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Capítulo VII Refletir sobre a prática pedagógica em Educação Pré-Escolar e no

7.2.1. Atividade “Plantas e Animais: Preservar a Natureza”

A primeira atividade selecionada da prática pedagógica, em contexto de 1.º Ciclo do Ensino Básico, realizou-se ao longo da terceira, quarta e quinta intervenção e teve como ponto de partida os conteúdos das plantas e dos animais. Estas temáticas integram o programa de Estudo do Meio do 2.º ano de escolaridade e permitem explorar outras áreas disciplinares, designadamente a Educação para a Cidadania, a Expressão Plástica, o Português e a Matemática.

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A importância da exploração destes conteúdos prende-se não só com o facto de ser fundamental que os alunos conheçam e compreendam o Meio Ambiente, mas também por ser cada vez mais essencial que estes adquiram a consciência de uma cidadania ambiental. Esta necessidade de uma cidadania respeitadora do direito do ambiente é fruto de uma grande oposição aos efeitos negativos da interação de problemas ambientais com problemas sociais (Santos, 2005). É essencial considerarmos que o “ser humano é responsável face à diversidade cultural e ecológica” (Medeiros, 2009, p. 76).

A cidadania ambiental propõe-se, assim, a modificar as relações com o meio ambiente no sentido de dar voz a um projeto de criação de um novo “ethos” social. Por outras palavras, “mais do que resolver conflitos pontuais ou preservar a natureza através de intervenções pontuais, insere a transformação das relações dos grupos humanos com o meio ambiente em contextos de transformação da sociedade” (Santos, 2005, p. 82,)

É com base nisto que desenvolvemos a atividade que aqui apresentamos e que terá uma componente mais ligada às plantas do que aos animais, considerando que a exploração deste último conteúdo ficou ao encargo da minha colega de estágio.

Assim sendo, esta atividade foi introduzida através da exploração do conteúdo das plantas, mais especificamente as plantas espontâneas e cultivadas. Para tal, começou-se por apresentar à turma duas imagens, uma da natureza e outra da cidade, de forma a abordar com os alunos as principais diferenças entre os locais. Quando interrogados, estes demonstraram

uma maior apreciação pela imagem representativa da natureza em oposição à cidade. Mencionaram a existência de um maior número de animais e plantas neste primeiro local do que no segundo, referindo que as condições eram mais propícias para o seu crescimento.

Depois destes identificarem as plantas, os animais e as pessoas como seres vivos, centrou-se a nossa atenção no conteúdo das plantas. Começou-se por clarificar os conceitos de plantas espontâneas e plantas cultivadas, referindo-se, também, os diferentes ambientes onde as plantas podem viver. Estes conceitos foram, posteriormente, colados pelos alunos no seu caderno de trabalho como recurso de estudo para avaliações futuras.

Figura 14 - Apresentação das imagens representativas da cidade e da natureza.

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Posteriormente, organizou-se os alunos por grupos e solicitou-se que se deslocassem pela escola à procura de diferentes plantas, fotografando-as. Depois de voltarem à sala, projetou-se as fotografias tiradas pelos

alunos e pediu-se aos mesmos para classificarem as diferentes plantas enquanto espontâneas ou cultivadas e, também, de acordo com o ambiente em que viviam. Esta atividade foi particularmente apreciada pelos alunos não só por lhes ter sido dada liberdade para se movimentarem pela escola como também pelo facto de terem assumido a

responsabilidade de tirar as fotografias e de se organizarem no seu grupo de trabalho. Outro dos aspetos a realçar consiste no facto de se ter constatado uma boa cooperação entre os elementos de cada grupo, o que é bastante positivo considerando as dificuldades que os alunos desta turma em particular apresentam neste domínio. Com este tipo de tarefa contribuímos para a concretização de alguns dos objetivos da Educação para a Cidadania suprarreferidos no enquadramento teórico e que consistem no desenvolvimento dos alunos enquanto indivíduos responsáveis, autónomos e solidários.

Noutro momento, recorreu-se ao manual de português para realizar a leitura e interpretação do texto “A semente curiosa”, de Sidónio Muralha. Depois desta análise, aproveitou-se para explorar com os alunos as diferentes etapas no crescimento de uma árvore, pedindo-lhes que organizassem algumas imagens de acordo com o que leram no texto. Para além disso,

explicou-se aos mesmos como se pode descobrir as idades das árvores através da contagem dos anéis presentes nas mesmas, estabelecendo uma relação com a disciplina de Matemática.

Tendo em consideração a importância do caracter lúdico nestas idades, realizou- se um pequeno jogo de curiosidades acerca de algumas plantas, pedindo aos alunos para indicarem se as afirmações que foram apresentadas estavam corretas ou não. Estas curiosidades englobaram aspetos desde a maior planta do mundo à alimentação e formas características de cada uma. Neste caso em particular, o suporte de apresentação utilizado foi o PowerPoint, visto ser uma dinâmica muito apreciada pela turma, talvez pela sua pouca utilização. Esta sequência de tarefas tem em consideração os princípios

Figura 15 - Apresentação das fotografias tiradas pelos alunos.

Figura 16 - Organização das etapas de crescimento de uma árvore.

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orientadores do programa de Estudo do Meio mencionados anteriormente, visto que partimos das referências que o conhecimento do meio local conferiu às crianças, para depois aprofundarmos os seus saberes acerca de realidades que não conhecem diretamente (Félix & Roldão, 1996).

Noutra etapa desta atividade, introduziu-se as partes constitutivas das plantas através de um cartaz que foi afixado no quadro e preenchido em conjunto com os alunos. Durante a exploração, questionou-se as crianças acerca do que estas já sabiam, discutindo com elas as funções dos constituintes das plantas. No entanto, notou-se algumas dificuldades no entendimento das funções de cada um dos constituintes.

Abordou-se, também, a variação do aspeto das plantas ao longo do ano. Para tal, foi apresentado um esquema que representava as quatro estações do ano e as mudanças que ocorrem nas plantas ao longo do mesmo. Foi então pedido aos alunos que identificassem as diferentes mudanças e solicitou-se que completassem um esquema semelhante no seu caderno. Associada a esta temática abordou-se os conceitos de plantas de folha caduca e plantas de folha persistente ou perene, através da apresentação de imagens ilustrativas de plantas com estas condições. Os alunos demonstraram compreensão sobre estes conceitos.

Noutro momento, a turma recebeu a visita da mãe de uma das alunas, que falou acerca da sua profissão enquanto florista e indicou alguns dos cuidados necessários a ter com as plantas. Durante esta ocasião, os alunos demonstraram muita curiosidade e atenção, tendo sido capazes de, com alguma ajuda, realizar o transplante de uma planta

suculenta para um vaso mais pequeno, que cada aluno levou para casa. Cada um ficou com a tarefa de cuidar da sua planta, bem como da orquídea que a convidada deixou na sala para a turma.

Através de momentos como este, os alunos vão aprendendo a ganhar responsabilidades para com os seres vivos e, ao mesmo tempo, vão ganhando respeito para com eles, pelo que esta tipologia de atividade possui benefícios em vários sentidos. Um deles perpetua-se pelo próprio contacto com um encarregado de educação, neste caso, mãe de uma das alunas, que ao aceitar partilhar os seus conhecimentos demonstrou interesse pela vida escolar da sua educanda e contribuiu com uma oportunidade única no processo de ensino de aprendizagem de toda a turma.

Figura 17 - Transplante de uma planta realizado pelos alunos.

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Momentos como estes, em que contamos com a colaboração dos pais dos alunos, ajudam-nos a compreender o que os profissionais de educação mencionaram nos seus questionários, visto que para os mesmos é essencial colaborar com os familiares, sendo que estes contribuem consideravelmente para algumas das aprendizagens mais significativas dos seus educandos.

Noutra das etapas desta atividade a turma foi dividida em pequenos grupos, distribuindo-se um texto a cada um. Cada um destes textos falava acerca de uma das utilidades das plantas, tendo os grupos de ler e analisar o seu texto de acordo com algumas questões que lhes foram disponibilizadas. Depois dos grupos

terminarem esta análise, tiveram de explicar o seu texto à turma e de identificar alguns dos contributos das plantas. Estes contributos foram então organizados pelos alunos num cartaz que se afixou na sala (cf. anexo XI). De seguida, pediu-se aos mesmos para lerem um pequeno texto acerca da desflorestação, de modo a identificarem algumas das consequências da mesma.

Este trabalho de grupo foi bastante produtivo, visto que os alunos identificaram um número considerável de utilidades das plantas, ao mesmo tempo em que foram capazes de identificar na desflorestação aspetos negativos não só para si, como também para os animais.

Noutro momento, e de forma a contextualizar a etapa seguinte da atividade, realizou-se uma breve revisão dos conteúdos trabalhados anteriormente pela colega de estágio acerca dos animais, nomeadamente, a distinção entre animais domésticos e selvagens, os seus habitats, as suas características externas e os seus modos de vida. Esta revisão foi feita através de um jogo de verdadeiros e falsos, respondido em pequeno grupo e apresentado através de PowerPoint. Os alunos demonstraram domínio sobre os conceitos em questão o que facilitou o processo.

Para terminar esta atividade, foi apresentado um vídeo acerca da extinção de espécies. Depois da visualização, foi solicitado aos alunos que construíssem um cartaz em pequeno grupo (cf. anexo XI), conferindo alguns exemplos dos animais e plantas que corriam risco de extinção, bem como as causas para o mesmo e

Figura 18 - Apresentação dos textos pelos alunos.

Figura 19 - Visualização do vídeo acerca da extinção de espécies.

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exemplos do que fariam para prevenir este acontecimento. Este momento foi particularmente interessante, tendo em conta os comentários e ilações que as crianças realizaram depois de conhecerem as principais causas da extinção de espécies. Algumas delas ficaram um pouco comovidas, enquanto outras mostraram indignação para com a situação, o que demonstra algum respeito e carinho pelos animais e plantas.

Esta atividade em particular foi um dos exemplos que contribuiu para as mudanças nas respostas que constatamos aquando da análise dos questionários dos alunos, visto que, tal como verificamos, estes no segundo momento em que foram questionados já começaram a associar à Educação para a Cidadania outros aspetos como os cuidados a ter com as plantas e os animais, para além da resolução de conflitos que apontavam numa primeira fase.

Resumindo o que aqui foi dito, esta foi uma atividade que ao explorar conteúdos e temáticas da área de Estudo do Meio, os animais e as plantas, possibilitou que os alunos desenvolvessem competências ao nível do respeito pelos animais e preservação das plantas, o que vai ao encontro da construção de relações justas entre a sociedade e o meio ambiente, como indicamos no início da explicação desta atividade. Por outras palavras, contribuímos para a construção destes alunos enquanto indivíduos “conscientes, autónomos, responsáveis, reflexivos e críticos (Borges, Vilela, Santos, Fonseca, Sousa & Valadão, 2010, p. 3), em concordância com a área da Educação para a Cidadania que analisamos anteriormente.

Explicando com maior pormenor a interligação que estabelecemos, podemos começar por dizer que ao explorarmos, de acordo com a disciplina de Estudo do Meio, os animais e as plantas, de forma particular, conseguimos que os alunos alcançassem objetivos como a identificação dos diferentes tipos de plantas e animais existentes, os seus constituintes e os cuidados a ter com as plantas e os animais. Isto permitiu, em simultâneo, para que do ponto de vista da Educação para a Cidadania, os alunos não só expressassem as suas opiniões perante os colegas, como reconhecessem a importância da preservação do Meio Ambiente, desenvolvendo atitudes e comportamentos que contribuem positivamente para o mesmo.

Assim sendo, fomos uma vez mais ao encontro do que dissemos no nosso enquadramento teórico, visto que a descoberta do Meio Ambiente Natural constitui um dos blocos da disciplina de Estudo do Meio, bem como a preparação de jovens para uma cidadania consciente face aos problemas ambientais faz parte da dimensão da educação ambiental que integra a área de Educação para a Cidadania. Neste sentido, e

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como podemos verificar pela descrição da atividade, é possível trabalhar as questões do Estudo do Meio e da Educação para a Cidadania de forma integrada e intencional. Esta integração possui benefícios para o desenvolvimento das crianças enquanto pessoas e cidadãos, que se pretende conscientemente, ativos e responsáveis.

Assim sendo, podemos afirmar que através desta atividade conseguimos alcançar um dos objetivos deste relatório de estágio, isto é, planificar e intervir de forma contextualizada, usufruindo das potencialidades integradas e integradoras do Estudo do Meio e da Educação para a Cidadania. Para além disso, e como já foi referido, esta atividade implicou o desenvolvimento dos alunos no âmbito de outras áreas disciplinares, o que representa a adoção de uma abordagem curricular integrada.