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O ativismo judicial e o cunho político das decisões proferidas pelo Poder Judiciário.

INSUBSSISTÊNCIA DO ARGUMENTO SEGUNDO O QUAL DAR-SE-IA OFENSA À INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES [ART 2O DA CONSTITUIÇÃO DO

4 O ATIVISMO JUDICIAL E POLÍTICO NO CONTEXTO DA NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL.

4.1 O ativismo judicial e o cunho político das decisões proferidas pelo Poder Judiciário.

Dentro da temática das decisões proferidas em sede de suspensão de segurança, a discussão em torno do ativismo judicial também chamado judicialização da política é um tema bastante polêmico por apresentar importantes desdobramentos na sociedade a partir de uma atuação jurisdicional diferenciada.

Para Luiz Roberto Barroso26, o ativismo judicial consiste na participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes.

A expressão teve origem nos Estados Unidos por ser utilizada para qualificar a atuação da Suprema Corte durante os anos em que foi presidida por Earl Warren (entre 1954 e 1969). Na época, houve significativo crescimento do posicionamento crítico em relação às práticas políticas vigentes. Os direitos fundamentais, paulatinamente, tornaram-se temas cuja preocupação jurisprudencial passou a ser evidente.

Para os que criticam este tipo de postura por parte dos órgãos julgadores, o ativismo não seria adequado pelo fato dos juízes ultrapassarem o campo do direito e ingressarem na seara política. A solução de conflitos políticos a partir de critérios jurídicos não seria o embasamento correto para a resolução de problemas, principalmente, no âmbito da Administração Pública. Esse tipo de controle jurisdicional dos atos administrativos seria condenável por, supostamente, desprestigiarem a lei e por tornarem a política ineficaz.

Os doutrinadores que defendem a prolação de decisões judiciais que tenham critérios também políticos acreditam que a participação mais efetiva dos magistrados no controle da constitucionalidade representam uma proteção contra possíveis atos danosos por parte dos Poderes Executivo e Legislativo.

Conforme pôde ser observado, são interpretações distintas que corroboram para a dinamização da discussão.

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26 BARROSO, Luís Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no Brasil contemporâneo. Disponível em http://www.lrbarroso.com.br/web/pt/noticias/. Acesso em 15/11/2011.

Com o advento da democracia constitucional brasileira, a preocupação em garantir a eficácia de direitos fundamentais é despertada. É como se sabe, muitas vezes, faz-se necessário suprir as lacunas da legislação na eterna busca de garantir o que preleciona a Carta Constitucional de 1988.

Os juízes precisam ter um papel proativo e isso pode ser verificável quando observado o significativo número de ações diretas de inconstitucionalidade de leis (Art.102, I, “a” da CF/88) oriundas da União e dos Estados-Membros. Se os entes federativos estão legislando em descompasso com a constituição vigente, urge uma atuação jurisdicional criteriosa com a finalidade de sanar uma possível desarmonia federativa. Os indivíduos precisam ter a segurança de que os componentes do Estado desempenharam suas atividades em consonância com a Lei Fundamental.

Por outro lado, os críticos de tal ativismo indicam que, antes de ser um Estado de Direito, o Estado é de política, de democracia, mas isso não quer dizer que o juiz precisa se deter, unicamente, à lei para fundamentar suas decisões.

O Poder Judiciário apresenta uma função que lhe foi designada: dirimir conflitos. E se esses conflitos são oriundos dos outros Poderes componentes do Estado, ele não pode ficar inerte justamente para proteger o Estado Democrático de Direito.

A intervenção justificada, o controle acertado de atos oriundos da Administração Pública que venham a tolher os direitos fundamentais dos indivíduos não pode ser considerado uma interferência descabida.

Da mesma forma que os indivíduos se sujeitam à certa limitação de sua liberdade em prol da convivência pacífica em sociedade, as autoridades políticas também precisam passar pelo crivo do Direito quando em desarmonia com o real propósito do Estado. Acerca dessa temática, Francisco Gérson Marques de Lima27 corrobora para o entendimento aqui externado:

O intérprete deve ter olhos de lince para vislumbrar o futuro da sociedade. Precisa se interessar pelo caso que lhe é submetido, como o bom médico o faz perante o paciente que o procura. A atitude é muito esperada neste universo de pacientes sociais. Nas grandes questões – p. ex., aquelas que envolvem interesse de toda a nação, as que ponham em risco a economia e a sociedade –, o hermeneuta não pode olvidar seu dever de julgar para o futuro. Se o legislador elabora leis a ser projetadas ao porvir e, no entanto, os intérpretes só as aplicarem para o presente, isto significaria retirar a essência e o objetivo da norma.

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27 LIMA, Francisco Gérson Marques de. O STF na crise institucional brasileira. São Paulo. Malheiros, 2009.

A verdade é que o Poder Judiciário, dentro do contexto da tripartição de Poderes do Estado, atua como se um Poder Moderador fosse, tendo em vista que ele tem legitimidade suficiente para dirimir conflitos que envolvam a deficiência legislativa e até mesmo a incorreta utilização dos instrumentos político-administrativos.

Tudo em prol de resguardar os princípios fundamentais, em especial o da dignidade humana, possam ser preservados. Há de ser observado também que, se o Poder Judiciário supervaloriza essa sua prerrogativa para atender a interesses escusos e completamente destoantes do real propósito da prestação jurisdicional, ele foge completamente de sua principal função: dirimir os conflitos da sociedade focando a proteção dos direitos e garantias individuais.

Outra crítica bastante relevante é a de que os Ministros escolhidos para compor o Supremo Tribunal Federal, órgão que, rotineiramente, prolata decisões de cunho bastante político, por exemplo, são frutos de indicações. De acordo com o artigo 101 da Constituição Federal, cabe ao presidente da República nomear os ministros do Supremo depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Tem-se a aprovação logo após sabatina a ser realizada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ora, a discordância gira em torno do fato de nenhum componente do STF ter sido eleito democraticamente.

Seria razoável que julgadores que não foram eleitos diretamente pelo povo tomem à frente de temas cujas repercussões sociais e políticas são bastante relevantes?

Dirley da Cunha Júnior28, em sentido contrário, afirma que o fato de não haver eleição para a composição desses tribunais, a legitimação dos órgãos julgadores é oriunda da premissa de estarem zelando pela incolumidade do Estado Democrático de Direito:

“Ao revés de apontar dúvidas quanto à legitimidade da justiça constitucional e, com ela, do controle judicial de constitucionalidade, devemos ter em mente que, hodiernamente, a existência da justiça constitucional e de uma fortalecida e ativa jurisdição constitucional toraram-se um requisito de legitimação e credibilidade política dos próprios regimes constitucionais democráticos, haja vista que a idéia de justiça constitucional passou a ser progressivamente compreendida como elemento necessário da própria definição de Estado Democrático de Direito”.

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28 CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Controle de Constitucionalidade. 2.ed. Salvador. Edições PODIVM, 2007.

Para aclarar tal crítica e mostrar o verdadeiro viés político das decisões prolatadas pela Corte Suprema, Francisco Gérson Marques de Lima29 assevera:

É natural que um órgão de cúpula do Poder central, como é o caso do STF, que pontifica o Judiciário brasileiro e mantém íntima relação com a cúpula dos demais Poderes, tenha suas posturas balizadas por critérios de elementos políticos. A perspectiva política, aí, não deve ser sinônimo de política governamental ou chancela necessária dos atos do Governo de Plantão; significa análise e adoção de medidas hábeis a atingir os fins sociais, o bem-estar do povo, a firmeza das instituições, o asseguramento da democracia, a manutenção das conquistas sociais.

Tem-se, portanto, que a prestação de uma jurisdição constitucional é o grande diferenciador da preservação do Estado Democrático e de Direito. Afirmar que o Legislativo teria uma supremacia por sua função relacionada à elaboração de leis é, no mínimo, defender uma postura retrógada e completamente destoante do atual contexto sócio-político.

A Lei Maior, a Constituição Federal é que deve ser o paradigma das decisões prolatadas pelo Poder Judiciário. Existem muitas leis que, quando aplicadas ao caso concreto, não apresentam a compatibilidade necessária para garantir a defesa dos direitos fundamentais dos indivíduos.

O artigo 93, incisos IX e X da Constituição Federal de 1988, ao apontar a obrigatoriedade da fundamentação das decisões judiciais, mostra a preocupação do constituinte em afastar a discricionariedade e defender a correta aplicação do Direito nos casos concretos, dando margem para que o jurisdicionado saiba as razões jurídicas que embasaram tal decisão.

As decisões que apresentam verdadeiro cunho político, aquele já mencionado outrora, também devem apresentar a devida fundamentação legal, mas acabam ultrapassando os meros dispositivos legais por terem alcançado a interpretação à luz dos princípios constitucionais.

Assim sendo, o juízo político e jurídico presente nas decisões prolatadas pelos tribunais pátrios, quando utilizado em prol de defender os direitos fundamentais e ajustar as discrepâncias presentes nos outros Poderes componentes do Estado, exerce o real papel dos órgãos julgadores que, quando acionados, devem zelar pela manutenção do Estado Democrático, mas também de Direito.

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29 LIMA, Francisco Gérson Marques de. O STF na crise institucional brasileira. São Paulo. Malheiros, 2009.

4.2 A nova hermenêutica constitucional como norteadora da efetivação dos direitos