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ATORES E COMPANHIAS

No documento A cenografia no palco de Skakespeare (páginas 77-82)

Primeiramente em Londres, o profissional respeitado no palco inglês eram somente as

companhias dos garotos, os quais estavam associados às escolas ou igrejas e cujo trabalho era primeiramente apresentado para a Corte. Foi somente após a construção do primeiro teatro público que as companhias adultas assumiram a liderança.

O termo „comediante‟ era usado para designar de modo generalizado os atores, e de todos eles os que tinham um apelo mais forte em relação ao público eram os palhaços. A entrada de palhaços no meio da encenação era uma marca registrada do teatro elizabethano, já que tinham forte apelo popular, mas também eram aceitos pelo público mais sofisticado. Devemos pensar nos atores como homens versáteis: além de mestres na retórica tinham que ser também acrobatas, esgrimistas, dançarinos, adaptáveis de uma forma geral a qualquer tipo de situação exigida. Porém, para os puritanos os atores sempre seriam “crocodilos que devoram a

Além dos atores havia outros profissionais do teatro que poderíamos chamar de „prestadores de serviço‟: os construtores de cenários, os pintores, os aderecistas e os costureiros, os técnicos e os recepcionistas, todos com as funções muito parecidas das conhecidas

atualmente. Havia também um porteiro responsável pela coleta do dinheiro e pela prestação de contas.

Cada teatro tinha um dramaturgo residente. No Theatre era Robert Wilson. Algumas vezes os escritores trabalhavam em equipe, escrevendo um ato por fez, um método que foi usado na Alemanha no século 20 por Erwin Piscator. Uma simples companhia, em 1574, apresentava 15 novas peças em menos de seis meses. É estimado que foram produzidas 2 mil peças durante o período elizabethano-jacobeano, das quais 600 sobreviveram. Shakespeare era o principal dramaturgo de sua companhia, a do Lord Chamberlain, até por volta de 1613, quando Fletcher tomou o seu lugar.

O palco elizabethano e jacobeano não tinha um diretor como entendemos hoje, mas

certamente alguém dizia o que deveria ser feito. O processo de ensaios, até que a peça fosse encenada pela primeira vez, não poderia mudar tão drasticamente o texto e provavelmente Shakespeare deveria acompanhá-lo, discutindo com o resto da companhia algumas „direções‟ como entradas e saídas e posicionamento de palco.

“...where the meaning and nuance of everything from an entire play to the smallest phrase is examined in minute detail, discussions over timescale and exits and entrances worried over, consideration is rarely given to the fact that he must have had to concern himself with the practicalities of acting and the technicalities of staging.”99

“…onde o significado e a nuance de todas as coisas, da peça inteira a menor frase, é examinado nos mínimos detalhes, as discussões se

preocupavam com a escala de horários, e saídas e entradas, pouca atenção é dada ao fato que ele tinha que se preocupar com as praticas da ação e as técnicas de palco.”

“The principal companies of the day were set up in similar manner: a fixed number of sharers ran both playhouse and company, made the decisions as to repertoire, hired and fired actors and writers, took on apprentices and shared the profits of the enterprises. The sharers might be the builder of the theatre, the founder of the company, senior actors, dramatists or others of vital importance such as the Bookkeeper or Bookman. This latter position was crucial for, when a new play was to be put on, the actors were not given the entire play text from which to rehearse. Each individual part was copied out on to a roll of paper (hence the term roll-call) and handed to the actor, his appearance in the relevant scenes and his words marked only by the cues, the last words of the character before him and the first of the one who came after. Then the Bookman would call the cast together and read the whole play to them from his copy – that was the last time they would hear it in its entirely until all had learned their parts and were well to rehearsal.”100

“As principais companhias da época eram parecidas: um número fixo de membros dividiam o teatro e a companhia, tomando as decisões sobre repertório, contratando e demitindo atores e escritores, admitindo aprendizes e dividindo os lucros do empreendimento. Os sócios provavelmente eram: os construtores do teatro, os fundadores das companhias, os atores sêniors (mais experientes, os dramaturgos ou outros de vital importância como o Bookkeeper ou o Bookman. Estes últimos eram cruciais quando a peça era nova peça, já que os atores não recebiam a cópia completa da peça toda para os ensaios. A parte de cada um era copiada em um rolo de papel e entregue para o respectivo ator, sua participação nas cenas relevantes e suas palavras marcadas somente por deixas, as ultimas palavras do personagem em cena antes dele e as primeiras do personagem que viesse depois. Então, o Bookman juntava todos e lia a peça por completo a partir de única cópia existente – essa era a última vez que os atores ouviram a peça toda antes que todos tivessem aprendido as suas partes e estivessem bem ensaiados.”

Em 1574 Lord Hudson, o Lord Chamberlain torna-se patrono da companhia de James Burbage e o Lord Admiral da companhia de Henslowe. No final de 1576, a superioridade dos

Chamberlain´s Men sobre seus rivais pode ser confirmada pelo fato de dentre todas as peças representadas nos festivais da Corte, seis eram dessa companhia.

Como conseqüência da peste que assombrava a cidade de Londres por todo o século XVI, tornou-se comum para as companhias londrinas pegarem a estrada entre julho e agosto para cortar gastos, visto que além de serem os meses mais propícios para a Peste eram os meses mais apropriados para espetáculos a céu aberto. Podemos dizer que o ano teatral dos Chamberlain´s Men era completado com performances em pequenas províncias. Os atores anunciavam a si mesmos, em cada nova cidade, com trompetes e tambores. Existem comprovações de que além das pequenas províncias do interior, os atores viajavam também para o Continente, principalmente para a Alemanha:

“A princípio, todos eles falavam apenas inglês, mas a pouco e pouco foram aprendendo alemão, porque teriam de ser todos grandes artistas e mestres da mímica para se fazerem compreender num inglês entrecortado de alemão. (...) De qualquer modo, foi uma companhia dos contemporâneos de Shakespeare que apresentou o genial Marlowe com uma peça completa, pela primeira vez num palco alemão.”101

Outra curiosidade era as encenações realizadas a bordo de algum barco estacionado no porto, tendo como intenção resguardar os marinheiros para que não precisassem descer na cidade e assim ter algum contato com a temível Peste. Por volta de 1607 e 1608 foram encenadas a bordo do Dragon, barco da Companhia das Índias, Hamlet e Richard II. Segundo o capitão Keeling: “to keep my people from idlleness and unlawful games or sleep”.102

101GEINSENHEYNER, Max. O Drama Shakespeariano e O Drama do Renascimento. Inc:_______. História da Cultura

Teatral, p.104.

102EVANS, G. Blakemore. Elizabethan-Jacobean Drama – the theatre in its time, p.346. “para proteger minha tripulação

Após a subida ao trono do rei James I o Chamberlain‟s Men tornam-se King‟s Men e conseguem uma licença para atuar em qualquer parte do país:

Royal licence for the King‟s Men, 19 may 1603

“Know ye that we of our special grace, certain knowledge, and mere motion have licensed and authorizes, and by these presents do license and authorize, these our servants, Lawrence Fletcher, William Shakespeare, Richard Burbage, Augustine Phillipps, John Heninges, Henry Condell, William Sly, Robert Armin, Richard Cowley, and the rest of their associates freely to use and exercise the art and faculty of playing comedies, tragedies, histories, interludes, morals, pastorals, stage-plays, and such others like as they have already studied or hereafter shall use or study, as well for the recreation of our loving subjects as for our solace and pleasure when we shall think good to see them during our pleasure. (…) … permit and suffer them herein without any your lets, hindrances, or molestations during our said pleasure, but also to be aiding and assisting to them such former courtesies as hath been given to men of their place and quality, and also what further favour you shall show to these our servants, for our sake, We shall take kindly at your hands.”103

Licença real para os King‟s Men, 19 de maio de 1603

“Sabendo da nossa graça especial, certamente conhecida, e a moção de autorizar e licenciar, e por este presente licenciando e autorizando, estes funcionários, Lawrence Fletcher, William Shakespeare, Richard Burbage, Augustine Phillipps, John Heninges, Henry Condell, William Sly, Robert Armin, Richard Cowley e o resto de seus associados livres no uso e exercício das artes e da faculdade de representar comédias, tragédias, histórias, interlúdios, moralidades, pastorais, e qualquer outra desse tipo que já tenha sido estudada ou sendo estudada ou em uso a partir de agora, tanto para a recreação de nossos adoráveis temas como para nossa distração e prazer quando nós achamos bom vê-las durante nosso prazer. (...) ...permitir e tolerar que eles se apresentem em espetáculos sem impor impedimentos e dedicar-lhes as antigas cortesias que costumavam ser oferecidas a homens em sua posição e qualidade, e também qualquer favor adicional que fizerdes a esses nossos servidores em nosso benefício nós aceitaremos com satisfação e como uma gentileza de vossa parte.”

Apesar de termos os detalhes de mais de 20 companhias de atores trabalhando em Londres durante o período elizabethano e jacobeano, continuamos tendo pouco conhecimento do tipo de palco onde eles encenavam.

No documento A cenografia no palco de Skakespeare (páginas 77-82)