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O debate sobre governança corporativa no Brasil se intensificou na década de 90, quando fatores como privatizações, abertura econômica e a entrada de novos investidores, especialmente estrangeiros e institucionais, estimularam novos esforços para a adoção de melhores práticas de governança. Este novo contexto está alinhado com o detectado em pesquisa, conduzida em parceria pelas empresas de consultoria McKinsey & Co. e Korn Ferry International no ano de 2001, onde são enfocadas as características da estrutura de propriedade e liderança das empresas nacionais e a organização e práticas dos seus Conselhos de Administração. A pesquisa demonstra que as empresas nacionais, pressionadas por necessidades de financiamento a custos menores e pelos desafios impostos pela competição em nível global, estão reformulando suas práticas de governança corporativa.

Dentre as observações desta pesquisa pode-se destacar que:

- os interesses dos acionistas minoritários são pouco reconhecidos pela gestão e pelos Conselhos de Administração;

- os acionistas minoritários são pouco ativos (até mesmo pelo problema do free-rider já citado anteriormente);

- os Conselhos de Administração possuem estruturas informais e são dominados por conselheiros internos das empresas;

- existe alta sobreposição entre propriedade e gestão (relevante, uma vez que a empresa típica é familiar);

- pouca clareza na divisão dos papéis do conselho e da gestão executiva, em especial em empresas familiares;

- o nível de informação enviada ao mercado e de transparência nas suas gestões é considerado adequado pelas empresas, mas insuficiente pelos analistas e investidores.

Como a maioria dos países em desenvolvimento, o Brasil se caracteriza pela concentração de propriedade das empresas nas mãos de poucos investidores. Em 2000, esta concentração encontrava-se em poder de investidores individuais, em grande parte representados por empresas familiares (48%), de investidores estrangeiros (27%) e com uma pequena participação dos investidores institucionais (apenas 8%).

Apesar de poucas empresas serem de propriedade de Investidores Institucionais, uma análise feita por Carvalhal-da-Silva e Leal (2004) mostra que a avaliação feita pelo mercado (índice Tobin´s Q) dentre as empresas com um acionista como controlador é melhor para aquelas em que o controlador é um Investidor Institucional (com índice igual a 1,16). É importante ressaltar que o resultado encontrado no trabalho foi que as empresas com capital mais pulverizado (sem um acionista com mais de 50% dos votos diretamente) possuem melhor avaliação de mercado que as que possuem um controlador (índice Tobin’s Q igual a 1,19 e 1,07, respectivamente). Apesar dos resultados encontrados pelos autores, eles destacam que não se pode afirmar que a presença de Investidores Institucionais como acionistas das empresas seja sinal de melhor valorização ou retorno no Brasil.

Em outro estudo, Cordenonssi et alli (2002) analisam o desempenho de 161 empresas listadas na Bovespa entre dez/94 e mar/00 em relação ao índice de mercado (IBOVESPA), subdividindo-as quanto à participação de Investidores Institucionais como acionistas ordinários (maior que 30%, entre 10% e 30% e menor que 10%). Os autores chegaram a resultados não-conclusivos a respeito do efeito que a presença de Investidores Institucionais como acionistas ordinários causam na governança das empresas e na valorização das mesmas pelo mercado acionário, uma vez que os resultados não mostraram relação direta entre o grau de participação dos acionistas e o retorno ajustado ao mercado.

Lustosa e Leal (2004) avaliam dois casos de atuação de fundos de pensão como monitores das políticas de governança corporativa das empresas, um com sucesso e outro não, e concluem que a atuação do acionista controlador pode ser grande impedimento às atividades de monitoramento desempenhadas pelos Investidores Institucionais.

A criação em 1999 do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), primeiro órgão no Brasil com foco específico em governança corporativa, foi um marco importante para o avanço do tema no país. Entre suas principais iniciativas destacou-se a elaboração do Código Brasileiro das Melhores Práticas de Governança Corporativa, que em sua primeira versão foi segmentado em seis grandes temas: Propriedade (acionistas, quotistas, sócios); Conselho de Administração (representando a propriedade); Gestão (executivo principal – CEO e diretoria); Auditoria (independente); Fiscalização (conselho fiscal); e, Ética e Conflito de Interesses.

Lustosa e Leal (2004) destacam a importância da mudança no cenário regulatório e legal do mercado de capitais brasileiro, com a implementação de

medidas como a nova Lei das S.A., a criação do Novo Mercado pela Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e da regulamentação dos fundos de pensão pela SPC (Secretaria de Previdência Complementar), regulamentando as políticas de investimentos e exigindo mais divulgação de informações pelos fundos de pensão.

Uma destas mudanças, em sintonia com as demandas do mercado financeiro por maior transparência na gestão das empresas e proteção do acionista minoritário, foi o desenvolvimento de alguns mecanismos pela Bovespa, como a criação do Novo Mercado, com regras de listagem diferenciadas, destinado à negociação de ações emitidas por empresas que se comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa e divulgação de informações adicionais e de vanguarda em relação ao que é exigido pela legislação.

Além da criação do Novo Mercado, a Bovespa classificou as companhias listadas como de Nível 1 ou Nível 2 , dependendo do grau de compromisso assumido em relação às práticas de boa governança. São os chamados "Níveis Diferenciados de Governança Corporativa", criados com a finalidade de incentivar e preparar gradativamente as companhias a aderirem ao Novo Mercado, e que proporcionam maior destaque aos esforços da empresa na melhoria da relação com investidores, elevando o potencial de valorização dos seus ativos.

A entrada de uma empresa no Novo Mercado significa a adesão a um conjunto de regras societárias, genericamente chamadas de "boas práticas de governança corporativa", mais rígidas do que as presentes na legislação brasileira.

Essas regras, consolidadas em um regulamento (Regulamento de Listagem), ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente prestadas pelas companhias e, ao determinar a resolução dos

conflitos por meio de uma Câmara de Arbitragem , oferecem aos investidores maior segurança jurídica quanto à obediência aos compromissos firmados, com uma alternativa mais ágil e especializada.

Outra mudança relevante foi a reforma da Lei das S.A., consubstanciada na edição da Lei 10.303, de 31 de outubro de 2001, na Medida Provisória nº 8 e no Decreto 3995, ambos de 31 de outubro de 2001, que trouxeram diversas modificações na regulamentação das empresas e na Lei do Mercado de Valores Mobiliários (Lei 6.385/76). Esta última, particularmente, alterando a estrutura da CVM, visando conferir ao órgão regulador maior autonomia para exercer seu poder de fiscalização do mercado de capitais.

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