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Total T1 T2 T3

Pertinentes à disciplina acompanhada e a disciplinas

vinculadas a outros docentes 61,5 72,2 51,4 61,1 Pertinentes apenas a outras disciplinas 23,9 19,4 32,1 19,4 Pertinentes apenas a disciplina acompanhada 2,8 0 2,7 5,6

Nenhuma retirada 11,9 8,3 13,5 13,9

Totais 100,0 100,0 100,0 100,0

Número de casos (109) (36) (37) (36)

Esse resultado indica o papel importante do docente no direcionamento do estudante para a construção de uma prática regular de consulta, leitura e estudo das fontes de informação científica, já que o professor acompanhado procurou reforçar as sugestões de leituras no transcorrer das atividades de ensino-aprendizagem. Há entre os estudantes uma forte expectativa de que o professor exerça a sua responsabilidade, exigindo e orientando quanto às leituras que eles devem realizar.

O docente é o mestre esperado, o mestre que domina um conhecimento especializado, que pode e tem o dever de apontar alternativas. Os estudantes esperam orientação para que possam construir seus próprios caminhos e sentem-se respeitados quando cursam uma disciplina cujo professor tenta cumprir esse papel. A atitude comprometida do docente envolve, motiva e compromete boa parcela dos estudantes.

A título de ilustração, pode-se destacar os efeitos de uma observação feita pelo professor em uma de suas aulas práticas, quando ressaltou o fato de que a pesquisa científica se manifesta no mundo relacional, associando-a a leitura que se realiza quando se está tentando estudar, sem a preocupação de memorizar. Ele procurou também alertar os alunos de que na leitura busca-se relacionar o que está sendo lido com os conhecimentos prévios, com outras leituras já feitas, com suas experiências vividas, o mesmo ocorrendo na execução de uma pesquisa científica.

Ao ouvir essa informação o aluno nota o cuidado e ao mesmo tempo a exigência do professor em que façam um trabalho representativo do esforço concreto do aprendizado por meio de práticas de construção do conhecimento científico que colocam o sujeito delas na experiência complexa de refletir sobre os níveis e intensidade das relações entre os objetos de estudo, a pesquisa e a leitura.

A interpretação dessa mensagem, ao tempo que convoca o estudante a assumir o lugar desafiador de sujeito responsável pela construção de seu próprio conhecimento, também fortalece o afeto para com o trabalho em curso e os laços de cumplicidade com o docente no compromisso de desenvolver o campo do conhecimento científico no qual escolheram atuar.

Posteriormente a esse evento, na aula prática de 19 de fevereiro de 2003 do mesmo semestre letivo, obteve-se um exemplo concreto da reação de compromisso, envolvimento e motivação discente frente a esse fazer docente comprometido com o trabalho da criação.

Ao orientar a prática de pesquisa de um dos grupos, o professor analisou os auto- relatos dos respondentes do questionário aplicado pelo grupo e percebeu que havia problemas, mas ponderou que, na condição de exercício pedagógico, o grupo não precisaria refazer o instrumento e voltar a aplicá-lo. Até mesmo em função do tempo reduzido para tanto, poderiam manter o trabalho como estava, fazendo uma ressalva sobre o problema na parte da avaliação dos dados. Ao mesmo tempo o professor também alertou que, neste caso, o grupo estaria impedido de publicar os resultados e as conclusões da pesquisa.

Surpresa feliz foi a reação do grupo que imediatamente deliberou por refazer o trabalho, mesmo no tempo reduzido de que dispunha, justificando que se perderia o estímulo de concluir o trabalho se ele passasse a representar apenas um exercício de aprendizagem.

Isso sugere que as atividades desenvolvidas pelos estudantes na vida acadêmica, que estão sempre relacionadas à leitura e à pesquisa, dependem também de um processo de construção que decorre da ação comprometida do docente e da instituição que, por seu lado, precisa oferecer as condições de logística e de infra-estrutura necessárias.

As leituras realizadas pelo estudante no contexto da educação formal, em nível universitário, estão estreitamente vinculadas ao ato de estudar, o que requer a construção de práticas mobilizadoras de um fazer discente mais comprometido com sua própria formação acadêmica e profissional.

O elenco das atividades propostas e desenvolvidas na disciplina pode ter favorecido a freqüência de leituras de textos cujos conteúdos são inerentes a ela, o que motivou a realização pelos estudantes de retiradas de livros por empréstimos junto à Biblioteca.

Ao analisar a Tabela 11 verifica-se que 75,7% dos estudantes que participaram da amostra efetuaram a leitura de todos os textos que estavam em debate no fórum de discussão, representando um percentual maior do que daqueles que leram alguns (62,9%) ou todos (34,3%) os textos indicados na bibliografia básica. Assim, pode-se perceber que possivelmente a oferta de atividades de criação, como o fórum, que inevitavelmente estão

associadas à leitura, talvez represente mais uma ação favorecedora da prática da leitura entre os discentes.

Tabela 11

Percentagens dos estudantes que realizaram leituras relacionadas à disciplina Tipos de Leituras

%

Semestre Letivo p

Total T2 T3

De alguns textos indicados na bibliografia básica 62,9 69,4 55,9 De todos os textos indicados na bibliografia básica 34,3 25,0 44,1 De todos os textos do fórum de discussão 75,7 91,7 58,8 ***

Dos textos oferecidos por meio dos links constantes nos roteiros de aula

na homepage da disciplina 18,6 25,0 11,8

De outros textos indicados no Informativo da Biblioteca da FFCH na

homepage da disciplina 5,7 5,6 5,9

Dos textos citados pelo professor em sala de aula 25,7 25,0 26,5

Número de casos (70) (36) (34)

*** p ≤ 0,001

Interessante observar, no que tange à leitura dos textos discutidos no fórum, que ocorreu uma diferença significativa (p ≤ 0,001) entre as turmas T2 (91,7%) e T3 (58,8%). Além disso, destaca-se que somente 5,7% dos estudantes fizeram leituras de outros textos identificados a partir das indicações do Informativo da Biblioteca na homepage da disciplina. Do mesmo modo verifica-se que, dos 70 estudantes que responderam ao questionário apenas 18,6% informaram ter lido os textos disponíveis por meio dos links constantes nos roteiros de aulas que integram a homepage.

Esse resultado parece indicar o comportamento seletivo dos estudantes quanto às prioridades de leitura num contexto de grande pressão no cumprimento das atividades curriculares.

As leituras realizadas estão centradas na bibliografia básica e nas atividades de reflexão e debate, desenvolvidas no processo de ensino-aprendizagem como práticas acadêmicas orientadas pelas disciplinas, estando em menor escala sob o arbítrio discente.

Assim, o debate acerca dos textos científicos como uma prática instalada pelo fórum de discussão na homepage da disciplina se revelou como uma atividade que potencialmente poderá vir a promover a expansão da leitura na perspectiva do exercício da reflexão crítica sobre os conhecimentos trabalhados em sala de aula.

Entre os estudantes, percebe-se o confronto entre o dever e o poder, entre o dever ler e o poder ler. Cada manifestação, cada depoimento registrado nesta pesquisa foi tornando clara uma forte consciência sobre a importância da leitura e uma grande frustração frente às

limitações do saber administrar bem o tempo destinado a tantos afazeres acadêmicos, à dependência da orientação docente, como também frente ao sentimento de impotência para alterar o quadro de dificuldades da biblioteca e de insuficiência de laboratórios.

Os textos são fundamentais. O texto seria a base de tudo porque o professor vem na sala explicar, o que é excelente, mas é o primeiro passo, porque geralmente a gente vem primeiro pra aula e só depois lê. A aula é ótima porque é uma introdução, mas só ouvir a aula é muito pouco, você precisa ter a fundamentação do texto pra se aprofundar, ao criar conhecimento é muito importante. (Helena).

Eu acho que o aprendizado é ativo também, então você não pode ficar totalmente dependente do professor. [...] Acho que a gente é que tem que partir pra buscar mais textos, buscar mais outras coisas. Raramente uma pessoa lê outros textos que não sejam aqueles que estão na ‘xerox’ [referindo-se ao setor de reprografia] ou que o professor indicou. [...] A gente está numa universidade, agente está se formando aqui. A gente não está aqui só pra ouvir, ouvir, ouvir. A gente tem também que falar, pesquisar! (Eneida).

Aqueles alunos que lêem o texto antes da aula, sentem que se prepararam melhor para uma audiência produtiva e revelaram ter percebido que a maioria dos questionamentos feitos em sala de aula equivale a pedidos de esclarecimentos ao professor, o que poderia ser minimizado com a leitura prévia dos textos.

Com a leitura dos textos dava pra esclarecer mais [...] a gente dá um peso muito grande pra sala de aula, como se a gente tivesse que compreender tudo na sala de aula. (Clara).

Na aula, prá quem não leu o texto, muita informação fica solta. Eu acho que o texto caberia aí pra organizar as informações porque você tem muita informação, você aprende e tal, mas fica tudo solto. Quando você lê o texto, você organiza com o auxílio do texto, você consegue organizar, ficando mais fácil fazer pontes [associações]. (Áurea).

Acho que não é só a organização, ocorre também o aprofundamento. Os textos são muito mais detalhados do que as informações apresentadas na aula. (Sara).

Mas outra parcela dos alunos também considera que a leitura parece mais produtiva quando realizada posteriormente à aula porque a leitura dos textos permite a organização e o encadeamento das informações que o aluno acessa em sala de aula e o conseqüente aprofundamento do conhecimento.

Quando você lê o texto depois da aula, parece que você aproveita mais o texto. Você lê melhor, vai lendo, vai lendo e vai vendo aquilo que o professor falou e vai organizando as informações. Essa também é a função do roteiro [fazendo uma associação direta com uma fonte de informação construída pelo professor da disciplina acompanhada]. (Fátima).

É a questão de beber na fonte. Você só aprende realmente se você for lá na fonte, até mesmo porque você precisa ter a sua própria opinião, ter a sua própria consciência crítica e você só vai conseguir se for ao livro. (Jade).

A maioria dos alunos considera fundamental e extremamente necessária a leitura constante dos textos científicos e percebe com nitidez a necessidade de assumirem uma postura mais ativa e autônoma no desenvolvimento das práticas de leitura e estudo, chegando a reforçar que cabe ao aluno o esforço para realizar suas leituras para o aprofundamento do debate acadêmico.

A gente falou do professor, da Internet etc., mas também tem o comprometimento do aluno. Pra fazer realmente um debate, você não pode baseá-lo apenas nas suas opiniões. Mas, se você quer discutir, fundamentalmente em ciência, você tem que ter um caminho teórico e aí a questão do livro, a questão do acesso aos textos é fundamental. Não adianta você criticar com um ‘esboço’ que você tenha da idéia, você tem que criticar a idéia e pra isso você tem que ler realmente aquilo que o professor ta expondo, o teórico que ele ta expondo. A segunda coisa é que você pode ir além, você pode trazer novas idéias, outras concepções. Enfim, esse acompanhamento do aluno com o seu próprio aprendizado, com o seu próprio desenvolvimento é fundamental. (Isis).

Uma coisa que lá em casa, meus pais falam muito é: “Você vai pra faculdade, você não tem que ficar estudando só os textos que o professor passa porque o que vai te diferenciar, o que vai formar profissionais diferentes é o que cada um vai ter em termos de aptidão. Então você tem de descobrir o que você gosta [dentro da especialidade] pra você se aprofundar naquilo. O professor dá o ‘pontapé’ inicial e você tem de ir procurando. [...] Ele [o professor] tem que orientar e a gente ia ler, a gente ia buscar em outro lugar ao invés de chegar e deixar tudo na própria mão do professor. (Bárbara).

[...] os textos dão um aporte muito melhor prá você perceber outras visões, eu acho que a utilização do texto dentro da universidade é fundamental. (Luciene).

[...] a gente tem ainda uma visão um pouco paternalista da relação professor-aluno, isso coloca o professor numa posição de dar tudo e a gente de só receber. Mas também é preciso levar em consideração que temos de pegar sete matérias no semestre com várias atividades [...] A gente não tem condições de desenvolver uma relação aluno-aluno, aluno-professor [referindo-se à autonomia e à pró-atividade do aluno]. (Gabriel).

Os estudantes têm um ideal de práticas de leitura e de postura mais ativa que deveriam assumir com maior freqüência, tanto antes da realização das aulas, para construírem uma visão prévia acerca dos temas que nelas serão tratados, para favorecer o debate mais fecundo em sala de aula, quanto após as aulas para aprofundamento, organização e elaboração das informações acessadas na aula.

É importante pra você ter base pra chegar na aula sabendo o assunto, [...] pra você compreender e complementar, depois, em casa, o assunto exposto na aula. É importante até para o crescimento cultural [...] É importante que você tenha uma visão ampla das coisas pra que ao discutir você não esteja restrito a um único ponto de vista. (Ely).

A leitura dá fundamentação teórica, o que é importante. (Fernando).

Se você não tiver um mínimo de leitura, você corre o risco de entrar e sair ‘analfabeto’ da faculdade. (Luiz).

Além disso, a leitura também é uma ajuda pra redigir melhor. Quanto mais você lê, mais melhora seu estudo. (Adriana).

Porém, os alunos mantêm a ponderação de que ainda assim o papel do professor permanece relevante nesse processo, também na medida em que cabe a ele, pelo domínio que detém do conhecimento tratado, orientar o debate em sala de modo que associações pertinentes sejam efetivadas entre o conteúdo da aula, das manifestações discentes e dos textos lidos.

Mas uma coisa é você pegar o texto e poder discutir para tirar as dúvidas que surgiram. Ler o texto e chegar na aula e a discussão correr para um ‘canto’ totalmente diferente e você não poder amarrar com o que trata o texto. Isso é complicado. [...] O professor tem que fazer uma ponte [auxiliar nas associações]. (Fernando).

Eu acho que o texto dá a base teórica pra você discutir. Mas, além de discutir a teoria que ele apresenta, é preciso discutir também como se daria na prática essa teoria, o que significa que o aluno precisa fazer essa ‘ponte’ com a ajuda do professor. Eu acho que o aluno não tem capacidade de fazer tudo sozinho. O professor tem que estar ali para ajudar o aluno a fazer esse tipo de coisa. (Débora). A exigência docente acerca da leitura também é considerada uma conduta necessária à aplicação discente, frente à sobrecarga de atividades a que estão submetidos, o que foi revelado tanto pelos estudantes que integraram o estudo piloto desta pesquisa, quanto pelos que participaram desta amostra.

A questão é que se a gente não tem a exigência pra ler os textos, a gente vai dando prioridade àquilo que está mais próximo e que é mais urgente [...] Então, não tem jeito, o que não é exigido fica pra trás. O que não for cobrado vai ficar pra trás. Essa é a verdade! (Débora).

Assim, os alunos destacaram o papel orientador e motivador da leitura que o professor desempenha, sem excluir a necessidade de uma posição mais autônoma do corpo discente quanto ao ato de estudar e às práticas de leitura.

Outro aspecto que se caracteriza como uma barreira à construção de práticas permanentes e proficientes de leitura é a ausência de ações pedagógicas integradas aos ambientes informacionais e consideradas na distribuição da carga horária dos cursos.

A maioria dos estudantes informou que são curtos os períodos nos quais eles têm a possibilidade de efetuar leituras prévias às aulas em todas as disciplinas, admitindo que lêem