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O envolvimento dos grandes acionistas no monitoramento e nas atividades de controle corporativo tem o potencial de limitar os problemas de agência. Para este monitoramento poder ser confiável, o acionista precisa manter o investimento por um período longo (ter uma visão de longo prazo da empresa) e manter ações suficientes para mitigar o problema de free-rider.

Gillian e Starks (2000) destacam que este é um ponto a favor da atuação dos Fundos de Pensão, já que os mesmos têm uma visão de longo prazo em seus investimentos, uma vez que suas obrigações (concessão de benefícios) também são de longo prazo, o que gera um incentivo para que os mesmos busquem a melhora de performance das empresas.

Gillian e Starks (2003) verificaram que existem diferenças entre as habilidades de monitoramento e os incentivos dos Investidores Institucionais e dos grandes acionistas não-institucionais. Eles observaram que alguns autores, como Gorton e Kahl (1999) julgam que os Investidores Institucionais podem ser monitores imperfeitos devido aos seus próprios problemas de agência internos.

Mas como, quase sempre, não existem grandes acionistas individuais para providenciar um melhor monitoramento, até mesmo o imperfeito monitoramento fornecido pelos Investidores Institucionais é bem-vindo pelos acionistas.

Aldrighi (2003), em seu estudo sobre os mecanismos de governança corporativa nos Estados Unidos, ressalta a falta de incentivo que os Investidores Institucionais têm para exercer um papel mais atuante nas empresas, uma vez que a legislação norte-americana desestimula coíbe práticas de controle excessivo de ações por investidores em geral, aumentando a responsabilidade

dos mesmos perante a performance das empresas, por exemplo, a SEC (Security and Exchange Commission) exige que qualquer investidor que detenha mais de 5% do capital negociado de empresas de capital aberto é obrigado a notificá-la indicando claramente suas intenções no investimento e informando a origem dos recursos, a fim de evitar a expropriação dos acionistas minoritários, privilegiando um modelo de controle disperso por muitos acionistas.

O incentivo para monitorar e a eficiência para tal variam de acordo com a comunidade de Investidores Institucionais. Podem ser identificados dois tipos de Investidores Institucionais: os sensíveis à pressão (pressure-sensitives), como bancos e companhias seguradoras; e os insensíveis à pressão (pressure-insensitives), como os fundos mútuos e os fundos de pensão independentes.

Os investidores sensíveis à pressão são os que possuem um relacionamento comercial, potencial ou corrente, com as empresas em que possuem investimento. Desta forma, os mesmos se mostram menos ativos no monitoramento dessas empresas, tendo sido observados como mais amigáveis aos gestores das empresas do que outros tipos de Investidores Institucionais (os insensíveis à pressão).

Assim, embora os bancos possuam uma vantagem comparativa em monitorar devido a seu acesso a informações internas das empresas (o acesso dos bancos credores a informações de qualidade, relativas às informações disponíveis para os acionistas em geral, reduz custos de agência potenciais do financiamento por empréstimo), os bancos, tipicamente, têm posições de empréstimos maiores do que suas posições em ações e, desta forma, não se pode concluir claramente o quanto o poder de voto dos bancos é usado segundo o interesse dos acionistas, conforme observado por Gillian e Starks (2003). Os

autores observaram, também, uma grande diferença na atuação dos bancos como acionistas quando se observam países como Alemanha e Japão em relação aos EUA e ao Reino Unido. Os motivos parecem estar relacionados a outras diferenças na estrutura corporativa e legislação destes países, como será abordado na seção 5.

Outro papel importante dos grandes Investidores Institucionais é prover um mecanismo confiável para transmissão de informações para os mercados financeiros, isto é, para os outros investidores. Os Investidores Institucionais possuem diversas formas de influenciar a governança de uma empresa. Eles podem estabelecer as políticas de remuneração dos executivos, podem participar dos Conselhos de Administração (pouco comum em alguns países como os EUA – conforme observado por Cornett, Marcus, Saunders e Tehranian, 2003 em análise das empresas que formaram o índice S&P100 de 1993 a 2000), podem vender suas ações ao invés de tentar instigar mudanças nas empresas ou podem expressar suas opiniões de forma mais agressiva através da imprensa ou campanhas de mídia quando os executivos não aceitam suas sugestões a respeito da gestão da empresa.

De acordo com Becht, Bolton e Röell (2002), o controle através do Conselho de Administração, apesar de importante, de forma geral é sujeito às regras das próprias empresas e a regulamentações do mercado acionário que impõem limites a estes poderes, e que variam muito significativamente entre as nações.

A venda das ações pelos Investidores Institucionais pode afetar o preço das ações no mercado, reduzindo seu valor seja porque estes investidores possuem uma grande participação acionária e que, por problemas de liquidez do

mercado ou da empresa, eles encontrem dificuldade em se desfazer de suas ações; ou porque a venda seja vista pelos agentes do mercado como uma sinalização negativa (má notícia) e provoque vendas por outros investidores – esta última razão pode também ter outra conseqüência além da redução do preço das ações, pois pode alterar a base de investidores da empresa, de investidores com foco no longo prazo, para investidores com uma visão de curto prazo.

Becht, Bolton e Röell (2002) também observaram que um grande acionista institucional tem benefícios com o monitoramento, mas também tem custos, como, por exemplo, o fato de que a concentração das ações pode reduzir o número de transações das ações da empresa, reduzindo sua liquidez e afetando negativamente a habilidade dos investidores de vender suas ações.

Gillian e Starks (2003) observaram que historicamente Investidores Institucionais têm preferido liquidez a controle, pois, como a habilidade de exercer o controle sobre o gerenciamento de empresas vem aliada a um sacrifício de liquidez, este custo é considerado inaceitável por muitos, o que é também é colocado por Becht, Bolton e Röell (2002).

A presença de grandes acionistas, neste caso os Investidores Institucionais, podem causar alguns problemas: a coalizão dos mesmos com os gestores das empresas a fim de expropriar os pequenos investidores; a não-diversificação do risco destes Investidores em várias empresas/indústrias; a reduzida liquidez das ações destas empresas no mercado; além de muitos, como observado em Gillian e Starks (2000), questionarem a efetividade do monitoramento por partes destes investidores, alegando que eles não possuem a expertise necessária para

“aconselhar” os gerentes, além de não ser este o core business destas instituições.

Em seu estudo, Becht, Bolton e Röell (2002) concluíram que existem muitas dificuldades para se medir a efetividade das ações de monitoramento e separar o efeito do monitoramento de outros, como mudanças na economia, no mercado ou no próprio gerenciamento da empresa (atividade que ocorre internamente na empresa, através de negociações privadas, onde muitas vezes não existe observação externa). Em virtude destas dificuldades, os resultados empíricos observados têm sido ambíguos e muitas vezes pouco expressivos.

Seifert, Gonenc e Wright (2005) encontraram resultados não conclusivos sobre o impacto da presença de investidores institucionais como acionistas em empresas dos EUA, Japão , Alemanha e Reino Unido, por exemplo.

De forma geral, Becht, Bolton e Röell (2002) e Gillian e Starks (2003) concluem que há indicação de que a presença de Investidores Institucionais leva a preços mais informativos e, conseqüentemente, menores custos para monitoramento. Por outro lado, embora alguns estudos mostrem que há correlação no curto-prazo entre alguns tipos de monitoramento, existe pouca evidência de que há melhora na performance da empresa no mercado ou melhora operacional no longo prazo devido à atividade dos Investidores Institucionais.

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