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Parte I – Enquadramento teórico

3. A Biblioteca Escolar e o seu coordenador em tempos de mudança

3.3. Atribuir sentido à informação

As metodologias tradicionais (“ensinar para o teste”) continuam a ser largamente dominantes nas nossas escolas. São metodologias que requerem do aluno a memorização dos conteúdos do manual, e pouco mais; do professor, perícia em saber transmitir informação, que não se afasta muito da que se encontra no manual. São metodologias que conduzem muitos alunos ao insucesso e que não os prepara para nada que não seja mostrar, através de testes escritos, que decoraram bem a matéria. Mas é difícil não ser assim. Nós próprias, com larga experiência de “sage on the stage”, temos a maior dificuldade em fazer de outra forma.

Por um lado, foi desta forma que também fomos ensinados; por outro lado, fazer de outra forma requer conhecimentos, requer formação nesse sentido. Seria a formação que daria uma dimensão teórica à implementação de outras práticas e que, consequentemente, lhes confeririam sentido. A questão da atribuição de sentido por

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parte de quem está a passar por um processo de aprendizagem parece-nos ser da maior importância, porque não foram poucas as vezes que, nós próprias, nos apercebemos de que o sentido daquilo que nos propúnhamos fazer com os alunos não tinha o mesmo sentido para eles.

Foi neste mestrado que lemos sobre cognitivismo, construtivismo e metacognição, embora já nos tivéssemos cruzado com estas expressões em documentos escolares oficiais que não esclareciam o seu significado, partindo, talvez, do pressuposto que os professores os conhecem.

Afirma Doll (2005:86) que: “The contemporary emphasis on restructuring in education has resulted in a paradigm shift from a behaviorist view of learning to a constructivist one”. Lamentavelmente, esta mudança de paradigma não se generalizou nas escolas portuguesas, onde o conhecimento sobre processos de aprendizagem, estilos de aprendizagem e tipos de inteligência é difuso, disperso, irrelevante e, portanto, ineficaz na prática. Nas escolas, há que pensar de forma diferente sobre o conhecimento e a compreensão, e implementar novas práticas conducentes à construção interior do saber, o que não é mais, no fundo, do que dar sentido à informação para a maioria dos alunos, permitindo e facilitando a sua transformação em conhecimento. É ainda Doll (idem:92) que realça a necessidade de o coordenador de uma biblioteca escolar estar continuamente informado quanto às teorias de aprendizagem, só assim conseguindo evitar que o programa da Biblioteca seja uma reprodução das actividades da sala de aula.

É um facto que a memorização de factos não conduz facilmente à compreensão. Sendo a compreensão “the ability to think and act flexibly with what one knows”5, ela não é inerte; desenvolve-se activamente através de um processo interior invisível durante o qual se utilizam conhecimentos prévios e capacidades de pensar e de os aplicar em novos contextos. Deste modo, o processo de construir compreensão envolve uma transferência metacognitiva, no sentido em que o significado de uma informação é utilizado para além de um contexto particular, no qual ele é, pela primeira vez apreendido. A metacognição é essencial ao desenvolvimento da compreensão, uma vez que aqueles que se encontram em situação de aprendizagem têm consciência dos seus

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Definição usada pelo Teaching for Understanding Project e citada por Hughes-Hassell e Harada (2007:38).

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processos mentais; olham para o seu próprio crescimento cognitivo porque comparam o que estão a aprender com aquilo que já sabiam; apercebem-se do conflito entre os novos conhecimentos e aqueles de que eram portadores e corrigem conceitos errados ou falsas suposições; mobilizam o conhecimento, as competências e as estratégias necessárias para se colocarem em qualquer novo contexto de aprendizagem.

A questão que se coloca é a de saber como é que se ensina de modo a levar à prática o enquadramento metacognitivo. Criando oportunidades de aprendizagem com

sentido – tal é a resposta unânime de todos os autores que se debruçam sobre o assunto.

E as oportunidades de aprendizagem constroem-se através do “questioning”, do “enquiry learning”. Uma vez identificados os conhecimentos-alvo (“targeted understandings”), os professores devem formular questões essenciais que intriguem, motivem e desafiem os estudantes com autênticos problemas6. Logicamente, a avaliação deve incidir sobre a compreensão. Se a pretensão é a de que o aluno aplique e transfira conhecimento, então os produtos de avaliação devem levar a que aquele crie produtos e tenha desempenhos através dos quais mostre o seu conhecimento em novos contextos e que leve a cabo tarefas através das quais apresente soluções para problemas autênticos:

The assessment product and the essential questions combine to offer students opportunities to present their own answers to intriguing question in formats that have credibility in the real world (e.g., an editorial on “Is our rebellion justified” written by an American colonist rather than a two-page report on the American Revolution). (Hughes-Hassell e Harada, 2007:45).

Neste momento, se este tipo de ensino e de aprendizagem fosse passível de implementação, haveria um desfasamento relativamente aos testes a nível nacional. Os professores estão de tal modo pressionados (e os rankings das escolas constituem uma das pressões em causa) que recorrem sistematicamente ao “teaching for the test”. Decidir o que é que os alunos aprendem e a forma como são avaliados são questões políticas. Aos professores é deixada pouca capacidade de decisão, pelo menos no estado presente. É possível (e seria desejável) que as alterações em termos de currículos e de

6O site da ALPS (Active Learning Practice for Schools) (http://learnweb.harvard.edu/alps/tfu/index.cfm)

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metodologias passassem a estar em consonância. O coordenador de uma Biblioteca