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antigas civilizações. Ao norte da Índia, em torno de 4.000 anos atrás, estudos indicaram a presença de banheiros e de esgotos nas construções, além de evidências de drenagem urbana (HELLER, 1997).

O saneamento pode ser compreendido em vários aspectos: como requisito indispensável para a proteção da saúde e para a conservação e proteção do meio ambiente, além de proporcionar bem-estar às populações e assumir papel fundamental no planejamento das grandes cidades e no meio rural.

O conceito sobre saneamento vem sofrendo modificações no sentido de incorporar a grande interface existente entre as áreas de meio ambiente e de saúde pública. O entendimento de saúde, por exemplo, foi ampliado como o completo bem-estar físico, mental e social do indivíduo e não apenas ausência de doenças, conforme definido pela Organização Mundial de Saúde (PHILIPPI, 2004). O

saneamento, segundo a clássica definição, pode ser entendido como o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem estar físico, mental ou social (PHILIPPI, 2004)4.

Algumas formulações propostas para o conceito de saneamento têm privilegiado a compreensão sanitária do abastecimento de água e esgotamento sanitário em detrimento das outras ações de saneamento (HELLER, 1997).

No Manual de Saneamento da FUNASA (BRASIL, 2004b), saneamento ambiental é definido como:

o conjunto de ações socioeconômicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural.

E o entendimento de salubridade ambiental é:

o estado de higidez em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere à sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculada pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover aperfeiçoamentos de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem estar.

Pode-se observar que no texto de vários autores e mesmo de instituições de governo não há clareza quanto à definição da terminologia. Pode-se citar como exemplo que o atual governo denomina de Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental a instância cuja finalidade é de propor ações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e drenagem pluvial e designa por saneamento básico as mesmas ações, na nova Lei de Saneamento, Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que institui “as diretrizes nacionais para os serviços públicos de saneamento básico”.

Mesmo quando da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos houve a necessidade de se estabelecer uma definição para o saneamento como o equivalente ao conjunto das ações assumidas como integrantes das competências da atual Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental: abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza pública e drenagem pluvial. Entretanto, segundo o

4 [WHO] World Health Organization. Health and environment in sustainable development:

five years after the Earth summit. Geneva,1997.

Caderno Setorial (BRASÍLIA, 2006), é importante pontuar as divergências nessa definição, como:

− a ausência da inclusão das atividades de controle de vetores nesse conjunto, como assumido pela definição da FUNASA;

− a falta de clareza na diferenciação das expressões saneamento, saneamento básico e saneamento ambiental, sendo muitas vezes utilizadas de forma indiscriminada5;

− a inexistência, em outros idiomas ocidentais (inglês, espanhol, francês), de termo que reúna esse conjunto amplo de ações, sendo mais freqüente a referência ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, como setor.

Independente dos conceitos recentemente ampliados sobre saneamento, a grande maioria das empresas responsáveis atuam basicamente na área de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Observa-se ainda, mesmo que timidamente, algumas iniciativas nas áreas de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos.

O Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, instituído na década de 70, o conceito sobre saneamento correspondia aos campos de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Neste cenário surgiram as companhias estaduais de saneamento, condição necessária para participação dos Estados Brasileiros no PLANASA. Os municípios delegaram aos Estados a atribuição das ações de saneamento e os Estados aderiram ao PLANASA através de instrumentos institucionais para obtenção de recursos financeiros (REZENDE, 2002).

Devido ao crescimento populacional e a uma desordenada migração da zona rural para as grandes cidades, as companhias de saneamento e o próprio PLANASA priorizaram a aplicação dos investimentos em abastecimento de água em detrimento das demais ações que compõem o saneamento básico.

Entretanto, essa visão não pode mais prevalecer para o setor. A realidade nos grandes centros carece de urgentes medidas de saneamento no sentido mais amplo da palavra. Observa-se que em 1970, as cidades brasileiras possuíam uma

5 O próprio PLANASA – Plano Nacional de Saneamento empregou esta última palavra correspondendo, unicamente, ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário.

população de 52 milhões de habitantes, representando 56% da população do país e em 30 anos, passou para 138 milhões, correspondendo a 81%, ou seja, incremento de 86 milhões de indivíduos demandando infra-estrutura urbana (BRASÍLIA, Caderno Setorial, 2006).

A avaliação quanto à disponibilidade de recursos hídricos para suprir toda demanda gerada por essa população aponta para um quadro negativo. Não há disponibilidade de água adequada para abastecimento às populações e a capacidade dos corpos de água em absorver toda a carga de poluição lançada é insuficiente, considerando o atual índice de coleta e tratamento de esgotos implantados nos municípios brasileiros.

O cenário configurado para a área de saneamento ainda aponta tímido controle e participação social, baixa articulação entre áreas afins como saúde pública, planejamento urbano e recursos hídricos (BRASÍLIA, Caderno Setorial, 2006).

Desta forma, os objetivos para o setor de saneamento, concernentes ao abastecimento de água e esgotamento sanitário, a fim de elevar os atuais patamares prestados pelas empresas responsáveis, deverão internalizar a dimensão ambiental a partir dos seguintes pressupostos:

− No processo de abastecimento de água deverão ser contempladas responsabilidades que vão desde a proteção de mananciais de abastecimento até a disposição adequada dos resíduos gerados nos processos de tratamento. Programas de educação socioambiental deverão ser desenvolvidos para a mobilização e participação da sociedade nos processos de decisão e na conscientização para o uso racional de água.

− Os processos de tratamento de esgotos sanitários deverão incorporar novas tecnologias, a custos acessíveis, visando melhoria de eficiência de remoção de poluentes e adequada disposição final de resíduos. É fundamental a realização de programas de educação socioambiental para o envolvimento da população no uso correto da rede coletora de esgotos.