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Importante frisar que o objetivo de dirigir a pesquisa com fundamentos que tenham relação ao crime de pesca predatória, possibilita o entendimento importância da matéria, pois, segundo juristas, a real interpretação de pesca requer muita investigação, uma vez que a lei coloca pesca como todo ato tendente à retirar não somente peixes, mas também vegetais e hidróbios da água, abrangendo assim todos os tipos de vida marinha.

Pesca, em seu sentido popular, é a prática de pescar e retirar da água algum peixe. Porém, para a Lei 9.605/98, em seu artigo 36, pescar não é o simples ato de capturar peixe, mas

sim, como já citado anteriormente todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.

Não se pode correr o risco de fazer a leitura fria da lei, quando faz o uso da palavra

“tendente” [grifo do autor], pois corre-se o risco de não saber ou gerar dúvidas quanto ao início

da execução do crime e sua consumação. Tender é uma palavra com conceito muito amplo. No sentido gramatical, extraído do dicionário português significa: “conducente, que tende, que se encaminha para um determinado fim, alvo ou propósito, propenso”

Nesse sentido Taglialenlha (2003, s.p.) refere-se que:

Consequentemente, caso seja adotada uma interpretação literal do artigo 36 da Lei 9.605/98, chegaremos à conclusão de que tanto o início da execução do crime de pesca como a sua consumação são modificados pelo adjetivo "tendente" utilizado pela lei ambiental para a definição de pesca, pois, v.g, no momento em que o pescador adquire uma rede de malhas proibidas com a intenção de realizar a pesca (fato que em nosso ordenamento jurídico constituiria mero ato preparatório) já estaria praticando um ato tendente (que apresenta tendência, inclinação) a capturar peixe mediante o uso de petrecho proibido e, em decorrência, estaria realizando um ato de execução do crime, ou o que é pior, se levarmos essa interpretação literal às últimas consequências, chegaremos à conclusão de que o crime, nesse momento, já estaria consumado, vez que, nos termos do art. 14, I, do CP, considera-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal, e inegavelmente o pescador já teria realizado um ato tendente a retirar, apanhar, apreender ou capturar peixe mediante a utilização de petrecho não permitido, ou seja, sua conduta expressaria total conformidade com a hipótese abstrata descrita pela norma penal incriminadora, já que teria realizado por completo a conduta prevista no tipo penal do artigo 34, § único, II, da Lei 9.605/98, muito embora sua conduta até então sequer em termos de probabilidade tenha colocado em risco o bem jurídico tutelado.

Pelo que apresenta Taglialenlha, se aplicarmos o sentido literal da lei ao crime de pesca, contido na lei 9.605/98, chegaremos à equivocada conclusão de que crime de pesca é formal, e que se consuma com o simples ato de preparação, independente do resultado, e que se puniria um ato preparatório sem ofensa ao bem tutelado, como destaca o autor;

Porém, a nosso ver, a regra contida no artigo 36 da Lei 9.605/98 não tem o condão de modificar o momento do início da execução do crime, nem o momento de sua consumação. Tem ela a única finalidade de ampliar o conceito tradicional de pesca para nele albergar não somente os peixes, mas também os moluscos, os crustáceos e os vegetais hidróbios, que seriam excluídos caso não houvesse essa norma explicativa. Portanto, para nós, o termo tendente utilizado pelo artigo 36 da Lei 9.605/98 foi utilizado inadvertidamente pelo legislador, não sendo intenção da lei alterar o início da execução ou a consumação do delito. (2003, s.p.)

Por isto importância de se ler com o cuidado necessário o artigo 36 da lei 9.065/98, para que não haja dúvidas na sua aplicação, como ressalta Taglialenha;

Portanto, a interpretação literal do artigo 36 da Lei 9.605/98, dando-se aplicação ao adjetivo "tendente" colocaria os dispositivos penais de pesca em desconformidade com nosso ordenamento jurídico, vez que neste não são puníveis os atos preparatórios, enquanto que pelo artigo 36 os atos preparatórios não somente seriam punidos, como seriam considerados crimes consumados, ainda que não ocorresse qualquer ameaça ou lesão ao bem jurídico tutelado. Aceitar a interpretação literal do artigo 36 da Lei 9.605/98 nos conduziria inexoravelmente a ressuscitar a já superada e combatida teoria subjetiva, para a qual o conceito de tentativa se estende aos atos simplesmente preparatórios. Para essa teoria haveria tentativa sempre que a resolução criminosa se revelasse por atos inequívocos, sejam estes executivos ou preparatórios. (2003, s.p.)

Superada esta etapa, é bom lembrar que o emprego da palavra tendente no artigo mencionado, foi um descuido do legislador e não tem a intenção de alterar o momento de início do crime ou mesmo sua consumação, mas aumentar o conceito de pesca:

Ademais, se indagarmos qual o motivo que levou à edição do artigo 36 da Lei 9.605/98 chegaremos à conclusão de que ele foi elaborado com a única finalidade de ampliar o conceito de pesca, para que esta não somente tutele os peixes, mas abarque em sua proteção os moluscos, os crustáceos e os vegetais hidróbios, que não seriam protegidos pelo conceito comum de pesca. Outro significado não tem o mencionado dispositivo. Não nos parece lícito concluirmos que o uso da palavra "tendente" na definição de pesca tenha a finalidade de pôr em prática os princípios do Direito Ambiental da precaução e da prevenção. A uma porque a simples incriminação da conduta de pescar ilicitamente já atende a tais princípios, pois uma das funções do Direito Penal é justamente evitar a prática de uma ofensa a um determinado bem jurídico, muito embora ele só haja após tal ofensa. A duas, porque não haveria motivos para se punir os crimes de pesca antes de ser posto em perigo o bem jurídico em questão, enquanto que condutas muito mais graves que esta, tal como a prevista no artigo 33, não tiveram tratamento semelhante. (TAGLIALENHA, 2003, s.p.)

Assim, entende-se que os crimes contra a pesca, em suas diversas modalidades, se iniciam no momento em que o material de pesca seja posto na água, no momento em que o explosivo ou a substância tóxica atinja a água, independentemente de ter sido apanhado ou não o peixe; e se consumam no momento em que o peixe, crustáceo, moluscos ou vegetais hidróbios forem efetivamente apanhados e apoderados pelo pescador, independente da sua morte.

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