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2. O PAPEL DOS AUDITORES NO BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

2.1. AUDITORIA DE PREVENÇÃO

2.1.2. O PAPEL DO AUDITOR NA PREVENÇÃO DA FRAUDE

O papel do auditor na deteção da existência de fraudes tem sido algo discutido por diferentes autores e que conduz a opiniões distintas. De acordo com Arens et al (2003), o auditor deve reger-se pelos princípios da competência e independência, facto que envolve a avaliação de todas as evidências existentes. Assim, o auditor deve estabelecer a relação entre as informações que detém e determinados critérios, facto que lhe permite tomar decisões e relatar aspetos que se encontrem em conformidade com o esperado ou nos quais se verifique a ausência de tal conformidade.

Nos anos 60, foram realizadas algumas críticas à negação da responsabilidade do auditor na deteção de fraudes, conforme justificou Morrison (1970). Assim, o autor considerava que se não existisse um foco na deteção de fraudes, o processo de auditoria tornava-se inútil. Ainda assim, verificou-se a existência de uma certa resistência por parte dos auditores que preferiam que tal responsabilidade continuasse a ser da gerência ou administração. Tanto Humphrey et al (1993) como Vanasco (1998) argumentam que aos auditores pretendiam minimizar a sua responsabilidade com o objetivo de se proteger contra reivindicações. Contudo, o desenvolvimento da tecnologia introduziu uma elevada complexidade na existência de fraudes, aumentando o volume das mesmas.

Porter (1997) defende que o dever do auditor é relatar aos acionistas todos os atos desonestos que ocorreram na empresa e afetaram a mesma, bem como as suas demonstrações financeiras. Em períodos anteriores, o principal objetivo da realização de auditorias é a verificação das contas da entidade, tal como aborda Vanasco (1998). Contudo, o autor assume que o objetivo da profissão foi reformulado e o auditor adota uma posição relevante na deteção de fraudes, facto que anteriormente era da inteira responsabilidade da gerência, dado que esta tinha a responsabilidade de implementar sistemas de controlo interno adequados à empresa. Contudo, conforme indica Porter (1997), devido ao elevado número de transações, os auditores podem não conseguir examinar todos os atos. Assim, os auditores utilizam procedimentos de amostragem para detetar ações suspeitas de fraude. No entanto, as transações não registadas continuam a ser de difícil deteção.

De acordo com ACFE (2004), a evolução da tecnologia verificada na atualidade conduziu a que a fraude seja mais difícil de detetar, nomeadamente quando é cometida por membros da administração ou gerência, uma vez que existe maior facilidade na ocultação. Assim, por vezes os auditores podem não conseguir detetar a referidas ações.

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A experiência profissional e a formação dos auditores facilitam a deteção de fraudes por parte dos mesmos, sendo ainda relevante o conhecimento acentuado da entidade em causa, conforme referem Moyes e Hasan (1996). Assim, de acordo com Makkawi e Schick (2003), os auditores devem possuir formas adequadas para responder a determinadas distorções relevantes encontradas nas ações de auditoria e que podem introduzir a possibilidade de existência de fraudes.

Summers e Sweeney (1998) consideram que um auditor é capaz de obter garantia razoável, mas nunca absoluta, sobre os factos apurados. De acordo com Ohiokha e Akhalumeh (2013), o trabalho dos auditores deve fornecer garantias quantitativas e qualitativas à administração da empresa, pelo que não deve ser visto como uma obrigação, mas como algo importante e útil para a entidade, na medida em que permite melhorar o trabalho desempenhado em termos contabilísticos.

De acordo com Takiah e Zuraidah (2011), a qualidade do trabalho de auditoria depende do julgamento individual que o auditor faz, sendo assim muito afetada pela competência do indivíduo responsável pelo trabalho. Além disso, Bonner (1999) afirma que a competência do auditor depende de fatores como a sua habilidade, o seu nível de conhecimento e acima de tudo a sua experiência como auditor, dado que estes aspetos influenciam o desempenho. Esta situação é também descrita por Lenard (2003) e Kleinman e Palmon (2008). Libby e Frederick (1990) defendem que auditores com mais experiência apresentam melhores desempenhos em trabalhos de auditoria do que os auditores considerados pouco experientes. Além de todos os fatores descritos, outros autores como é o caso de Zimmerman e Risemberg (1997) referem que a qualidade do trabalho de auditoria depende ainda do esforço que os auditores incutem no trabalho desenvolvido, tanto no que se refere ao estudo das situações encontradas como na execução das tarefas adequadas à empresa em causa. Desta forma, os autores referem que o esforço apresenta três componentes, ou seja, incluem a duração do esforço, a intensidade do mesmo e a direção desse esforço. Phan (2009) confirma que o aumento do esforço influencia positivamente o desempenho do trabalho de auditoria.

Rainsbury et al (2009) consideram que a responsabilidade do auditor em detetar e relatar erros e irregularidades nos dados contabilísticos é enorme, bem como no que se refere à divulgação efetuada em termos de demonstrações financeiras. Bozkurt (2014) menciona que o trabalho do auditor apresenta diversas responsabilidades, as quais devem cumprir determinados princípios éticos e reger-se por regulamentos previamente estabelecidos. Mahzan et al (2012) considera que a responsabilidade dos auditores internos é maior no que se refere à deteção de irregularidades como fraudes, dado que a relação laboral exige-lhe que realize a supervisão e controlo de forma adequado, contribuindo para uma tomada de decisão correta e para uma gestão dos riscos adequado à situação da empresa.

Segundo Kalbers e Fogarty (1995), existe uma relação recíproca entre as atitudes dos auditores e os seus comportamentos. Assim o comportamento do auditor é um reflexo das atitudes destes profissionais e vice-versa. De acordo com os autores, deve existir a garantia que o trabalho realizado é de facto importante e deve existir confiança na prestação de contas levada a cabo. Além disso, é importante existir autonomia do trabalho desenvolvido, pelo que qualquer auditor deve ser encorajado a ter regras próprias, apesar do cumprimento dos princípios éticos e dos regulamentos existentes. Por outro lado, na profissão de auditor deve existir um

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relacionamento de confiança com os restantes colegas, dado que deve existir a consciencialização de que a melhor pessoa para avaliar o trabalho é outro colega da profissão e não colegas que desconheçam competências importantes.

Sawyer et al (2003) enfatiza que o papel dos auditores é cada vez mais importante dada a crescente complexidade do sistema governamental. Assim, sem o auditor é comum a existência de erros, uma vez que existem tarefas ambíguas e complexas. Dito de outra forma, caso não exista esta monitorização por parte dos auditores, a eficiência e eficácia das demonstrações financeiras podem ficar comprometidas.

Segundo Chan e Leung (2006), a auditoria é um processo que mede a consistência interna e externa dos valores da organização. Assim, Gary et al (2007) referem que o auditor encontra-se, muitas vezes, vinculado ao valor da empresa e incorpora no seu trabalho a abordagem das partes interessadas. Desta forma, o trabalho do auditor pode ter objetivos duplos, uma vez que se destina à responsabilização e transparência perante as partes interessadas, mas também se destina ao controlo interno, tendo em conta os objetivos éticos da entidade. O trabalho de auditoria apresenta valor, na medida em que permite que a empresa se reveja em termos financeiros e éticos, tomando consciência da imagem perante os investidores, clientes, funcionários e outros stakeholders.

Tanto Knechel (2016) como Simunic et al (2016) indicam que o trabalho de auditoria apenas tem qualidade quando as normas de auditoria utilizadas surgem adequadas e são corretamente aplicadas. De acordo com a ISA 200, o auditor tem a responsabilidade de realizar um trabalho de auditoria que garanta uma fiabilidade razoável relativamente às demonstrações financeiras, evitando que as mesmas possuam erros ou incoerências. A ISA 250 refere que o trabalho de auditoria deverá ter em conta a legislação atual para garantir a existência de fiabilidade e para evitar que as demonstrações financeiras tenham distorções materiais causadas pelo incumprimento da legislação.

Knechel (2016) indica que a competência e a independência do auditor estão relacionadas, sendo que quanto mais competente e independente for o auditor, maior será a qualidade do seu trabalho.

Segundo Windmoler (2000), a qualidade da auditoria é influenciada pelos regulamentos que regem a sua profissão, sendo que uma das estratégias para melhorar a qualidade do seu trabalho é reduzir o expectation gap.

De acordo com Costa (2014), as normas de auditoria salientam não só sobre as qualidades dos auditores mas também a necessidade de julgamento dos mesmos na elaboração do relatório do seu trabalho.

A ISA 250 enfatiza que a responsabilidade relativa ao cumprimento de leis e regulamentos cabe à gerência ou administração de uma empresa. Ainda assim, o auditor ao planear e executar o seu trabalho deve ter sempre em consideração a legislação em vigor. Uma vez que existe uma elevada complexidade e variabilidade em termos legais, existe sempre um determinado nível de risco associado à possibilidade de distorções nas demonstrações financeiras não serem detetadas pelo auditor, mesmo que o mesmo realize o seu trabalho da melhor forma que consegue.

Relativamente às disposições legais que têm um efeito direto na determinação de quantias e divulgações materiais nas demonstrações financeiras, a responsabilidade do auditor é obter prova suficiente e

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apropriada quanto ao cumprimento das disposições dessas leis. Relativamente a outras leis e regulamentos que não tenham efeito direto na determinação de quantias e divulgações das demonstrações financeiras, a responsabilidade do auditor é limitada à realização de procedimentos de auditoria específicos para ajudar a identificar casos de incumprimento das leis que possam ter efeitos materiais nas demonstrações financeiras, tal como consta na ISA 250.

Simunic et al (2016) demonstra que se não existir um grau de exigência adequado que penalize as infrações detetadas por parte dos auditores, a prestação de um serviço de qualidade é conseguida e as normas de auditoria implementadas podem não ser muito precisas.

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