Bipolar I. Atribui-se a manifestação destes sintomas (mania e psicose) durante a Bhastrika ao fato deste processo respiratório se caracterizar por ciclos rápidos de inspiração e exalação (hiperventilação) que propiciam um aumento significativo da quantidade de oxigênio no sangue.

Foram trabalhados até o presente momento deste trabalho, os conceitos básicos sobre variabilidade da frequência cardíaca e as principais formas de mensuração e análise. Além disto, foi mostrado o funcionamento do sistema nervoso autônomo e as duas formas de controle deste sistema por meio do ramo simpático e parassimpático do sistema nervoso central. Além disto, mostrou-se a relação entre o sistema nervoso autônomo e os principais índices da variabilidade da frequência cardíaca (LF, HF, LF/HF, VLF, SDNN, RMSSD, pNN50, D2, SD1, SD2 e CCM). Na sequência, foi mostrada a relação entre ativação autonômica/sistema nervoso central e como a sobrecarga cognitiva interfere na homeostase autonômica determinando um quadro psicofisilógico denominado distress/estresse. Finalizada esta parte, foi dada continuidade mostrando duas técnicas capazes, segundo a literatura, de modulação autonômica a partir do córtex pré-frontal.

Igualmente, buscou-se, por meio de artigos, indicar possíveis riscos decorrentes da prática da meditação mindfulness e respiração controlada. É importante ainda esclarecer que propositalmente deixaram-se as técnicas da meditação mindfulness e respiração controlada para serem trabalhadas segundo seus mecanismos e conceitos dentro das etapas específicas (etapa 1 – meditação mindfulness, etapa 2 – respiração controlada e etapa 3 – combinação da respiração controlada e meditação

mindfulness). Na sequência, é mostrada a questão metodológica do

trabalho como um todo, sendo que, dentro de cada etapa (1, 2 e 3) especificamente e de forma pontual, novamente será trabalhada a metodologia.

3 MÉTODO

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