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2.4 IMPLEMENTAÇÃO DO INSTRUMENTO DE ENQUADRAMENTO NO BRASIL 24

2.5.1 Projeto Iguaçu

Uma importante experiência realizada na bacia do Alto Iguaçu com o objetivo de propor elementos e bases adequadas para promover a discussão sobre o plano de bacia, metas de qualidade de água e subsidiar a tomada de decisão do

Comitê do Alto Iguaçu e técnicos de órgãos gestores de recursos hídricos foi o projeto denominado Projeto Iguaçu. Este projeto foi considerado pioneiro do Departamento de Hidráulica e Saneamento e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental da Universidade Federal do Paraná, desenvolvido no período de 02/2002 a 02/2005. Além do departamento envolvido, estavam previstas participações de duas entidades: SUDERHSA e a Associação de Usuários das Bacias Hidrográficas Alto Iguaçu e Ribeira (AUBHIR). Entretanto, não houve a participação da Associação, tendo em vista a anulação do contrato de gestão ocorrida em 2003 (FERNANDES et al., 2005).

Foram obtidos resultados através das metas-físicas que serviram de base para os instrumentos e estudos que foram desenvolvidos após este projeto. Além disso, o Projeto Iguaçu contribuiu significativamente para uma visão sistêmica da gestão da qualidade da água na bacia do Alto Iguaçu e seus afluentes, configurado como um desafio para a gestão de recursos hídricos, aos técnicos e órgãos gestores competentes que possuíam informações deslocadas e parciais das condições ambientais da bacia em estudo.

O projeto foi composto de 5 (cinco) metas-físicas para atender aos objetivos, a saber:

1. Diagnóstico e Prognóstico da poluição hídrica na bacia do Alto Iguaçu, com o objetivo de retratar a realidade da poluição hídrica na área em estudo;

2. Análise de viabilidade das metas atuais de despoluição, com intuito de entender o potencial das metas propostas de despoluição;

3. Revisão de metas de despoluição hídrica, com o objetivo de tentar rever potenciais soluções eventualmente não consideradas;

4. Propostas de medidas viáveis de despoluição hídrica, para complementar as alternativas em destaque;

5. Proposição de um sistema de decisão de investimentos em despoluição, para entender a lógica do problema de otimização que se precise resolver.

Descreve-se a seguir um resumo das principais ações, resultados e recomendações do Projeto Iguaçu, propiciando entendimento e visão global do projeto:

− A meta-física MF -1 Diagnóstico e prognóstico da despoluição hídrica contemplaram vários estudos e como resultado principal desta meta foi a construção da matriz de fontes de poluição hídrica, onde foram definidas as principais informações para a adequada caracterização de fontes de poluição em termos de matéria orgânica. A matriz apresenta dados detalhados da bacia do Alto Iguaçu referente às características hidráulicas, como área de drenagem, extensão do rio, coeficiente de rugosidade; dados hidrológicos (vazões do rio); e de populações, como população total situada na bacia, população com e sem rede coletora de esgoto e a população com esgoto tratado. A matriz também contempla as informações relativas aos principais usuários dos recursos hídricos em termos de captação de água (como: Sanepar e indústrias) e lançamento de esgotos (como ETEs e RALFs da Sanepar e indústrias). Ainda na matriz foram identificadas as fontes difusas do uso do solo, caracterizando área urbana e área agrícola, floresta e pastagem. Nesta matriz têm-se o cálculo das cargas de DBO e concentrações de DBO que compõem os dados de entrada no modelo de qualidade da água – QUAL2E.

− Outro destaque obtido neste estudo foi evidenciar a importância da consolidação da matriz de fontes de poluição e calibração do modelo, pois os resultados do modelo matemático advindo de uma calibração não apropriada podem induzir as tomadas de decisões erradas pelo órgão gestor ou a equipe técnica envolvida com recursos hídricos. Este assunto foi motivo de estudos mais aprofundados de BÄUMLE (2005), dissertação de mestrado do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental.

− A MF 2 - Análise de Viabilidade das Metas Atuais de Despoluição Hídrica – Portaria nº 20/92 (Discussão do Enquadramento) teve como objetivo principal identificar e relacionar as inúmeras medidas de despoluição hídrica (estruturais e não estruturais), inclusive as constantes no Plano de Despoluição Hídrica da Bacia do Alto Iguaçu realizado pela SUDERHSA em 2000, e relacionar cada medida de despoluição hídrica com seus custos unitários de implantação, operação e manutenção. As

medidas não-estruturais são medidas preventivas e que objetivam a recuperação, proteção e conservação de recursos hídricos através de ações de gestão. E as medidas estruturais são aquelas relativas à implantação de serviços e obras. Foram levantados os custos unitários para a implantação de obras, como custos de extensão de rede implantada e custos de Estações de Tratamento de Esgotos. Entretanto, a maior dificuldade foi a obtenção de custos unitários de algumas medidas de despoluição não estrutural, especialmente quando se trata de medidas de gestão. A construção da função custo através da remoção de cargas de DBO para cada medida estudada foi objeto dessa pesquisa.

− Outra grande contribuição do projeto foi a utilização de um modelo de avaliação de benefícios econômicos em despoluição hídrica, com estabelecimento de pesos relativos aos usos dos recursos hídricos da bacia do Alto Iguaçu e dos parâmetros de qualidade da água analisados (DBO e OD). Os benefícios econômicos relativos às intervenções em despoluição hídrica podem ser quantificados através de um parâmetro de decisão, denominado de parâmetro Z, que tem por objetivo identificar o cenário de medidas de despoluição hídrica mais adequada à bacia, bem como estabelecer um planejamento de metas em função dos recursos financeiros disponíveis. Este parâmetro foi objeto da pesquisa de MARIN (2001).

− Ainda neste projeto, foi realizado um levantamento de informações sobre critérios de enquadramento adotados em outros países e no Brasil, definição do enquadramento e dos principais conceitos envolvidos neste processo, através da MF-3. Também foi realizada uma análise da viabilidade jurídica e institucional para a adoção de critérios alternativos de enquadramento.

Finalizado em fevereiro de 2005, o Projeto Iguaçu assume um papel fundamental na construção de conhecimentos e desenvolvimento dos instrumentos de gestão de recursos hídricos no Estado do Paraná, tanto para a instituição acadêmica, tida como a primeira experiência do departamento envolvido, como para os órgãos públicos e técnicos que direta ou indiretamente estão ligados à gestão de recursos hídricos.