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A nova hermenêutica constitucional como norteadora da efetivação dos direitos fundamentais sociais.

INSUBSSISTÊNCIA DO ARGUMENTO SEGUNDO O QUAL DAR-SE-IA OFENSA À INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES [ART 2O DA CONSTITUIÇÃO DO

4 O ATIVISMO JUDICIAL E POLÍTICO NO CONTEXTO DA NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL.

4.2 A nova hermenêutica constitucional como norteadora da efetivação dos direitos fundamentais sociais.

Sabe-se que, tradicionalmente, a hermenêutica teve sua origem pautada na interpretação pura das normas com estrutura de regras. Com o passar do tempo, a evolução histórico-social contribuiu para o despertar de uma interpretação que privilegiasse também a natureza dos princípios como norteadora de uma hermenêutica compromissada com os cânones constitucionais.

Os princípios e as regras apresentam suas peculiaridades no tocante à interpretação. Quando existe uma dúvida quanto à aplicação de uma regra, por exemplo, tem- se que a solução é descartar a que não se adéqua ao caso concreto. Todavia, quando se está diante de conflitos entre princípios, não se fala em descartar um em detrimento de outro, mas em sobrepesá-los.

É uma diferença que contribui imensamente para o fato de que um princípio apresenta uma superioridade significativa em face de uma mera regra. O princípio é a razão de ser de uma regra. Antes de a última ser criada, houve a inspiração em uma razão principiológica.

Glauco Barreira Magalhães Filho30, em sua obra “Hermenêutica e unidade axiológica da Constituição”, apresenta as características do método da nova hermenêutica constitucional direcionada para os direitos fundamentais. Ele adjetiva esse método como aberto, dialógico e pragmático.

Pelo fato da Constituição apresentar generalidade em seus preceitos, existe uma notória abstração que, dependendo do contexto social do caso concreto sob análise, sofrerá uma adequação pelo intérprete. Isso significa que é possível a mutabilidade da norma constitucional a depender da situação. A evolução das relações humanas contribui para que haja uma notória modificação do juízo de valor de determinadas situações à luz da Constituição. Por isso, a não limitação quanto às possibilidades de interpretação dessas normas é algo que corrobora para a adequação no momento da interpretação.

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30 MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira. Hermenêutica e unidade axiologia da Constituição. 3.ed. Belo

O confronto de argumentações é o meio adequado para alcançar a melhor interpretação. Devido até mesmo à generalidade das normas constitucionais, faz-se necessário que haja uma discussão em torno de possíveis soluções para o caso concreto. É discutindo, dando oportunidade às críticas que as fragilidades na interpretação serão encontradas. Se o intérprete realizar uma leitura parcial e não aberta a novas idéias, ele não terá uma visão mais ampla do problema em tela.

O pragmatismo se destaca justamente na finalidade dessa interpretação à luz dos ditames constitucionais. O objetivo maior do intérprete é encontrar uma solução pautada na eficácia do resultado requestado, que represente uma decisão socialmente engajada.

O papel do juiz não consiste apenas em julgar de forma pura e simples, ele deve avaliar também os efeitos oriundos da decisão prolatada. São os efeitos que apontam o grau de satisfatoriedade ou não do decisum. Deve o magistrado aquilatar e prever as conseqüências econômicas, jurídicas, políticas e sociais de suas decisões.

Raimundo Bezerra Falcão31, ao discorrer acerca do conflito de direitos fundamentais na resolução de determinadas demandas pelo intérprete, assevera:

Em decorrência, podemos observar que a adequada interpretação integradora certamente não será atingida se o intérprete não estiver atualizado com as novas e mais assinaladas conquistas do saber científico e filosófico, inclusive e principalmente as conquistas da Ciência Jurídica e da Filosofia do Direito, pelo menos em seus ramos e desdobramentos mais relevantes.

Quando se fala em interpretação integradora, há o destaque de uma interpretação que seja capaz de solucionar o conflito com justiça, não bastando que o intérprete seja um mero aplicador da legislação vigente ao caso concreto, mas uma pessoa que seja capaz de, além da norma positivada, conseguir enxergar seu real propósito no ordenamento jurídico. A busca pela essência do dispositivo é responsável pela diferenciação de uma decisão tomada com esmero e comprometimento sócio-político.

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Glauco Barreira Magalhães Filho32 também apresenta como princípios da interpretação constitucional: o princípio da unidade da Constituição, o princípio do efeito integrador, o princípio da máxima efetividade, o princípio da força normativa da Constituição, o princípio da interpretação conforme à Constituição e o princípio da harmonização prática ou da concordância prática.

A preocupação do constituinte com a proteção dos direitos fundamentais pode ser observada por diversos ângulos: a Carta Constitucional apresenta extenso rol de direitos fundamentais, apresenta instrumentos processuais de proteção (habeas corpus, mandado de segurança individual e coletivo, habeas data, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção) e, em seu artigo 60, parágrafo 4º, inciso IV, atribuiu a eles o status de cláusulas pétreas, ou seja, os mesmos não poderão ser ameaçados por reformas constitucionais.

Destes, destaca-se o princípio da máxima efetividade que, segundo o mesmo autor, traduz-se em realização prática e acatamento social. Por este princípio, na interpretação das normas constitucionais, o operador do Direito deverá prestigiar o sentido que dê maior eficácia à norma constitucional. E, quando há essa preocupação em demandas que versam acerca de direitos fundamentais, o intérprete age de forma a garantir um maior alcance social do direito em debate.

Carlos Maximiliano33 entende que o Direito não pode isolar-se do ambiente em que vigora e, simplesmente, deixar de atender às outras manifestações da vida social e econômica. Se as normas positivas não se alterarem conforme houver envolvimento da coletividade, caberá ao magistrado realizar tal adequação.

Essa flexibilização em consonância com a interpretação que prestigie o bem estar social é o grande diferencial da nova hermenêutica constitucional. Não se fala mais em um método lógico e completamente engessado que faz com que as demandas sejam apreciadas à luz de um raciocínio limitado e nada condizente com a observação dos efeitos gerados pela veredito. O magistrado hodierno é, antes de tudo, um agente político. A sociedade espera dele a prolação de uma decisão que seja bem fundamentada, que, além de encontrar guarida na legislação vigente, também apresente um escopo social.

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32 MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira. Hermenêutica e unidade axiologia da Constituição. 3.ed. Belo

Horizonte: Mandamentos, 2002. Págs.79 a 81.

33 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 18.ed. Rio de Janeiro: Editora Forense:

4.3 A lógica da compatibilização de princípios e do condicionamento nas suspensões de