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LABORATÓRIO

4.1.1 Aula teórica e as tecnologias da comunicação e informação

No que tange às aulas teóricas é possível afirmar que todas as práticas de ensino- aprendizagem emergem da exposição docente, que é desenvolvida fortemente na esfera da comunicação oral. O professor não utiliza os recursos das novas tecnologias nas aulas teóricas, em vez disso, ele toma, em apoio à oralidade, a escrita de tópicos e acréscimos às explicações no quadro de giz e a leitura de trechos de artigos científicos, de capítulos de livros ou do roteiro da aula apresentado com antecedência na homepage da disciplina.

A ausência dos recursos tecnológicos mais recentes nas aulas teóricas resulta mais das precárias condições de infra-estrutura a que está submetida a Unidade de ensino da UFBA, na qual se deu o estudo, e da limitação de carga horária destinada à apresentação dos conteúdos.

Na perspectiva docente, conforme depoimentos concedidos nas entrevistas realizadas, a grande tarefa a ser cumprida em aulas teóricas é a da apresentação dos modelos teóricos, suas evidências teóricas e empíricas, para o que o tempo é imprescindível, devendo ser bem empregado de modo a equilibrar exposição e discussão.

Na compreensão do professor, tais recursos são importantes para ilustrar e apoiar a demonstração de evidências teóricas e empíricas que constituem argumentos relevantes dos modelos teóricos que são apresentados nas aulas. Entretanto, ele também acredita que, se recursos como o computador, datashow e outras tecnologias dessa natureza fossem usadas nas aulas teóricas, a participação discente em sala de aula tenderia a uma audiência mais passiva.

Os grupos focais realizados com os alunos dos três semestres letivos reafirmaram esse entendimento quanto ao papel dos novos recursos tecnológicos no curso das aulas teóricas. Os estudantes entendem que os recursos tecnológicos, particularmente aqueles que privilegiam o audiovisual, desempenham um papel ilustrativo e redutor da monotonia da exposição concentrada na oralidade docente, mas também ponderaram sobre seus limites,

considerando que, por si só, o uso das tecnologias é insuficiente para motivar o aluno, que é mais afetado pela competência, dedicação e compromisso do professor.

Depoimentos de alguns alunos, extraídos dos grupos focais nos três semestres, ilustram essa compreensão discente: “[...] eu acho que não adianta querer usar só as tecnologias, há professores que não usam esse tipo de tecnologia, mas que motivam de outras formas.” (Bárbara).5

A maioria dos estudantes considerou que o uso da imagem e do som sempre é enriquecedor, mas que o professor deve ter cuidado para utilizá-los com coerência, guardando as relações estreitas com o conteúdo da disciplina e da aula, como destaca Luciene: “Esses recursos trazem contribuição, agora o professor tem que ter muito cuidado. Eu fico muito preocupada com isso, com a coerência dessa utilização.”

Para os discentes, os efeitos desses recursos no transcorrer das aulas teóricas são relativos, por dependerem muito da capacidade docente de dar significado a essa utilização.

[...] eu acho válido, mas eu acho que esse fato do impacto de usar esses recursos é muito relativo porque às vezes o professor não utiliza muitos recursos, mas ele sabe explicar o assunto, conduzir a aula de uma forma que a gente fixa o assunto. Por exemplo, nós tivemos uma professora substituta que utilizava os mesmos recursos que a professora efetiva e que não era tão bom. Eu não conseguia assimilar muita coisa com aquilo, mesmo tendo todos os recursos visuais que a professora utilizava! Então, depende muito de como a pessoa (o professor) conduz a utilização do material. [...] não adianta a gente só ter o material e não ter uma aula, a aula não ser bem conduzida, não fluir, não ser dinâmica, não possibilitar nossas participações, nossas perguntas. (Ely).

O emprego dos recursos deve ser subsidiário à ação competente do professor, evitando-se a passividade discente na aula, como foi evidenciado nas preocupações do docente e ressaltado nas seguintes falas discentes:

Dar uma aula em cima de slides com as luzes todas apagadas funciona exatamente ao contrário, todo mundo dorme [risos entre os demais participantes do grupo focal] e ficam lá as figuras passando, passando, passando. (Heitor).

Eu acho que esses recursos devem ser utilizados de forma bem pensada e bem planejada mesmo, pra que se não traga vídeos e todos fiquem dormindo [...] deve ser uma coisa que motive o estudante a pensar, a refletir e a querer interagir com aquilo. [...] E eu acho que tem que ter bastante cuidado na hora de utilizar os recursos e da forma mais correta. (Jade).

Além disso, os alunos concordam com o docente no que diz respeito à ocupação demasiada do tempo destinado à exposição e debate dos conteúdos com elementos de caráter

5 Todos os nomes dos participantes da amostra citados neste trabalho são fictícios, para assegurar o sigilo de suas

ilustrativo, como foi reafirmado pelo depoimento que tomou como exemplo a exibição de filmes no curso de uma aula:

Eu acho que não é necessário que seja assistido em aula, mas discutido em aula. [...] é uma perda de tempo você gastar uma aula inteira pra assistir um filme que você poderia ter assistido em casa, em grupo, no final de semana, e depois gastar mais uma aula inteira pra discutir. (Elga)

Outro aspecto destacado pelos estudantes acabou corroborando a idéia de que esses recursos têm um caráter mais periférico no sucesso das práticas de ensino-aprendizagem.

Com relação à música ou ao vídeo, eu acho que são instrumentos mais ilustrativos. [...] é bom, a gente aplica um pouco o conhecimento, mas o que realmente é relevante são as práticas, como as práticas de Psicologia Social que permitem a integração no momento em que a gente realmente faz a prática e vai a campo.[...] uma prática onde eu posso interagir mais mesmo [...] não simplesmente usar recursos na disciplina. Facilita o aprendizado, mas pra mim não tem uma significância maior, estarmos praticando é bem mais efetivo. (Liege).

Eu concordo porque independentemente, se você vai escrever no quadro ou na transparência, tudo depende da criatividade do professor, da forma como ele ta dinamizando ou como ele expõe! (Ângela).

[...] sobre os recursos, não tem muito a ver, não tem muito efeito, o quadro pra mim ta ‘beleza’. O uso de filmes e de outros recursos tem que ser mais pontual. Não substitui a aula e a discussão, são momentos pra ir além. [...] têm de ser usados dessa forma calculada. (Isis).

Eu acho muito mais importante a figura do professor, a forma como ele dá a aula. Alguns professores podem necessitar, é claro, mas, eu acho que o professor tem que se aprimorar porque ele vai me passar o assunto, vai fazer com que eu dialogue com ele. E não se limitar ao recurso que vai ilustrar a aula, deixar a aula mais bonitinha. Tem professores que usam mesmo pra passar o tempo [...] (Aline).

A utilização desses recursos deve ser assim, em nível de complementação [...] deve ser complementar, para ilustrar mesmo.” (Eviter).

O domínio teórico do professor, agregado ao seu compromisso e habilidade em expor e fomentar as discussões acerca dos conteúdos trabalhados em aula tem sido mais determinante para o processo do ensino-aprendizagem.

Os alunos consideraram que os novos recursos tecnológicos facilitam a compreensão porque é possível, por meio da imagem exibida, produzir conexões, associações, que posteriormente facilitarão o processo de rememoração do que foi exposto. Mas também ponderaram que, à medida que os alunos se acostumarem ao seu uso, esses recursos possivelmente deixarão de provocar tal efeito. O hábito e a tradição do uso também os conduzirão à monotonia.

Durante uma das reuniões semestrais de avaliação docente, promovida em 26 de março de 2003 junto aos alunos e da qual participou a turma T2, os discentes enfatizaram que consideram mais relevantes a competência e o zelo do docente em assegurar a apresentação do referencial teórico. Os estudantes ressaltaram a necessidade dos professores de disciplinas obrigatórias, que têm o objetivo de apresentar o referencial teórico da área do conhecimento relacionada ao curso, “[...] ofereçam acesso a todos os modelos teóricos, trabalhando com todas as linhas teóricas, sem distinção e sem concentrar a apresentação naquelas de suas preferências.” (Luciene).

Assim, a maior preocupação discente concentra-se na garantia de que lhes serão apresentados os modelos teóricos que formaram e sustentam sua especialidade, sem enfatizar apenas aqueles que o professor particularmente adota como princípio teórico mais coerente. 4.1.2 Fluxo de comunicação na aula teórica

Retomando a estrutura de comunicação empregada nas aulas teóricas, apresenta-se nesta subseção a Figura 17 que representa o fluxo de comunicação nas aulas teóricas. Nela se procurou destacar as ações de comunicação em fluxo, identificando as relações existentes entre cada tipo de ação e os períodos de atenção e descontração dos alunos. Para melhor visualização adotou-se cores específicas para indicar a relação desses períodos com cada tipo de ação comunicativa, conforme demonstra a legenda da Figura 17. As ações que levam a momentos de atenção concentrada e produção de anotações estão representadas pela cor laranja claro; aquelas que geram descontração e interrupção de anotações pelo amarelo, as que estimulam o crescimento do debate pelo laranja escuro, as que provocam certa dispersão com conversas paralelas pelo verde e aquelas causadoras de grande dispersão e crescimento das conversas paralelas não pertinentes à aula estão representadas pela cor branca.

Durante a exposição docente, constatou-se que o quadro de giz representa um ponto de apoio à exposição. Nele o professor dá início à aula teórica, registrando um roteiro esquemático sobre o conteúdo que será abordado.

Conforme demonstra a Figura 17, na qual se buscou representar o fluxo da comunicação nas aulas teóricas, pode-se considerar que o quadro de giz corresponde a um suporte à escrita de esclarecimento, já que nele o professor, à medida que discorre e amplia a exposição sobre cada tópico do esquema inicial, também promove acréscimos, produz esquemas e diagramações, registrando ainda indicações de autores e textos que compõem o referencial teórico acerca do tema em discussão.