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2 O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO

2.3 O LIVRO DIDÁTICO DE FÍSICA BRASILEIRO

2.3.1 O livro didático no ensino da Física

O livro didático é um elemento fundamental na constituição da forma escolar e na consolidação e generalização da cultura impressa. Assim, conhecer a sua forma, sua história, e as influências históricas pela qual ele passou são de extrema relevância para escolha e análise do livro. Através de inúmeras pesquisas podemos perceber em que contexto foi adotado certo livro e perceber que a política, a cultura e a sociedade interferem de maneira marcante no ensino e consequentemente no livro que será utilizado para este ensino.

Hosoume (2011) destaca que a maior parte das pesquisas acadêmicas que analisa livros didáticos na área de ensino de Física investiga como os conteúdos disciplinares têm sido apresentados e, em número menor, utiliza o livro didático para estudar a compreensão histórica do ensino de Física no Brasil. Essa preocupação já era presente no final dos anos 1990, tendo levado Wuo (2003) a apontar sobre a necessidade de ampliar as pesquisas em ensino de Física nessa temática, as quais poderiam assumir vertentes diferentes, tanto do ponto de vista histórico como do saber escolar transmitido pelo livro.

As pesquisas e seus resultados têm sido apresentados e publicados em atas e anais de congressos, simpósios e encontros, artigos em periódicos e também dissertações e teses.

Os trabalhos têm sido apresentados principalmente em quatro eventos: o Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – ENPEC, o Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – EPEF, o Simpósio Nacional de Ensino de Física –

SNEF e o Simpósio Internacional Livro Didático: Educação e História, promovido pelo Centro de Memória da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Isso se deve ao fato de que esses congressos têm importância nacional e são grandes divulgadores das pesquisas produzidas no ensino de Física no Brasil, principalmente nos casos do SNEF, do EPEF e do ENPEC, enquanto o Simpósio Internacional abrangeu diversos trabalhos que tiveram o livro didático como fonte de pesquisa.

Em relação aos periódicos, ressalta-se a importância das seguintes publicações: Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Revista Brasileira de Ensino de Física, Revista Ciência e Educação, Revista Ciência e Ensino, Revista Ensaio e Revista Investigações em Ensino de Ciências.

Foram mencionadas essas revistas porque elas estão entre os periódicos mais importantes da área de pesquisa em Ensino de Física no Brasil, configurando-se como os grandes protagonistas na área. Foi também evidenciada a Revista Brasileira de História da Educação por apresentar diversas vertentes de trabalhos de história da educação, e, em muitos casos, um meio de estudá-la é por via de materiais didáticos, em especial o livro didático.

É importante ressaltar que as revistas e os congressos mencionados são um importante meio de divulgação. Muitos deles começaram suas atividades ainda na década de 1970, constituindo-se assim num acervo muito significativo e de grande valia para o compartilhamento dessas pesquisas.

As dissertações e teses que tomam como objeto a temática podem ser encontradas no site da Capes a partir de 1987, formando um importante banco de dados, muito produtivo e significativo com relação à produção acadêmica.

Com relação à temática do livro didático, a investigação realizada por Leite, Garcia e Rocha (2011) mostrou que há poucos artigos que discutem como os professores e estudantes utilizam o livro didático de Física. Nela os autores analisaram a produção de artigos sobre livro didático em seis revistas eletrônicas de acesso livre, nas quais encontraram em torno de 70 artigos. Estes foram classificados segundo o que evidenciavam ser o foco da pesquisa. O resultado obtido foi que mais da metade dos artigos buscou analisar a linguagem e os conteúdos presentes nos livros didáticos. Segundo os autores, a necessidade de investigação da relação entre os sujeitos escolares e o livro didático precisa ser mais explorada.

Em pesquisa realizada por Silva e Garcia (2010), foram identificadas a baixa frequência do uso do livro nas aulas; a utilização do livro predominantemente para a realização de exercícios, atividades ou trabalhos; a pouca utilização do livro em sala (cerca de 55% dos estudantes relataram não utilizar o livro didático em nenhuma aula) e em casa (cerca de 80% dos estudantes responderam que nunca usavam ou usavam raramente o livro em casa).

Na mesma linha, Artuso (2013 e 2014) realizou duas pesquisas abrangendo várias cidades e estados brasileiros sobre a forma de utilização do livro didático de Física pelos professores e alunos. A primeira delas (ARTUSO, 2013), realizada com estudantes do Ensino Médio, consistiu em analisar a frequência e como o livro didático de Física era utilizado em sala de aula e em casa. Conforme o autor, sua pesquisa é quantitativa e os dados obtidos coincidem com os resultados obtidos nas pesquisas qualitativas realizadas com o mesmo propósito. O autor constatou que a frequência de utilização do livro em sala de aula e em casa é mediana, sendo que, respectivamente, 55% e 53% dos estudantes declararam fazer uso do livro nos dois ambientes. Quanto à finalidade para a qual o livro era utilizado, a resposta mais frequente foi “para a realização de atividades”. A pesquisa também apontou que a apropriação do livro pelos estudantes ocorre de maneira diferente entre os gêneros, idade e local de residência (zona urbana ou rural). Quanto às regiões do país, o autor aponta que não houve diferenças. No entanto, foram observadas várias disparidades entre estudantes de escolas públicas e privadas.

Em outro trabalho cujos objetivos eram semelhantes, mas que tinha como foco os professores de Física do Ensino Médio, Artuso (2014) constatou que o objetivo mais frequente para a utilização do livro era “para a preparação de aulas”.

Percebe-se, pelos trabalhos analisados, que, apesar do crescimento do número de investigações em âmbito nacional, são escassas as pesquisas que se destinam a investigar as relações que os sujeitos escolares estabelecem com o livro didático, apontando a necessidade urgente de novos trabalhos que explorem o tema e outras funções que são determinadas na relação entre os livros didáticos e os sujeitos. Alguns grupos de pesquisa ligados aos programas de Pós–Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná e ao curso de Licenciatura em Física da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, têm-se mostram preocupados e interessados por esse objeto de estudo, que discute as tensões e relações em torno da temática que abordam o livro didático de Física e de Ciências do Ensino Médio e

Fundamental nas suas mais variadas vertentes. Num trabalho de síntese da produção de uma década de pesquisa, Garcia (2017) organizou o livro “O livro didático de Física e de Ciência em foco: dez anos de pesquisa”, no qual são disponibilizados 41 textos apresentados e publicados em diversos eventos ligados à área de Ensino de Física e em periódicos. Nessa obra, os textos e artigos produzidos, que mencionam a temática dos livros didáticos de Ciências e Física estão relacionados quanto ao seu conteúdo, sua produção, sua circulação e seu papel no mercado editorial, como sua presença nas aulas. No livro, a produção foi organizada e dividida em seis seções temáticas: - O livro didático como produto cultural e como mercadoria;

- Relação dos manuais escolares com o processo de formação de professores; - Pesquisas sobre conteúdos e temáticas específicas nos livros didáticos; - Processos de análise, seleção e uso dos livros didáticos;

- Manuais escolares e recursos digitais; - Estudos de revisão.

A produção, orientação e supervisão desses trabalhos envolvem a participação ativa do Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Física – GEPEF (CNPq) e da Prof. Drª. Tânia Maria Figueiredo Braga Garcia, Líder do grupo Didática, Práticas Escolares e Publicações Didáticas (CNPq) e coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Publicações Didáticas (NPPD/UFPR). Os grupos mencionados anteriormente e que são supervisionados e orientados pelos respectivos professores desenvolvem trabalhos no âmbito das práticas escolares, formação de professores, com ênfase nos livros didáticos e outras publicações didáticas.

2.4 O LIVRO DIDÁTICO COMO UM ELEMENTO DE FONTE DE PESQUISA