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Atos praticados com abuso de poder, infração à lei ou em desacordo com

5. A Responsabilidade ilimitada dos sócios pelas obrigações sociais

5.1. Atos praticados com abuso de poder, infração à lei ou em desacordo com

O art. 1.015 do Código Civil estabelece que “no silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir”.

Portanto, pratica abuso de poder o sócio que aliena um bem imóvel da sociedade, quando existe previsão no contrato social de que é necessária a presença de mais de um sócio ao ato. De modo que, supondo-se ter havido lucro imobiliário na transação, e que o sócio isoladamente decidiu não declará-lo, este responderá perante o Fisco, haja vista que extrapolou os poderes que lhe foram conferidos.

Atualmente, a infração à lei constitui a principal causa de responsabilização do sócio. Nas coletâneas jurisprudenciais, esta é a causa mais comum, por ser de extrema facilidade a sua caracterização, v.g., um sócio resolve alienar um imóvel da sociedade na tentativa de evitar que ele seja penhorado. Esta hipótese se enquadra como fraude à execução, segundo o Código de Processo Civil Brasileiro:

Art. 593. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens:

I. Quando sobre eles pender ação fundada em direito real; II. Quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo a insolvência;

III. Nos demais casos expressos em lei.

Uma outra hipótese de infração à lei é a dissolução irregular da sociedade, pois se o sócio encerra repentinamente as atividades sociais da empresa, sem adimplir as obrigações, promove o desaparecimento dos bens da sociedade e deixa como legado ao Fisco um crédito tributário que jamais será solvido, temos aí uma clara inobservância da lei, constituindo, pois, razão suficiente para responsabilizar o sócio.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, quando tinha competência infraconstitucional para apreciar a matéria32, assim decidiu:

Sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Execução fiscal. Ocorrendo o desaparecimento da sociedade sem liquidação regular, conforme determina a lei, respondem as pessoas nomeadas no art. 135, III, CTN, pelos débitos fiscais, em face da inexistência de patrimônio da sociedade. Recurso extraordinário conhecido e provido (RE 110597 – RJ, Rel. Min. Célio Borja, j. 7.10.86, DJ 7.11.86, p. 21561).

José Waldecy Lucena33 frisa que esta responsabilidade deve somente

alcançar os sócios que na época eram gerentes/administradores e que, em razão disso, os sócios não-administradores da sociedade não devem ser atingidos pelas execuções fiscais, porém adverte:

se ao encerramento da empresa, embora sem regulares dissolução e liquidação da sociedade, houver partilha de bens entre os sócios, ficarão os não-administradores solidariamente responsáveis até o valor dos bens que em partilha lhes couberam.

Com relação às deliberações que ofendem o contrato social, o art. 1.080 prevê que "as deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram".

Sérgio Campinho34 pondera:

a exegese literal do preceito poderia vir a levar à assertiva de que o sócio, para responder ilimitadamente, deve ter atuado concreta e ativamente na deliberação que veio a maltratar os ditames legais ou contratuais. Mas não nos parece seja essa a melhor abordagem da regra legal. Pensamos que sendo o sócio conivente com a prática do ato violador da lei ou do contrato social, ou dele tendo conhecimento, deixe de agir para impedir a sua

32 Anterior à Constituição Federal de 1988.

33 LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 6ª ed., atualizada em face do novo Código Civil, com formulário. Rio de

Janeiro: Renovar, 2005. p. 438.

34 CAMPINHO, Sérgio. O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil. 3a ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.

prática, deverá ele ficar sob a incidência da prefalada norma legal. Não há, destarte, a necessidade de o sócio expressamente ajustar a deliberação inquinada de ilicitude.

Referido dispositivo exclui os sócios discordantes da deliberação, impondo a responsabilidade ilimitada apenas àqueles que a aprovaram. Todavia, Sérgio Campinho pretende estender sobredita responsabilidade àqueles sócios que se omitiram, deixaram de agir para impedir a prática que violaria a lei ou o contrato social, pois se acredita que eles não agiram como homens ativos e probos na condução dos seus negócios.

Fábio Ulhoa Coelho35 cita o seguinte exemplo:

(...) imagine-se que o contrato social proíba – como, aliás, é usual – à sociedade limitada prestar fiança. Se os sócios majoritários aprovam em assembléia, ou alguns dos sócios autorizam, por escrito, confrontando a proibição constante do contrato social, a concessão da garantia pela sociedade, esses sócios são responsabilizáveis pelas obrigações sociais da fiadora. O credor da sociedade pode cobrar dos sócios participantes da deliberação irregular, diretamente, o valor afiançado. Para que o sócio seja responsabilizado, com base no art. 1.080 do CC, é indispensável tenha se manifestado por escrito, ao contribuir para a deliberação infringente de lei ou do contrato.

A fim de que se faça prova inconteste da contrariedade do sócio dissidente em relação a uma determinada deliberação que afronta o contrato social, reputamos importante a formalização de sua opinião, v.g., por meio de uma ata da reunião dos quotistas, na qual ele poderá expor as razões pela quais discorda da deliberação que será adotada, eximindo-se, assim, da responsabilidade.

Entretanto, se houve a manifestação de vontade somente na forma verbal, a prova da contrariedade do sócio dissidente poderá ser feita por testemunhas.

Por outro lado, em caso de dissolução irregular da sociedade sem a prévia observância dos procedimentos atinentes previstos em lei para o encerramento das atividades da sociedade, nesta situação, que gera a crença de participação de todos os sócios ou ao menos a conivência da maioria deles, para excluir a sua responsabilidade o sócio dissidente deve demonstrar um conjunto probatório composto por atos inequívocos empregados por ele com a clara intenção de evitar a dissolução irregular da sociedade.

Por oportuno, e se o sócio-gerente for vencido numa deliberação contrária à lei ou ao contrato social, deve ele dar execução a ela?

Melhor será ele renunciar a sua função como gerente, pois, suponhamos que ele venha a manter o seu posicionamento contrário aos demais sócios, isso incompatibilizaria sua função como administrador da sociedade. Por outro lado, se ele resolver dar seqüência à execução da malfadada deliberação, estará assumindo o risco de tornar ilimitada a sua responsabilidade.

Portanto, como se verifica, o artigo 1.080 do Código Civil permite que se punam somente os sócios que cometeram o ato contrário à lei ou ao contrato social, os quais não podem ser resguardados pela limitação da responsabilidade.

5.2. Créditos da seguridade social – uma sucinta análise do artigo 13 da Lei