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AUDITORIA DE PREVENÇÃO EM PORTUGAL - ENQUADRAMENTO LEGAL

2. O PAPEL DOS AUDITORES NO BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

2.1. AUDITORIA DE PREVENÇÃO

2.1.4. AUDITORIA DE PREVENÇÃO EM PORTUGAL - ENQUADRAMENTO LEGAL

De acordo com o n.º 6 do artigo 45.º da Lei n.º 140/2015, de 7 setembro e artigo 9.º do Regulamento (UE) n.º 537/2014 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril, as auditorias em Portugal deverão ser realizadas tendo em conta as normas internacionais de auditoria adotadas pela Comissão Europeia. A ISA 200 analisa as responsabilidades do auditor na realização de uma auditoria às demonstrações financeiras. A primeira responsabilidade do auditor é a obtenção de uma fiabilidade razoável acerca das demonstrações financeiras minimizando a possibilidade de fraudes ou a erros e habilitando o auditor a revelar a sua opinião sobre todos os aspetos materiais. A segunda responsabilidade do auditor passa pelo relato acerca das demonstrações financeiras, e comunicação de todas as conclusões obtidas, conforme exigido pelas ISA. Apesar de ser importante aplicar as ISA, esta aplicação por si só não é suficiente para que o trabalho de auditoria tenha elevada qualidade. O auditor deve sempre utilizar o seu julgamento profissional e manter o ceticismo na execução da auditoria, facto que torna a tarefa complexa.

O branqueamento de capitais é um crime punível na lei de acordo com os n.ºs 2 e 3 do artigo 368.º-A do Código Penal Português. Este crime pode ser punido com pena de prisão que pode ir de 2 a 12 anos ou com multa. Contudo nunca poderá ser superior ao limite máximo da pena mais elevada de entre as previstas para os factos ilícitos típicos de onde provêm as vantagens. A legislação nacional sobre branqueamento de capitais surgiu pela primeira vez no Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro, tendo em conta a convenção relativa ao branqueamento, despistagem, apreensão e perdas dos produtos do crime e a Diretiva da CEE n.º 91/308/CEE, de 10 de junho.

A lei nº 15/93 de 22 de janeiro teve como base a Convenção de Viena e a Convenção de Estrasburgo e define o regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de substâncias ilegais. Esta lei foi atualizada pela Lei nº 7/2017 de 2 de março, abordada adiante.

No mesmo ano surge o Decreto-Lei nº 313/93 de 15 de setembro com base na Diretiva 91/308/CEE de 1991 e atualizada pela Declaração de Retificação nº 231/1993, a qual aborda a prevenção da utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais. Esta legislação serviu de base à instrução do Banco de Portugal (BP) nº 24/2002, a qual elaborou um relatório sobre o sistema de prevenção do envolvimento das sucursais em Portugal com sede em outro estado membro da união Europeia, sobre operações relacionadas com o branqueamento de capitais, que entretanto foi revogada.

O Decreto-Lei nº 325/93 de 2 de dezembro, entretanto atualizado pela Lei nº 5/2002 de 11 de janeiro, surge como uma extensão da lei de branqueamento de capitais mas a entidades não financeiras, sendo ainda introduzidos pequenos aperfeiçoamentos no que se refere ao combate ao branqueamento de capitais. Por outro

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lado, a legislação introduzida estabelece um regime especial de recolha de provas, quebra de sigilo profissional e perda de bens a favor do Estado em caso de fraude.

A Lei nº 11/2004 de 27 de março foi baseada na Diretiva nº 2001/97/CE que alterou a Diretiva 91/308/CEE de 1991 e posteriormente foi atualizada pela Lei nº 27/2004 de 16 de julho. Esta legislação considera o regime de prevenção e repressão do branqueamento de vantagens de proveniência ilícita e procede à 16.ª alteração ao Código Penal e à 11.ª alteração ao Decreto-Lei n.º 15/93. Por outro lado, é definido que o Ministério das Finanças procede à aplicação de coimas e de sanções acessórias, não só às entidades financeiras, mas também aos revisores oficiais de contas.

A instrução do BP nº 26/2005 foi baseada na Lei nº 11/2004 de 27 de março e estabelecia o cumprimento do dever de conhecimento dos clientes. Contudo esta instrução foi revogada. No mesmo ano surge o Aviso nº 11/2005 do BP, posteriormente atualizado pelo Aviso nº 2/2007 e revogado pelo Aviso nº5/2013, o qual regula as condições de abertura de contas de depósitos bancários.

O Decreto-Lei nº 61/2007 de 14 de março surge baseado no Regulamento CE nº 1889/2008 de 26 de Outubro e no Decreto-Lei nº 2006/70/CE de 1 de agosto e aprova o regime jurídico aplicável ao controlo dos montantes de dinheiro líquido, transportado por pessoas singulares, que entram ou saem da Comunidade Europeia através do território nacional, bem como ao controlo dos movimentos de dinheiro líquido com outros Estados membros da União Europeia.

A Lei nº 25/2005 de 5 de junho surge baseada nas Diretivas nº 2005/60/CE de 26 de outubro e nº 2006/70/CE de 1 de agosto e foi posteriormente atualizada pela Lei nº 118/2015 de 31 de agosto. Esta Lei estabelece medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento de vantagens de proveniência ilícita, relativas à prevenção da utilização do sistema financeiro e das atividades e profissões especialmente designadas para efeitos de branqueamento de capitais. Contudo esta Lei foi revogada pela Lei nº 83/2017 de 18 de agosto.

O Decreto Lei nº 125/2008 de 21 de julho baseia-se no Regulamento da CE nº 1781/2006 de 15 de novembro e apresenta informações sobre o ordenante que acompanham as transferências de fundos. Ainda assim, a Lei nº 83/2017 de 18 de agosto revogou esta legislação.

O Aviso nº 5/2008 do BP, entretanto atualizado pelo Aviso nº 9/2012 do BP procede à eliminação da duplicação das exigências quanto aos relatórios de controlo interno impostos pelo BP e pela CMVM, através da convergência da sua estrutura, conteúdo e prazo de reporte. Por outro lado, autonomiza e amplia a informação a ser fornecida ao BP em matéria de branqueamento de capitais.

A portaria nº 41/2009 de 13 de janeiro surge baseada no artigo 41º da Diretiva nº 2005/60/CE de 26 de outubro e define o elenco de países que integram o conceito de país terceiro equivalente.

O Aviso nº 9/2012 do BP surge baseado na Lei nº 25/2008 de 5 de junho e entretanto foi atualizado pelo Aviso nº 2/2014 do BP. Esta legislação autonomiza e amplia a informação periódica, no contexto da prevenção do branqueamento de capitais, as instituições reportam ao BP, permitindo uma mais exata perceção, pelo supervisor, da qualidade e robustez dos sistemas de controlo interno instituídos neste domínio pelas entidades supervisionadas.

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O Aviso nº 5/2013 do BP surge baseado na Lei nº 25/2008 de 5 de junho e entretanto foi atualizado pelo Aviso nº 3/2017 do BP. Esta legislação regulamenta as condições, mecanismos e procedimentos necessários ao efetivo cumprimento dos deveres preventivos do branqueamento de capitais.

A Lei nº 55/2015 de 26 de junho surge baseada na Lei nº 5/2002 de 11 de janeiro e estabelece medidas de combate à criminalidade organizada e económico-financeira, de modo a abranger todos os ilícitos criminais relacionados com o terrorismo.

Posteriormente, a Lei nº 118/2015 de 31 de agosto surge baseada na Lei nº 25/2008 de 5 de junho e define o conceito de beneficiário efetivo. A Lei nº 15/2017 de 3 de maio proíbe a emissão de valores mobiliários ao portador e altera o Código dos Valores Mobiliários.

A Lei nº 83/2017 de 18 de agosto surge baseada nas Diretivas 2015/849/EU de 20 de maio e 2016/2258/UE de 6 de dezembro, atualizada pelo Decreto-Lei nº 144/2019 de 23 de setembro, e estabelece medidas de natureza preventiva e repressiva de combate ao branqueamento de capitais relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro e das atividades e profissões especialmente designadas para efeitos de branqueamento de capitais, acesso às informações anti-branqueamento de capitais por parte das autoridades fiscais. Além disso, estabelece medidas quanto às informações que acompanham as transferências de fundos.

A Lei nº 89/2017 de 21 de agosto surge baseada na Diretiva nº 2015/849 de 20 de maio e aprova o Regime Jurídico do Registo Central do Beneficiário Efetivo.

A Lei nº 92/2017 de 22 de agosto obriga à utilização de meio de pagamento específico em transações que envolvam montantes iguais ou superiores a 3 000 euros, alterando a Lei Geral Tributária e o Regime Geral das Infrações Tributárias. Por outro lado, a Lei nº 97/2017 de 23 de agosto regula a aplicação e a execução de medidas restritivas aprovadas pela Organização das Nações Unidas ou pela União Europeia e estabelece o regime sancionatório aplicável à violação destas medidas. Além disso, o Decreto-Lei nº 123/2017 de 25 de setembro estabelece as disposições necessárias à execução da Lei n.º 15/2017 de 3 de maio.

A legislação em vigor em Portugal enumera diversos deveres dos auditores. O dever de controlo surge nos artigos 12.º a 22.º da Lei n.º 83/2017 e estabelece que os auditores devem implementar um sistema de controlo interno adequado, desenvolvendo políticas e procedimentos. O auditor deve implementar um modelo adequado em termos de gestão eficaz dos riscos de branqueamento de capitais. Este modelo considera os princípios da identificação do risco, da avaliação do risco e da mitigação do risco. Este assunto surge evidenciado nas ISA 315 e ISA 330.

Para uma execução eficaz do seu trabalho, o auditor deverá ter formação adequada sobre branqueamento de capitais, ferramentas e sistemas de informação adequados. Por outro lado, as empresas de auditoria devem testar a qualidade do seu trabalho, de forma a corrigir procedimentos executados.

O auditor tem ainda o dever de identificação e diligência constante nos artigos 23.º a 42.º da Lei n.º 83/2017. Este dever estabelece procedimentos que devem ser implementados na execução do trabalho do auditor, tais como a identificação do cliente e do beneficiário efetivo. O auditor terá que compreender a estrutura de propriedade e o controlo do cliente. Ainda assim, a lei prevê medidas simplificadas, para quando

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se comprove que o risco de branqueamento de capitais é reduzido. Contudo, quando existem um risco elevado, a lei prevê medidas reforçadas.

O dever de comunicação encontra-se previsto nos artigos 43º a 46º da lei n.º 83/2017 e define que o auditor deverá comunicar de imediato através da OROC ao DCIAP e UIF as suspeitas de operações de branqueamento de capitais.

Deve ainda ter-se em conta o dever de abstenção constante nos artigos 47º a 49º da lei n.º 83/2017. De acordo com este dever, os auditores deverão abster-se de executar qualquer operação presente ou futura quando saibam ou suspeitem de envolvimento com atividades ou práticas criminosas. A comunicação deverá ser efetuada de imediato as autoridades competentes (DCIAP e UIF).

Os auditores apresentam ainda o dever de recusa estabelecido no artigo 50º da lei n.º 83/2017, o qual menciona que sempre que não sejam disponibilizados elementos de identificação, ou do beneficiário efetivo, os auditores deverão por termo à relação e recusar o trabalho.

O dever de conservação encontra-se definido no artigo 51º da lei n.º 83/2017 e indica que as informações comprovativas do dever de identificação e diligência deverão ser conservadas por um período de sete anos, bem como qualquer outro material recolhido ou obtido em virtude do cumprimento dos deveres impostos pela lei n.º 83/2017 de 18/08.

O dever de exame surge no artigo 52º da lei n.º 83/2017 e define que sempre que se detetem suspeitas de branqueamento de capitais, o auditor deverá examinar com especial atenção, aumentando o grau e natureza das operações.

Em relação ao dever de colaboração, definido no artigo 53º da lei n.º 83/2017, os auditores deverão colaborar sempre que lhes for requerida a colaboração pelo DCIAP, UIF, autoridades judiciárias e policiais, pelas entidades sectoriais e Autoridade Tributária Aduaneira.

O dever de não divulgação definido no artigo 54º da lei n.º 83/2017, exige que o auditor não divulgue ao cliente ou a terceiros informações recolhidas durante o seu trabalho.

O dever de formação definido no artigo 55º da lei n.º 83/2017, exige que os auditores possuam o conhecimento adequado em relação à prevenção e deteção de branqueamento de capitais.

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