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2 O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO

2.5 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE FÍSICA

O tema “A Formação do Professor de Física” vincula-se à preocupação com a formação de futuros professores, nos cursos de Licenciatura, no que diz respeito à teoria e à prática dos conteúdos de Física em sua totalidade. Faz-se, assim, uma reflexão necessária sobre como estão sendo formados os alunos visando o exercício da profissão, como professor de Física.

Dessa forma, o tema nos remete à formação que os profissionais de Física devem receber, de forma ampla e flexível, para que possam desenvolver as habilidades e conhecimentos, que atinjam as expectativas da educação atual e as perspectivas de atuação futura (Brasil, 2001, p. 3-4). Sobre a necessidade de elevar o nível de qualidade dos cursos de Licenciatura nas áreas científicas e de superar dificuldades de aprendizagem de Física, ressalta-se a real necessidade de que a formação inicial dos graduandos esteja a par do que é proposto pelas Diretrizes Curriculares do Curso de Física:

O físico, seja qual for sua área de atuação, deve ser um profissional que, apoiado em conhecimentos sólidos e atualizados em Física, deve ser capaz de abordar e tratar problemas novos e tradicionais e deve estar sempre preocupado em buscar novas formas do saber e do fazer científico ou tecnológico. (BRASIL, 2001, p. 3).

No que tange às aulas de Física, os professores não deveriam repassar conceitos e leis acerca do universo, sem tomar conhecimento de situações do cotidiano, sem trazer experimentos para a sala de aula. A Física é interacionista, experimental, portanto o conhecimento não se faz somente com a teoria, mas também com a prática.

Dessa forma, o professor de Física deve nortear a sua prática docente, sempre tendo em vista experiências do dia a dia do aluno, para que o aluno possa, desse modo, compreender. “(...) a evolução do conhecimento cientifico ao longo do tempo, observando assim que a Física não é um ramo do conhecimento acabado e fechado, mas, em constante transformação (...)” (BORGES; ROCHA, 2012, p. 161).

Uma formação de qualidade possibilita englobar conteúdos, experimentos em laboratórios, para que se alcance realmente uma melhor educação nas escolas da rede básica. As dificuldades cognitivas dos alunos são superadas quando a Física é mostrada além de conceitos isolados e de desgastantes cálculos matemáticos,

principalmente quando essa análise se estende ao processo do ensino em nível Superior.

Conforme Borges e Rocha (2012) destacam, há a necessidade de estudar Física de maneira mais simples, deixando clara a fenomenologia dos conteúdos, sem uma excessiva abordagem matemática. Por isso, a necessidade de um espaço adequado e que ofereça materiais apropriados ao estudo da disciplina, em contraponto à precariedade de tais recursos que se encontram na educação básica.

De acordo com Barone (2008), são diversos os desafios a serem enfrentados para resolver a carência de professores de Física e as deficiências da Educação Básica. Dentre eles, o autor ressalta o descompasso entre a formação científica e a pedagógica, que não condiz a um processo de formação adequado ao licenciado em Física e, ainda, a grande evasão nesse curso, o que dificulta atingir um número mínimo de profissionais que atendam às demandas como um todo.

Segundo Barcellos e Kawamura (2009, p. 2), “(...) a Licenciatura em Física se enquadraria no conjunto de cursos que o parecer denomina de licenciaturas voltadas à formação de especialistas por área de conhecimento ou disciplina (...)”. Os cursos de Física possuem disciplinas que atendem a áreas e conteúdos específicos e que serão trabalhados na educação básica de tal forma que se devem levar em conta as competências que o professor deve desenvolver no processo da formação inicial.

De acordo com o levantamento de Araújo e Vianna (2008, p. 5), faltam professores habilitados para lecionar na educação básica, fato que já se tem verificado há tempos, e que é evidenciado, conforme Garcia (2016), por diversas providências registradas na legislação educacional brasileira que propõe soluções alternativas para a crônica carência de professores graduados.

Conforme Borges e Rocha (2012, p. 159), “A Física é, em sua essência, uma ciência experimental”; contudo “a realidade das salas de aula brasileiras tende a demonstrar o contrário, pautando a disciplina em conceitos estanques e um formalismo matemático essencialmente excessivo”. Constata-se que o ensino de Física nas escolas de hoje está pautado na resolução de exercícios e ao estudo de livros e apostilas, saturados de questões que “preparam” os alunos para os mais variados testes de acesso ao Ensino Superior. Dessa forma, a disciplina acaba perdendo o seu caráter experimental, com o aluno se deparando apenas com leis já formuladas e um mar de fórmulas sem sentido.

Para Cachapuz (2004, p. 368), os currículos das disciplinas que competem ao estudo de Ciências, tanto no Ensino Básico como no Ensino Superior, precisam ser revistos. Para ele, muitas vezes o desinteresse dos jovens provém do caráter não experimental dos currículos, nos quais se pode observar a valorização de questões de ordem mais técnica e quantitativa, normalmente encontrada em livros didáticos mais tradicionais e de perfil mais voltado a de concepção disciplinar.

A pesquisa de Cortela e Nardi (2011), de natureza qualitativa, realizada com um grupo de professores formadores que atuavam em um curso de licenciatura em Física e que visava uma reestruturação do projeto pedagógico do curso conforme a legislação educacional, evidenciou que

A maioria dos docentes está descontente com a formação oferecida aos seus alunos da licenciatura e se diz disposta a fazer mudanças. No entanto, não garantem que seus colegas estariam dispostos às mudanças necessárias, ou não se julgam preparados pedagogicamente para essas mudanças, ou seja, a experimentar outros modelos de ensino, diferentes dos tradicionalmente utilizados. (CORTELA; NARDI, 2011 p. 9).

Angotti e Mion (2002), por sua vez, analisaram a produção de conhecimento crítico na formação inicial do profissional de Física, através da reconstrução racional da história das próprias práticas educacionais e da análise de registros, tomando como base o fazer do professor um investigador ativo. Perceberam que o “fazer diferente”, nesse contexto, norteia a pesquisa educacional e a produção de conhecimento científico.

Com relação à formação e à prática docente, concluíram que essas podem ser desenvolvidas com programas de iniciação científica, vindo a ser um desafio para futuros professores. Tal estrutura de pesquisa pode ser estendida para todas as licenciaturas, como um programa de investigação-ação educacional:

Se construirmos e vivermos as disciplinas do curso de licenciatura como projeto de investigação, estaremos promovendo a reconstrução racional como meio para produzir o conhecimento crítico, colaborando com a reconstrução, também racional, do curso como um todo (programa = projeto integrado). (ANGOTTI; MION, 2002, p.5).

Segundo Linhares e Reis (2008), os professores possuem concepções acerca do conhecimento profissional, tecidas em modelos didáticos precários, sendo observado, no transcorrer de sua pesquisa, a evolução do conhecimento profissional do professor. A pesquisa foi realizada com um grupo de alunos de um curso de

licenciatura em Física, que, embora não tivessem avançado muito em seus conceitos, avançaram nas suas atitudes, mostrando-se “críticos quanto à escolha da futura profissão; comprometem-se com mudanças na educação; estão cientes da permanente evolução profissional e da própria responsabilidade nesse processo...” (p. 572).

Conforme as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Física (Brasil, 2001), a formação em Física deve se caracterizar pela flexibilidade do currículo, de modo a haver uma carga horária de cerca de 2.400 horas distribuídas ao longo de quatro anos, sendo que metade deve corresponder ao núcleo básico comum e a outra metade a módulos sequenciais complementares, incluindo ao final do curso uma monografia.

Quanto às competências e habilidades que orientam a formação do Físico no Ensino Superior, a sociedade demanda novas funções sociais e novos campos de atuação, por meio de uma formação ampla e flexível para atender às expectativas atuais. Para que os cursos de Física proporcionem uma qualificação profissional adequada, tais competências, como dominar os princípios gerais de Física, descrever e explicar fenômenos naturais, resolver problemas, manter atualizada a cultura científica e a cultura técnica, desenvolver uma ética profissional, devem ser desenvolvidas no período de formação inicial que corresponde à graduação.

Nos últimos anos, apesar de alguns avanços ocorridos nos cursos de Licenciatura em Física, em que são proporcionados requisitos fundamentais do exercício da profissão docente, não se percebe de forma mais contundente a integração entre as disciplinas específicas que agregam a formação consistente em Física e as disciplinas pedagógicas que têm o intuito de capacitar o licenciando a atuar como agente formador da cidadania, desenvolvendo habilidades e competências dos diferentes processos didático-metodológicos e tecnológicos relativos ao ensino básico da Física.

Nesse sentido, mesmo com alguns avanços na formação acadêmica do licenciando em Física, percebe-se que os livros de Física do Ensino Médio mais tradicionais e quantitativos são mais indicados pelos professores no processo de escolha do livro didático do PNLD, enquanto que os livros mais integrados e conectados a outras áreas do conhecimento através de uma linguagem mais conceitual, se fazem pouco presentes no planejamento do professor e no cotidiano escolar. Assim, o livro didático enquanto objeto de estudo não tem sido contemplado

de forma mais aprofundada em disciplinas que integram o conjunto do conhecimento específico com o pedagógico.