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Atividade antitumoral dos liquens

260 C 1 Brazilian Journal of Medical and Biological Research

1.3 Importância econômica e biológica das substâncias liquênicas

1.3.9 Atividade antitumoral dos liquens

Os aumentos de câncer no mundo inteiro têm estimulado os pesquisadores a buscar novos caminhos que venham solucionar ou controlar esta patologia. Existem inúmeros produtos farmacêuticos, naturais ou sintéticos, que são destinados ao tratamento do câncer, porém particularidades de cada tipo de tumor e possíveis resistências às drogas quimioterápicas estimulam os pesquisadores a buscarem novas drogas com atividade antineoplásicas

(BACKOROVÁ et al., 2011), como por exemplo, o ácido 16-Ο-acetil leucolitico obtido de

Myelochroa aurulenta (TOKIWANO et al., 2009).

Existe na natureza organismos que produzem algumas substâncias capazes de regular ou controlar o crescimento de outros organismos, exemplo dos fungos liquenizados que são estimulados pelas algas a produzirem compostos que tem importante papel ecológico e biologico na natureza. Estes compostos de natureza fenólica e exclusivos dos liquens podem ser encontrados abundantemente na família das Cladoniaceae, como por exemplo, a atranorina encontrada na C. dendroides, o ácido fumarprotocetrárico da C. verticillaris e o ácido úsnico da C. susbtellata, cujos extratos foram testados em 1990 contra diferentes linhagens de células tumorais. Os extratos da C. substellata e verticillaris inibiram o crescimento do carcinoma de Ehrlich em 80%, além de inibirem em 73% e 74%, respectivamente o desenvolvimento do Sarcoma-180 (LIMA et al., 1990; NASCIMENTO et al., 1994).

Santos et al. (2001), avaliaram a citotoxicidade (células NCI-H 292) e atividade antitumoral (tumor, Sarcoma – 180) do ácido úsnico nanoecapsulado obtendo resultados promissores na faixa de concentração de 14 -20 µg/mL-1, respectivamente para o ácido

livre e nanoencapsulado. Os dados demonstraram que o ácido úsnico encapsulado aumentou a inibição do tumor em 66% quando comparado com o livre, também não foi relatada nenhum alteração histológica nos rins. Em 2006, estes mesmos autores confirmaram seus resultados deixando evidente a redução da hepatotoxicidade do ácido úsnico encapsulado quando comparado com o livre (SANTOS et al., 2006).

O ácido lobárico obtido da Stereocaulon sasakii inibiu a polimerização da tubulina, indicando uma pronunciada atividade antimitótica (MORITA et al., 2009). Em contraste, estudos realizados por O’Neill et al., (2010) demonstraram que o ácido úsnico não afeta a formação dos microtubulos em células de câncer de mama. Estes autores afirmam que a atividade antineoplásica do ácido úsnico não está relacionada à formação ou estabilização dos microtúbulos. Morita et al., (2009) sugerem que a presença dos anéis aromáticos e correta orientação óptica do carbon quiral juntamente com os grupamentos carboxílicos e hidroxílicos exercem importante papel neste tipo de atividade biológica.

O ácido úsnico (+) de Cladonia arbuscula e o (-) de Alctoria ochroleuca não difererem entre si em suas propriedades anti-proliferativas contra o câncer de mama com IC50 de 4.2

µg/mL e 4.0 µg/mL para o ácido úsnico (+) e (-) e IC50 5.3 µg/mL e 5.0 µ g/mL para o câncer

do pâncreas, respectivamente (EINARSDÓTTIR et al., 2010). Esta mesma substância isolada de Rhizopla melanophthalma agiu como citoprotetores em sementes de Zea mays (milho) tratadas com substancia cancerígena padrão (azida de sódio). Em adição, os extratos metanólico da R. melanophthalma e R. chrysoleuca mostraram efeito antimutagênico entre 70.73 e 85.71% em linhagens de Salmonela typhimurium (AGAR et al., 2010).

A viabilidade da linhagem de células HeLa tratadas com os extratos de acetato de etila e cloroformico do líquen Thamnolia vermicularis diminuiu com o aumento da concentração dos extratos. Os valores da IC50 depois de 24 h do extrato de acetato de etila foi de 162.5 µg mL,

enquanto que o extrato cloroformico foi de 159.32 µg mL. Todas as concentrações testadas (50, 100, 150 e 200 µg mL) após 72 h do tratamento mostraram efeitos citotóxicos. A atividade citotóxica dos extratos da T. vermicularis depende da sua composição química, nesta espécie foram identificados os ácidos esquamático, lecanórico, barbático e baseomicésico, todos sendo consideradas substâncias bioativas com grande potencial para serem exploradas pelas indústrias de alimento e farmacêutica (MANOJLOVIĆ et al., 2010b).

Além das substâncias citadas anteriormente, os ácidos everninico, β-resorcilíco, o etil orselinato, a vermicularina e outras três substâncias que são derivadas do ácido baseomicésico também foram isolados da T. vermicularis e seus efeitos antiproliferativos contra as células de câncer de próstata, leucemia, adenocarcinoma gástrico, carcinoma mamário, câncer de pâncreas e pulmão foram avaliados. Os novos compostos derivados do ácido baseomicésico, denominados 1 e 2 exibiram os maiores efeitos inibitório sobre o crescimento do câncer de próstata com IC50 de 70.06 e 79.37 µM, respectivamente. Esta atividade superior a das outras

susbtâncias pode estar relacionada a adição do grupamento carboxilico (-COOH) na posição 1’ do primeiro anel fenólico da molécula. O composto 1 pode agir como estabilizante da estrutura G-quadruplex do DNA, que interagem diretamente com a telomerase, bloqueando os passos para o alongamento da cadeia, interferindo no processo de proliferação celular. No caso dos tumores pode agir deste modo como agentes antitumorais. O composto 2 não se liga a esta estrutura, porém está apto a sofrer ionização em soluções aquosa (GUO et al., 2011).

Adenocarcimona de ovário, câncer de mama adenocarcinoma de cólon de útero, leucemia promielocítica e linfomas são alguns exemplos de tumores que foram utilizados para testar a atividade antitumoral do ácido úsnico, atranorina e a parietina. Destes compostos apenas o

ácido úsnico demonstrou atividade contra todas as linhagens de cânceres na concentração de 50 µM. Nos ensaios para verificar a habilidade clonogênica dos tumores, a atranorina também exibiu significativa inibição, embora todos os compostos testados dependessem da concentração e do tempo de contato da droga com os tumores, concluindo que tanto o ácido úsnico como atranorina induziram a apoptose e inibiram a proliferação celular (BÄCKOROVÁ et al., 2011).

A vicanicina isolada do Psoroma dimorphum e o ácido protoliquesterínico isolado do líquen Protousnea magellanica mostraram efeitos antitumorais dose-resposta nas concentrações entre 6.25-50 µM, em células de câncer de próstata, sem nenhum efeito citotóxico sobre as células de fibroblastos imortais normais usadas como modelo experimental para avaliar os efeitos citotóxicos de drogas carcinogênicas ou agentes candidatos a antineoplásicos (RUSSO et al., 2012). Outras substâncias bioativas com atividade citotóxica e antitumoral, também podem ser obtidas de Hypogymnia physodes (PAVLOVIC et al., 2012) e da U. longissima que contém o ácido difractáico, considerado um agente pro-apoptotico (ODABASOGLU et al., 2012).