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O legislador quando fez as leis para proteger o meio ambiente e a pesca, recebeu pressões por parte de alguns setores da economia que almejam somente o lucro, preocupou-se com a finalidade de abarcar/englobar, todo meio ambiente e com isso cometeu alguns erros que causam formas de interpretação diversa a sua finalidade. Definiu no próprio artigo da pesca, o verbo espécies no plural, deixando margem de interpretação de que se pescar apenas uma espécime não estará cometendo crime.

Porém, uma das maiores críticas que recebe, é de que não foram consultados cientistas, técnicos e estudiosos na área. Compreensível, pois quem atua na área é quem conhece detalhes preservação e reprodução das espécies. Da maneira como foram estabelecidas, as leis impedem soluções, que resolveriam em parte uma série de problemas. Necessário a promoção prévia de debates concretos, que levem a estruturação do sistema ambiental brasileiro.

Segundo especialistas em direito ambiental, a lei ambiental brasileira é uma das mais modernas do mundo. Mas ainda assim, é urgente que ocorra uma maior conscientização por parte de todos, principalmente dos legisladores, pra que se comprometam formular dispositivos para solucionar o problema na sua vertente.

O que ainda falta são políticas públicas mais eficazes, principalmente em benefício ao pescador artesanal que está carente de um plano que lhe ajude a proteger e restaurar o meio ambiente sem faltar-lhe a subsistência. A pesca artesanal é uma modalidade marcado pela complexidade e diversidade de ambientes, sujeitos, espécies, técnicas embarcações e objetos. Os entraves do trabalho e da legislação dificultam o cumprimento de todos os requisitos legais.

O pescador artesanal normalmente é o que mais sofre com incentivos dados às grandes empresas de pesca, pois ele sai perdendo nos equipamentos e petrechos usados e também na tecnologia empregada por grandes companhias de pesca. O pescador artesanal usa para pescar petrechos mais simples e normalmente não gera economia, pois sua pesca geralmente é de subsistência.

Outro setor que ainda falta incentivo maior por parte do governo, é a aquicultura, que ainda anda a passos de tartaruga e tem potencial para crescer e podendo ser usado, em parte, para substituir a pesca em mares e rios. Com a crescente demanda por peixes seria importante investir no setor.

O que preocupa, é que já foram criadas várias leis, mas o que falta é conscientização e fiscalização. Exemplo disso é a lei N° 9.795 de 27/04/1999, que instituiu o plano nacional de educação ambiental, sendo um instrumento útil para o desenvolvimento da educação ambiental, cabendo aos agentes o seu cumprimento, fazendo alterações que sejam necessárias. Educação esta, que deve iniciar nas primeiras séries escolares de todos os educandários, pois é assunto fundamental para uma vida de cidadania para todos. Demonstrar às crianças os verdadeiros riscos e proporções do mau uso dos recursos naturais disponíveis, combatendo a exploração/extração irracional é tarefa de governantes, professores e comunidade, afim de evitar que a industrialização, a globalização e o consumismo capitalista destruam a vida saudável e agravem a crise ambiental.

Conforme se nota a educação ambiental é a base das mudanças necessárias para uma mudança nas ações do homem perante a degradação da natureza que está em curso. No Brasil recentemente, noticiado no site G1 da Globo.com, houve uma tragédia ambiental de dimensões incalculáveis: o rompimento de uma barragem de resíduos de mineração em Mariana, Minas Gerais, que matou várias pessoas em um rio inteiro. Quantos anos serão necessários para que a vida do Rio Doce volte ao normal? Impossível calcular as dimensões do que aconteceu. O Estado anda a passos muito lentos para ajudar quem foi prejudicado por esta tragédia e o temor que as multas impostas pelo IBAMA, além de serem baixas, não sejam pagas, pois há muitos interesses em jogo.

Por fim pode-se dizer que de nada adianta legislar criminalizando condutas se não há trabalho de conscientização na raiz do ser humano. A tendência de solução de crise ambiental é a criminalização das condutas nocivas ao meio ambiente, em decorrência de apelos sociais e de correntes ambientalistas, mas a solução a longo prazo é a educação para a proteção e reconstrução da natureza. Não há doutrina e jurisprudência que sejam mais pacíficas e eficazes do que a conscientização.

CONCLUSÃO

A adoção pelos juízes, do princípio da insignificância nos crimes ambientais, especificamente nos crimes de pesca não é pacífico, causando transtornos e dúvidas, pois não há um consenso quanto a sua aplicabilidade. Enquanto alguns defendem sua aplicabilidade, dizendo que é plausível nos casos em que não há lesão ao bem protegido ou a lesão é muito pequena sendo possível sua recuperação, outros argumentam que não há esta possibilidade em razão da falta de previsão legal.

A história da humanidade nos mostra a importância da pesca. Grandes civilizações foram erguidas às margens de rios e mares, que dependiam da água e dos alimentos por ela oferecidos. Na atualidade, a pesca está num estágio de exploração que vai extinguir espécies, ocasionando um colapso, pois a maioria dos estoques de peixes estão com a chamada sobrepesca.

Nesse contexto, a história da legislação pesqueira no Brasil, sempre andou sob pressão externa de algumas classes, seja por interesses econômicos a quem se favorecia com isso ou com pressão de ambientalistas e políticos. Certo é, que o meio ambiente foi relegado por muito tempo, pois não havia interesse em protegê-lo, ficando assim à mercê de inescrupulosos, por muitos séculos desamparado.

Se verifica que a maioria dos autores que teceram opiniões sobre a inaplicabilidade do princípio da insignificância, asseveraram duras críticas sobre a matéria, afirmando veemente ser inconstitucional. O argumento predominante é a legalidade.

Já aqueles que defendem sua aplicabilidade, aduzem que o princípio da insignificância é aplicado nas outras esferas, penal e cível, vindo ao encontro da crescente despenalização de condutas consideradas ínfimas.

É unanimidade que o meio ambiente deve ser protegido, mas também é de conhecimento de todos que é preciso uma melhor educação ambiental, para um maior cuidado com a questão. Evidencia-se, assim, que a educação é o melhor caminho para evitar o colapso no meio ambiente, em especial a pesca. Mas denota-se também, o pouco investimento na aquicultura no Brasil, que possui muita oferta de água, sendo uma alternativa para aumento de produção de pescado.

As situações práticas decorrentes da aplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes de pesca predatória, não mantem o infrator livre de reparar o meio ambiente, sendo o juiz da causa responsável por avaliar se o dano causado pode ser revertido ou se tem reflexos no meio ambiente, tutelado pela norma.

Conclui-se que a aplicabilidade do princípio da insignificância é constitucional e portanto válida. Sua utilização é crescente nas decisões, sendo o juiz da causa responsável por avaliar se é possível ou não sua aplicação ao caso específico e se o dano ambiental pode ser revertido, devendo sempre analisar se houve dano ao bem tutelado ou se o dano tem reflexos no meio em que ocorreu e na sociedade.

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