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4 METODOLOGIA

5.5 ATIVIDADES EXPERIMENTAIS

Foi possível constatar, no conteúdo analisado, que os livros do Ensino Superior não apresentam sugestão de experimentos e nem menção a atividades experimentais.

Da mesma forma, boa parte dos livros de Física do Ensino Médio também não oferece muitas sugestões de atividades experimentais ao estudante. As exceções ficam por conta dos livros de Xavier, Pietrocola, Toscano e Beatriz. Entretanto, no livro de Pietrocola, embora o capítulo se apresente de forma articulada e contextualizada, não há nenhuma proposta experimental de forma explícita. Há apenas uma indicação de leitura chamada “As máquinas de movimento perpétuo” numa seção denominada “Outras Atividades”, que tem como objetivo “estimular, pesquisar e debater a questão do movimento’’. (grifo no livro). Nesse texto de aproximadamente duas páginas são mencionados alguns modelos de máquinas de moto-perpétuo, cujo contexto teórico e histórico é bem articulado e construído conforme trecho da p. 179:

Os motos-perpétuos ou motos-contínuos são uma velha busca que ainda hoje chega a fascinar algumas pessoas. Nos Estados Unidos há um registro de patente de uma máquina de moto-perpétuo desde 1979, mas a máquina não existe e os modelos que foram testados não funcionam. (PIETROCOLA, p. 179)

Os livros de Bonjorno, Spinelli, Artuso, Torres e Gaspar apresentam, no conteúdo analisado, a sugestão de apenas uma atividade experimental. Os livros de Bonjorno, Artuso, Torres e Gaspar adotam uma linha mais investigativa do que demonstrativa, enquanto que o Livro de Spinelli, em algumas situações, faz algumas aproximações com situações práticas, mas que não podem ser consideradas atividades de caráter experimental, como se evidencia na p.145:

Nesta unidade, vimos que, em um sistema fechado, a organização diminui com o tempo. A grandeza física que mede esse grau de organização é chamada de entropia. No universo, a entropia sempre aumenta, porque a desorganização dos sistemas está em constante crescimento. No experimento proposto, vamos avaliar o comportamento de um sistema em relação à sua entropia. (SPINELLI, p. 145)

Esse fato também se observa no livro de Newton, durante o desenvolvimento do capítulo 5, em que não é sugerida nenhuma atividade experimental, sendo feita apenas uma relação na seção “Intersaberes” da p.105 com o tema da Energia Nuclear; nessa seção se constata a contextualização em forma de texto, e se observam no final algumas questões que têm o intuito de propiciar a reflexão. As questões estão atreladas à descrição do funcionamento dos motores a combustão e o descongelamento das geladeiras. Essa atividade apenas faz algumas aproximações com o cotidiano, não podendo ser

considerada uma atividade de caráter experimental. O livro do Carron segue a linha adotada pelos livros de Bonjorno, Artuso, Torres e Gaspar. Apesar de se apresentar como um livro de característica mais tradicional, no capítulo 3 exibe a sugestão de um experimento de forma mais investigativa. O experimento está relacionado à Lei de Boyle e envolve materiais de baixo custo, sendo descrito por várias orientações e questionamentos conforme se observa na passagem a seguir: “O que acontece com o volume da bexiga quando o êmbolo da seringa é empurrado para dentro? E quando o êmbolo é empurrado para fora? Justifique suas respostas”. (CARRON, vol.2, p.89).

No capítulo 4 desse livro, foi identificada a sugestão de um experimento que envolve a tentativa de se criar um moto-perpétuo. Esse experimento envolve materiais um pouco mais elaborados. Após a montagem, são apresentadas algumas questões:

1. Houve movimento efetivo do eixo em um dado sentido?

2. Caso prendêssemos um pequeno corpo por um barbante a uma polia do cabo, seria possível levantá-lo?

3. Do ponto de vista de troca de energia, qual o papel da catraca/ lingueta? 4. O segundo princípio da Termodinâmica foi violado nesse experimento? (CARRON, vol. 2, p. 109).

Os dois experimentos abrangem uma proposta mais direcionada à investigação, em que objetivo principal da atividade está centrada no aluno, numa abordagem mais diretiva.

Embora os livros de Menezes e Protagonista tenham propostas diferentes, pois o livro de Menezes possui um perfil mais contextualizado e voltado para o cotidiano quando comparado ao livro Protagonista, que se mostra menos articulado a outras áreas do conhecimento, ambos sugerem uma proposta parecida para a atividade experimental. No capítulo 4 do livro Protagonista foi sugerido apenas um experimento, sendo que a atividade envolve o conceito da entropia, propiciando a interação e a participação dos alunos de forma coletiva. O experimento está dividido em duas partes, ressaltando-se a ênfase no aluno, sendo complementado posteriormente por uma série de questões pré-definidas que preveem a reflexão e o envolvimento dos alunos:

1. Organize as fotografias (ou faça esquemas) mostrando a evolução e os resultados das duas experiências. Represente também o que aconteceu com os feijões antes e depois do experimento, em cada uma das atividades. 2. Exponha a organização do item 1. Compare-a com a organização dos outros grupos. Observe se houve diferenças na configuração dos feijões, antes e depois de cada atividade, entre os diferentes grupos.

3. Pode-se dizer que são espontâneos os resultados das duas atividades? Justifique.

4. Os resultados das duas atividades são reversíveis ou irreversíveis? Explique. (PROTAGONISTA, p. 124).

O livro de Menezes opta por sugerir uma atividade experimental que também favorece a interação e o trabalho em equipe, embora se perceba que a experiência para a construção do termoscópio esteja elaborada de forma mais fechada, o que se verifica pelo fato de serem mencionadas algumas informações técnicas importantes para o funcionamento do aparelho conforme o trecho a seguir:

Para vê-lo funcionar, aqueça, com as mãos, com uma bolsa térmica ou mesmo com uma toalha embebida em água aquecida, a parte superior da garrafa que contém a coluna de ar. Você verá, contra a escala, que a altura da coluna externa de líquido colorido aumenta. Depois disso, coloque parte a garrafa em uma vasilha com gelo. A coluna descerá rapidamente. Você pode calibrar o termoscópio na escala desejada. Para isso introduza por um outro furo, feito na tampa, um termômetro comercial. (MENEZES, vol.1, p.80).

Em ambos os livros foi verificado que a atividade experimental veiculada favorece a interação e a participação dos alunos durante a montagem e a execução. No entanto, fica nítida a impressão que a atividade proposta pelo livro Protagonista está mais direcionada ao educando, pelo fato de a atividade estar mais aberta e conter menos informações técnicas que o livro de Menezes, o que efetivamente favorece a investigação e o levantamento de hipóteses entre os grupos envolvidos num momento posterior.

Verificou-se, também, que os livros que propõem alguma atividade experimental, em sua maioria, o fazem envolvendo materiais de baixo custo e de fácil execução, estimulando a possibilidade de levantar hipóteses e chegar a conclusões.

Percebe-se, assim, nesse particular, que os livros didáticos de Física do Ensino Médio, sob certos aspectos, diferem dos livros do Ensino Superior, por apresentarem mais sugestões de atividades experimentais.

De acordo com a amostra da pesquisa, percebe-se, entretanto, que a grande maioria dos livros didáticos de ambos os níveis de ensino sugere ou contempla poucas atividades experimentais durante o transcorrer dos capítulos, fato que concorda com a realidade de boa parte das escolas de Ensino Médio, que não disponibiliza espaço físico para a realização de práticas para as disciplinas de Ciências, Física e Química. Nesse sentido, se constata que devido à deficiência estrutural ou mesmo à falta de recursos para a realização de atividades experimentais, o livro didático assume a função de protagonista ao preencher essa lacuna com exercícios que valorizam

apenas algumas atividades demonstrativas, que desenvolvem pouca criatividade nos alunos.

Conforme argumenta Pietrocola (2017), o mundo passa por mudanças e exige da escola a implementação de um novo projeto educacional. Conforme ressalta o autor, os riscos e as dificuldades da inovação ficam mais explícitos quando comparamos o ensino tradicional com o inovador. Segundo ele, o ensino tradicional é o resultado de um longo processo de adaptação de conteúdos e metodologias ao ambiente escolar. Muitas vezes o ensino inovador carrega consigo as dificuldades e os riscos do novo ao perturbar uma ordem estabelecida dentro de um contexto escolar.

Assim, a forma de abordar as disciplinas científicas no ambiente escolar deve ser uma atividade que propicie a conexão com a realidade dos alunos. Nessa direção, a presença de atividades experimentais de forma mais investigativa nos livros didáticos e também nas aulas de Física,poderia contribuir para ampliar as interações discursivas em prol de uma visão mais ampla de estabelecer relações e de ensinar Ciência.

Em comum, percebeu-se que os livros do Ensino Superior e do Ensino Médio contemplam poucas atividades relacionadas à parte experimental; quando as contemplam, elas estão mais direcionadas para a demonstração do que para a investigação. Mesmo assim, fica nítido que os livros atuais do Ensino Médio, comparado aos antigos, proporcionam mais atividades de caráter experimental, o que demonstra a importância de estimular nos educandos o espírito aguçado e criativo de desenvolver um ensino que estabeleça relações com o cotidiano e o fazer científico, fato que concorda com Valadares (2012), que comenta que deve haver um espaço e um ambiente favorável para que o professor de Ciências estabeleça relações com os seus alunos, despertando novos estímulos e habilidades em torno de atividades práticas integradas a temas atuais e a outras áreas do conhecimento, visando um ensino mais motivador e com significado.