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Capítulo VI – Conceções e representações das crianças e educadores/professores

6.2. Apresentação de resultados

6.2.1. Educadora e professora cooperantes

6.2.1.1. Finalidades da Educação para a Cidadania

Ao analisarmos a primeira dimensão das entrevistas, percebemos que ambas as inquiridas concebem a cidadania como um processo desenvolvimental que contribui para a formação de futuros cidadãos. Para estas profissionais a Cidadania deve preparar as(os) crianças/alunos para intervir na sociedade, sendo que a educadora de infância refere que a “cidadania é uma atitude, uma prática de processo participado, individual ou coletivo, é estar em sociedade” e a professora menciona que se trata da “arte de formar o cidadão”, acrescentando que “é fundamental para nós podermos ter adultos no futuro que saibam ser, estar e fazer”.

Ambas as profissionais afirmam que a Cidadania é um dos focos da sua prática pedagógica, justificando-o, no caso da educadora, pela importância que esta área apresenta nas relações interpessoais das crianças desta faixa etária, “o saber estar em grupo começa no pré-escolar, só depois a criança aprende a estar em sociedade e em família”, e no caso da professora por fazer parte do seu papel enquanto docente, “se não fosse para isso agente não acordava todos os dias, é para formar mais e melhor”.

Quando questionadas acerca das competências que pretendem desenvolver nos seus alunos, a professora apontou aspetos relacionados com as regras de convivência

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social e a resolução de problemas, enquanto a educadora de infância referiu de forma mais generalizada algumas das principais dimensões que incorporam a Educação para a Cidadania, como por exemplo a Educação Ambiental e a Educação Rodoviária.

6.2.1.2. Função dos alunos e educadores/professores no processo de aprendizagem da Educação para a Cidadania

Relativamente ao papel do aluno no processo de ensino aprendizagem, podemos aferir que as profissionais de educação apresentam perspetivas diferentes. Isto porque enquanto a educadora nos remete para um carácter mais passivo das crianças, a professora realça a importância de estas participaram ativamente na sua aprendizagem. Do ponto de vista da educadora, na Educação Pré-Escolar a aprendizagem desenvolve- se, em parte, pela repetição, os educadores abordam os conteúdos e “nestas idades as crianças não têm como questionar”. Do ponto de vista da professora, recaí no aluno a tarefa de ser capaz de problematizar, de colocar-se na posição dos outros, tendo os professores de “fazê-lo perceber que ele vai intervir no mundo e, portanto, tudo o que está à sua volta, também irá ser, um dia da sua responsabilidade”. A professora afirma “acho que é muito importante que ele seja ativo na sua aprendizagem”.

No nosso entender, as posições destas profissionais estão diretamente relacionadas com as faixas etárias com que trabalham, sendo que as crianças da Educação Pré-Escolar necessitam de uma maior orientação por parte do educador, comparativamente com os alunos do 1.º Ciclo do Ensino Básico, que já são capazes de ser críticos relativamente ao que os rodeia.

No que concerne ao papel do educador e professor também observamos diferenças entre as posições que as profissionais de educação apresentam. Enquanto que a professora se coloca numa posição de orientadora dos seus alunos, “o nosso papel será ajudá-los a construir o futuro adulto que serão, este é o nosso papel, orientar, ajudar, fazê-los crescer”, a educadora perspetiva-se como um exemplo a seguir no processo de ensino-aprendizagem, mencionando que, na Educação Pré-Escolar, “o educador funciona como o exemplo, o primeiro exemplo, porque o que eles veem querem repetir e o educador tem esse papel.”

6.2.1.3. Estratégias de ensino-aprendizagem da Cidadania

Relativamente à forma como as cooperantes abordam a Educação para a Cidadania na sua prática, aferimos que ambas as cooperantes parecem privilegiar a relação interpessoal das crianças com os outros.

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No caso da educadora, esta realça a importância de desenvolver competências ao nível do preconceito, englobando aspetos como a igualdade de género e de oportunidades e o respeito pelo outro. Para esta cooperante é através do exemplo que as crianças se vão construindo enquanto cidadãos, “não por terem sido muito trabalhados nisso, mas pelo exemplo, por os outros serem integrados, tornando-os a eles bons cidadãos”. A educadora de infância também refere ter em conta na sua ação educativa temáticas como: a reciclagem, o respeito pela natureza e pelos animais, implementando- as através de pequenas atividades com materiais recicláveis e com a presença de um animal de estimação na sala de aula, se possível.

A cooperante do 1.º Ciclo do Ensino Básico menciona que na sua prática privilegia momentos em que os alunos têm de resolver problemas, sejam eles de cariz pessoal ou social. A docente afirma procurar que os seus alunos respondam a questões como: “Como é que podemos resolver?; Qual é o meu papel na resolução deste problema?; Como é que posso melhorar o sofrimento do outro?”.

Estas formas de pensar levam-nos a concluir que as cooperantes procuram utilizar estratégias de exploração reconstrutiva, para que sejam os alunos a construir o seu próprio conhecimento em relação às temáticas que abordam.

6.2.1.4. Abordagem curricular

No que concerne à abordagem curricular que as profissionais da educação inquiridas atribuem à Educação para a Cidadania, ambas afirmam articular a mesma com as outras áreas do currículo, fazendo uso da transversalidade que caracteriza a área em questão. Constata-se assim uma concordância de opinião entre as docentes, sendo que as duas dizem ser possível trabalhar esta área disciplinarmente, mas que consideram mais vantajoso fazê-lo de forma integrada. A educadora justifica a sua opinião dizendo que para ela “está tudo interligado”, não fazendo sentido trabalhá-la separadamente. A professora, por sua vez, diz-nos que se torna mais benéfico para os alunos porque “nós não ficamos presos a um momento, pode-se trabalhar quando as coisas surgem ou quando os temas vêm ao de cima” e não apenas quando o professor assim o decide.

Na opinião da professora não existem áreas através das quais é mais fácil desenvolver a cidadania, “trabalhamos em qualquer uma delas”. No caso da educadora de infância, encontramos uma preferência relativamente às restantes áreas, apontando as áreas da Linguagem Oral e da Expressão Artística, como sendo aquelas que mais facilmente permitem uma articulação.

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6.2.1.5. Articulação com o Conhecimento do Mundo/Estudo do Meio Quando questionadas acerca da articulação entre a Educação para a Cidadania e o Conhecimento do Mundo/Estudo do Meio houve concordância entre as profissionais de educação ao afirmarem que estas últimas áreas contribuem para o desenvolvimento da Cidadania.

A educadora refere que o Conhecimento do Mundo pode ser encarado como “o alargar da cidadania”, que se começa a construir na sala de aula e que se expande para os outros e para o mundo. Esta profissional destaca no seu discurso o respeito pela multiculturalidade, referindo que a cidadania “é sabermos estar em qualquer parte do mundo”. Quando lhe foi solicitado que referisse exemplos de atividades nas quais tivesse realizado articulação entre as áreas em questão, a educadora manteve um discurso direcionado para a cultura, dizendo que já tinha realizado atividades com as suas crianças acerca de, por exemplo, os reis magos, as diferenças entre as casas de diversos locais no mundo e mencionando que o fez “precisamente para respeitarem e para terem conhecimento da multiculturalidade, de outras formas de vida”.

Neste caso em particular, percebemos que a resposta da educadora recai, essencialmente, nos conteúdos que as duas áreas possuem em comum, não salientando as atitudes e valores como aspetos que interligam estas duas áreas.

A professora referiu que os primeiros dois blocos do Estudo do Meio são os que mais auxiliam no desenvolvimento da cidadania, visto que exploram conteúdos relacionados com o eu e o conhecimento de si próprio. Também salientou que os conteúdos dedicados à história podem contribuir neste sentido, pois “aprendemos um bocadinho com os erros do nosso passado”.

Novamente, constatamos que, tal como a educadora, a professora também reconhece a articulação entre as áreas de Estudo do Meio e da Cidadania através dos conteúdos que podem ser explorados em interligação. As conceções destas profissionais estão, em parte, de acordo com o que mencionamos no nosso enquadramento teórico, visto que ficou claro que ambas as áreas possuem conteúdos passíveis de serem integrados, bem como vão ao encontro do conceito de cidadania enquanto dimensão que deve ser adaptada à sociedade. No entanto, há que referir que estas profissionais deixam um pouco de parte as atitudes e valores que, também, são pontos de convergência fundamentais entre as áreas em questão.

Neste sentido, com as opiniões de ambas as profissionais percebemos que estas têm conhecimento da relação que pode existir entre as áreas de Conhecimento do

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Mundo/Estudo do Meio e a Cidadania, bem como compreendemos que, parecem, usufruir de forma intencional da interligação existente, tendo em contas as atividades que dizem realizar.